No Comments issue | Tecer Comentários

12 Nov 2021
By Sara Andrade

Algo, que, numa edição no comments se traduz na teia que se faz para criar as malhas mais amigas do ambiente, os tecidos com menor pegada ecológico e o conforto que não esgota os recursos naturais do planeta.

Click here for the English Version.

Algo, que, numa edição no comments se traduz na teia que se faz para criar as malhas mais amigas do ambiente, os tecidos com menor pegada ecológico e o conforto que não esgota os recursos naturais do planeta. Quando o tema é sustentabilidade, não é preciso dizer muito para se sentir a diferença: a da descontração em usar materiais que não pesam nem no corpo, nem na consciência. Como esta seleção de fibras e tecidos que nascem do desperdício de matérias primais tão inusitadas no vestuário como maçãs ou algas ou ananases. Por Sara Andrade.

Bananatex

O nome não engana: derivado das fibras da planta da banana, uma espécie de bananeira chamada Abacá, o tecido é um género de tela durável e maleável que responde às exigências da consciência ambiental, económica e sustentabilidade social, uma vez que, além de ser uma alternativa natural e biodegradável aos homólogos sintéticos (que incorporam plástico), é cultivado num ecossistema de florestação sustentável que dispensa água adicional e tratamentos químicos, contribuindo ainda para a reflorestação de zonas devastadas por plantações massificadas e incrementando a prosperidade da mão-de-obra local. O processo passa por desbastar as folhas da planta Abacá (que depois fertilizam o solo) e separar a camada exterior do tronco/caule para aproveitamento das suas fibras primárias (o interior contém fibras secundárias e a polpa da planta). As fibras são depois “penteadas” para separá-las e ficam a secar ao ar antes de serem divididas por tonalidade (as mais claras são mais raras e, por isso, mais dispendiosas). O desenvolvimento do material foi pensado pela empresa suíça QWSTION, fundada em 2008 para lançar-se na pesquisa de materiais renováveis com o intuito de substituir os têxteis sintéticos (e que acabou por incluir esta descoberta numa variedade de produtos próprios). Além de todas as vantagens supracitadas, a companhia quis responder a critérios de usabilidade, ou seja, que fosse ainda mais agradável de vestir do que, por exemplo, o algodão, ao mesmo tempo diminuindo a sua pegada ecológica, por comparação. Disponível numa variedade de cores, o Bananatex pode ainda ser impermeabilizado com uma camada de cera de abelha.

Econyl

É ecológico, sim, e é nylon, mas acima de tudo é o fechar do círculo a funcionar em pleno: o Econyl não é mais que nylon regenerado, criado a partir do desperdício dessa mesma fibra (mas não só). Infinitamente reciclável, a nova fibra nasce dos resíduos de nylon anteriormente usado e descartado em diferentes produtos, como carpetes, redes de pesca, sobras de tecidos, plástico industrial… A sua transformação começa com a recuperação dos materiais supracitados que, de outra forma, seriam apenas poluição ambiental, depois regenerados e purificados radicalmente até à sua essência original - o que significa que este nylon é igual ao seu correspondente de origem fóssil, só que a sua fonte é mais sustentável. O resultado é transformado em fibras e polímeros para alimentar as diferentes indústrias têxteis para que daí possam gerar novos produtos (que fecham o círculo do desperdício) para consumo. A responsável pelo desenvolvimento da fibra registada é a Aquafil, empresa especializada em fibras sintéticas, com os olhos postos na sustentabilidade.

Mycelium

“Crescem que nem cogumelos” é sinónimo de abundância, por isso, alguém tinha mesmo de se lembrar de criar um têxtil a partir destes fungos - ou melhor, da rede que os liga subterraneamente. Como a americana MycoWorks, empresa que aproveita essa estrutura das raízes de cogumelos, o micélio, para criar um material semelhante à pele, mas com um impacto largamente menor no ambiente. Esta parte vegetativa do fungo - responsável por carregar nutrientes entre espécies e ainda por processos de simbiose entre elas -, não é mais que uma massa de ramificação formada por um conjunto de células emaranhadas e é partir daqui que este tapete espesso pode ser tratado para se assemelhar a cabedal. O processo tem uma pegada ecológica diminuta porque, usando a raiz e não o cogumelo em si, pode ser realizado em qualquer lugar recorrendo a pouco: não requer luz, converte os resíduos e armazena carbono por acumulação no fungo em crescimento. Além disso, ainda que o processo de manufatura possa ser moroso, será muito inferior ao tempo de crescimento do gado. Já com aplicações e desenvolvimento em algumas peças do quotidiano, o material ainda tem um caminho a percorrer até chegar às montras, mas a perspetiva de conseguir um PVP competitivo, bem como a capacidade de rivalizar em durabilidade e aspeto ao homólogo animal, faz dele um têxtil a ter debaixo de olho. 

