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Project Union 9. 7. 2020

Project: Vogue Union | Luís Carvalho, entre o clássico e o casual

by Mónica Bozinoski

 

Desde 2013, ano em que fundou a sua marca homónima, Luís Carvalho tem somado um rol de distinções, clientes e peças que desconstroem o óbvio para construir o sonho que mulheres e homens querem vestir. 

©Luís Carvalho fotografado por Branislav Simoncik para a GQ Portugal

“LUIS CARVALHO wear dreams.” Quando perguntamos a Luís Carvalho que slogan seria a sua marca se tivesse que ser um, é com estas palavras que o designer português, natural de Vizela, responde. Vestir sonhos parece a definição certa para as peças de um criador que, de estação para estação, faz mulheres e homens sonharem mais alto com as suas coleções, todas elas baseadas na alfaiataria, na atenção ao pormenor e no jogo entre construção/desconstrução de silhuetas femininas e masculinas. O resultado é a fluidez invejável, o encontro entre o clássico e o casual, o toque irreverente, e as misturas e contrastes que tão bem reconhecemos e que frequentemente vemos em nomes como Raquel Strada, Inês Castel-Branco, Tânia Dioespirro, Carolina Loureiro, Conan Osíris e Rui Maria Pêgo, para nomear apenas alguns. 

Um nome que salta imediatamente à vista quando se fala em Moda nacional, Luís Carvalho conta à Vogue que tudo começou em 2002, quando teve que decidir a área que queria seguir. “Comecei por tirar o curso técnico de estilismo na Escola Profissional Cenatex, em Guimarães, e depois licenciei-me em Design de Moda e Têxtil na Escola Superior de Artes Aplicadas do IPCB”, escreve-nos por e-mail. Fez um estágio com Filipe Faísca, trabalhou com assistente de Ricardo Preto e foi designer na Salsa Jeans, onde permaneceu dois anos e meio. O grande ponto de viragem viria em 2013, quando tomou a decisão de deixar a Salsa. “Parei por uns tempos para decidir o que realmente queria fazer, se era seguir o sonho que sempre tive de construir a minha marca em nome próprio ou continuar a trabalhar noutras empresas na área da Moda.” A primeira opção revelou-se o caminho a seguir e, nesse mesmo ano, começou a marca LUIS CARVALHO, desenvolvendo uma coleção-cápsula outono/inverno para apresentar a sua estética ao público. Outubro de 2013 marcou o momento em que começou a apresentar na ModaLisboa, na plataforma LAB. Dois anos depois, como o próprio conta, passou a apresentar na “passerelle principal”, e é aí que, desde então e em todas as estações, tem mostrado ao público as suas coleções. As oportunidades além-fronteiras e as distinções do país a que chama casa não tardaram a chegar: durante o percurso da marca, Luís Carvalho apresentou duas vezes na Semana de Moda de Paris, e uma vez em Berlim, e arrecadou o prémio GQ Men of the Year na categoria de Designer de Moda e o Globo de Ouro para Melhor Estilista, ambos em 2016. 


“Não é uma área fácil em Portugal. Muitas vezes torna-se difícil sustentar uma marca de moda em Portugal.”

