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Eu não existo longe de você

13 Dec 2019
By Rui Matos

Servimo-nos das palavras de Adriana Calcanhoto para relembrar o que por esta altura já devia ser óbvio: há objetos que não existem (mesmo) longe uns dos outros. Separá-los seria um crime punível pelas leis da decoração, da arte e do design.

Servimo-nos das palavras de Adriana Calcanhoto para relembrar o que por esta altura já devia ser óbvio: há objetos que não existem (mesmo) longe uns dos outros. Separá-los seria um crime punível pelas leis da decoração, da arte e do design.

Passamos grande parte do nosso dia com a cabeça inclinada, e não estamos sequer a cumprimentar nenhum membro da família real – estamos, isso sim, presos ao magnetismo dos vários aparelhos eletrónicos que nos rodeiam. É assim em todo o lado. Em casa. No carro. A caminho do trabalho. Sentados à secretária. À hora de almoço. Quantas vezes nos esquecemos de observar mais do que o ecrã que está à nossa frente ou o feed de Instagram que percorremos incessantemente? O jornalista que vos escreve, por exemplo, é grande entusiasta de toda a tecnologia que o novo milénio nos proporciona. Como tal, assume desde já que perde, muitas vezes, alguns detalhes do seu quotidiano. Viajar pode ser a melhor solução. As ruas por onde nunca andamos deixam qualquer um em alerta e com um défice de atenção superior ao do nosso dia a dia. Numa recente viagem, o teste foi efetuado: o smartphone que sempre me acompanha ficou no bolso, e a atenção redobrada alertou-me para questões que normalmente (me) passam ao lado: se as jarras não tivessem sido inventadas, onde é que íamos pôr as flores de plástico que compramos nas grandes superfícies comerciais? Será que tínhamos de continuar a recorrer a vasos de barro? 

As nossas desculpas se, por momentos, pairou no ar a ideia de que este seria um texto de reflexão sobre o impacto da tecnologia nos seres humanos. Não é. Estamos aqui para lhe falar de objetos que não vivem uns sem os outros – um assunto que merece a mesma atenção. Porque, matemáticas e clichês à parte, há de facto coisas que só fazem sentido aos pares; a dois. Juntas são invencíveis, sozinhas são precárias como um bilhete premiado que alguém deixou no fundo de um armário. E por falar em armários… Onde é que pousávamos os livros, se não tivéssemos estantes? Onde é que pendurávamos a roupa, se não fossem os cabides? Onde é que ligávamos uma lâmpada, se não existissem candeeiros? Onde é que deixávamos as pratas, se não tivéssemos recebido, de herança, um maravilhoso faqueiro? É verdade. O homem não é o único animal que precisa, e procura, uma alma gémea. Os objetos que meticulosamente escolhemos para adornar as nossas casas também precisam de um companheiro. De um (muito) fiel amigo. Mas atenção: não confundir a relação que uma lâmpada tem com um candeeiro com aquela relação, complicada, entre um napperon e uma televisão – a caixinha mágica levou demasiado a sério o complexo de magreza e tornou-se tão estreita que agora nem há espaço para o pequeno e inofensivo napperon. A bem dizer, nem para o smartphone.

 

Artigo originalmente publicado na edição de novembro de 2019 da Vogue Portugal.

Rui Matos By Rui Matos

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