SeaCell

São as algas marinhas que lhe servem de componente principal, nesta fibra sustentável que promete não meter água. Já usado em diversos produtos (talvez nem faça ideia, mas pode até ter uma peça em casa com uma percentagem de Seacell na sua composição), o material ecológico - cumpre todas as práticas para tal certificação no seu processo de produção - é composto por fios derivados de algas marinhas depois misturados com outros componentes, como algodão, para criar o têxtil final. Esta fibra de celulose é fabricada através da mistura do Lyocell (criado a partir da polpa de madeira) com extratos de algas marinhas, sendo que existe uma versão SeaCell Pure, que não interfere com os efeitos e propriedades das algas, e o Active, quando a fibra é associada à prata. Diz que o tecido tem propriedades medicinais (e que ali permanecem mesmo após lavagens), como a proteção da pele e libertação de princípios ativos que são benéficos para a renovação celular e cuidado da tez, e que lhe é adicionado prata para reforçar a ação antimicrobiana numa malha que é macia e flexível, além de leve, por isso muito procurada para vestuário de criança, desportivo (a sua estrutura porosa é particularmente apelativa porque facilita a absorção e libertação de humidade para o exterior), e ainda roupa interior. 

Pele de Maçã

AppleLeather, a marca fundada pelo Scays Group, é a etiqueta responsável por esta pele de maçã, uma alternativa ao cabedal sintético que possibilita uma variedade de texturas, ao mesmo tempo que dispensa o plástico e o peso na consciência: ao reaproveitar o desperdício do processo de transformação industrial das maçãs para consumo, esta opção significa reciclar resíduos que, de outra forma, seriam lixo, ao mesmo tempo que reduz as emissões e consumo energético na produção e substitui a necessidade de produzir do zero. Como? Ao reaproveitar a pele, o caule e as fibras da maçã descartadas pelas fábricas - depois desidratados, pulverizados e misturados com um plástico biodegradável feito a partir da proteína do leite -, significando que, neste reaproveitamento, se dispensam pesticidas e o desperdício de água. De acordo com o propósito final - sapatos, carteiras, roupa, mobiliário… -, é depois decidida a densidade e grossura do material. Os diferentes tipos de pele de maçã adequam-se de formas distintas a consumíveis distintos, por isso, um género deste “cabedal” pode ser melhor para calçado, por exemplo, do que outro. 

Piñatex

Promete ser a última piña colada no deserto, este material têxtil feito a partir do ananás - confesse, já estava a adivinhar que o abacaxi estava por detrás disto. Este couro vegetal reaproveita um subproduto das colheitas deste fruto - ou seja, o desperdício do seu cultivo - para transformá-lo numa alternativa menos impactante para o ambiente que a versão animal. É do caule e das folhas que a fibra é extraída, através de um processo chamado descasque, levado a cabo pelas comunidades agrícolas que o projeto apoia. De acordo com a designer espanhola Carmen Hijosa - o nome por detrás da descoberta, bem como fundadora e Diretora Criativa e de Inovação da Ananas Anam, empresa que desenvolveu e registou a fibra -, esta espécie semelhante ao cabedal pode ser tratada e tingida de forma a criar diferentes texturas e multiplicar as possibilidades de aplicação a diferentes áreas - da Moda ao Lifestyle -, ao mesmo tempo que subtrai no seu impacto ambiental (além de reciclar desperdício, emprega trabalhadores locais e utiliza menos recursos do planeta), tudo sem comprometer a qualidade do tecido final. 

Pyratex

Uma palavra que é sinónimo de uma multiplicidade de fibras e origens: o que interessa saber é que parte de uma fonte vegetal que depois é transformada, através de um processo de produção patenteado, numa fibra mais amiga do ambiente - e que pode até ter diferentes propriedades benéficas para a pele, como retenção de calor e proteção UV. Consoante a origem, o produto final adquire as propriedades do recurso biológico que lhe serve de génese para chegar ao mercado com diferentes características - por exemplo, se o bambu for a sua matéria prima, o têxtil final, além do conforto, usufruirá de propriedades termo-reguladoras, anti-transpirantes e anti-bacterianas. Desde algas e urtigas ao reaproveitamento de algodão e desperdício agrícola, Pyratex, mais do que a fibra, é o processo pelo qual se criam malhas amigas do ambiente, com aplicação até na área da cosmética. 

Originalmente publicada na edição No Comments da Vogue Portugal, de novembro 2021. Todos os crétidos e imagens na versão em papel.

Sara Andrade By Sara Andrade

Relacionados


Notícias   Guestlist  

YSL Loveshine brilha na capital espanhola

19 Apr 2024

Estilo   Moda   Tendências  

Tendências do guarda-roupa das nossas mães e avós que regressam na primavera/verão de 2024

19 Apr 2024

Atualidade   Eventos   Notícias  

Tudo o que deve saber sobre a Met Gala de 2024: Tema, anfitriões e muito mais

18 Apr 2024

Atualidade   Estilo   Moda  

E o dress code da Met Gala de 2024 é...

18 Apr 2024