Com sete anos de marca no bolso, o criador português não esconde que desistir e mudar de área foi um pensamento que lhe passou pela cabeça muitas vezes. “Mesmo quando comecei, muitas vezes ponderei se tomei a decisão certa”, confessa. “Não é uma área fácil em Portugal. Muitas vezes torna-se difícil sustentar uma marca de moda em Portugal. E claro que isso nos leva a ponderar se compensa o trabalho todo relativamente ao retorno.” Apesar de fazer moda, sobreviver em moda e prosperar em moda ser um desafio diário, e um que em tantos momentos levanta mais questões do que respostas, Luís Carvalho continua a ver os altos no meio dos baixos. “Acho que penso nisso todos os dias e sinto que isto ‘não é um trabalho’, no sentido da obrigação. Faço o que gosto e me dá prazer”, diz o designer quando lhe perguntamos sobre todas as alturas em que a Moda se revelou a decisão certa e o trabalho valeu realmente a pena. “Mas sem dúvida que penso mais nisso sempre que estou no processo de desenvolver uma coleção, quando faço um desfile, quando vejo a emoção que alguém tem a usar uma peça minha e, claro, quando vejo o meu trabalho reconhecido de certa forma.” Por falar em coleções: se pudesse voltar atrás e refazer alguma, fá-lo-ia? “Acho que no final de todas as coleções, se pudesse, alterava muita coisa. Acho que nunca ficamos satisfeitos a 100% e como criativo estou constantemente a ter ideias e com vontade de fazer coisas novas, ou simplesmente porque há coisas que por vezes não funcionam como eu queria que funcionasse.” 

Por falar em coleções: o que é que Luís Carvalho nos pode contar sobre a sua primavera/verão 2020, apresentada na ModaLisboa em outubro do ano passado e já disponível na loja online da marca? “É uma coleção com referências nos anos 20 do século XX, onde houve uma reinterpretação das silhuetas e alguns dos materiais usados na altura”, diz o designer, que se inspirou também na emancipação da mulher, um ponto importante da década que ajudou a definir os looks e alguns materiais. O resultado, como o criador o define, foi “um mix entre peças superfemininas com peças mais masculinas e clássicas” e uma coleção onde os folhos, as franjas, os laços e os brilhos coexistiram com silhuetas retas, fluidas e oversized. Sobre o outono/inverno 2020, que entretanto chegará ao guarda-roupa do público, Luís Carvalho fala sobre uma das coleções que mais gosto lhe deu fazer. “Talvez seja uma das minhas preferidas”, confessa. “A inspiração principal foi as imagens gráficas e mistura de cores feita através de um trabalho de patchwork. É uma coleção mais cool, com silhuetas mais oversize e um mix de clássico/desportivo.”

©Luís Carvalho, outono/inverno 2019

“O casaco é a peça que mais gosto de trabalhar, é essencial em todas as minhas coleções (...)” 

Misturar referências e inspirações, encontrar pormenores inesperados, trabalhar silhuetas e materiais com um twist novo: é assim que olhamos para o trabalho exímio que Luís Carvalho tem vindo a apresentar ao longos dos seus sete anos de marca. E é por isso que não ficamos surpreendidos com a resposta que o designernos dá quando lhe perguntamos sobre a peça que melhor define o seu ADN. “É muito difícil resumir o ADN da marca a uma peça só, mas vou mencionar uma, o trench coat unissexo bege/xadrez da coleção FW19.” O casaco, como diz o criador, “é a peça que mais gosto de trabalhar, é essencial em todas as minhas coleções” – e este trench em particular, refere, no que aos detalhes e ao corte diz respeito, é um reflexo da linguagem que trabalha nas suas peças. Para além disso, aponta Luís Carvalho, “é uma peça unissexo, que é uma coisa que cada vez mais faz parte das minhas coleções.”

Para o designer português, a união nesta indústria não é uma utopia, mas sim algo que é possível – e algo que, na opinião de Luís, se sente cada vez mais. E porque o Project: Vogue UNION que aqui nos une traz consigo o trabalho de equipa, a colaboração, a irmandade, não podíamos deixar de perguntar ao designer: se fizesse uma colaboração com um designer português, com qual seria? “Vou mencionar três, porque penso que conseguiria fazer projetos interessantes e bem distintos com cada um deles”, diz Luís. “Luís Buchinho, porque sempre foi uma referência para mim enquanto designer; Ricardo Andrez, por ser uma estética completamente diferente da minha, podendo dar um resultado final superinteressante; e Filipe Augusto, por ser um jovem designer e porque gosto muito do trabalho dele.” Podemos dizer que ficamos ansiosamente à espera?  

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