Opinião   Palavra da Vogue  

#VogueBookClub | Virginia Woolf, um génio artístico

25 Jan 2022
By Pedro Vasconcelos

Esta semana, o #VogueBookClub celebra Virginia Woolf, uma das mais poderosas artistas e feministas que o mundo já encontrou.

Esta semana, o #VogueBookClub celebra Virginia Woolf, uma das mais poderosas artistas e feministas que o mundo já encontrou.

Virginia Woolf, circa 1920 © Mondadori via Getty Images
Virginia Woolf, circa 1920 © Mondadori via Getty Images

Neste 25 de Janeiro celebra-se o 140º aniversário do nascimento de Virginia Woolf. A escritora britânica é considerada uma das maiores vozes da literatura do século XX, e uma das predecessoras para o modernismo literário. Através do seu estilo profundamente experimental Woolf concretizava críticas sagazes à sociedade que a rodeava que era fortemente caracterizada pela constante opressão. Considerada uma das mais importantes vozes feministas da sua época, a escritora substanciou a sua abordagem artística a favor de comentários feministas inéditos à época. 

Nasce Virginia Stephen em 1882. Filha de pais declaradamente vitorianos, o seu pai, Leslie Stephen, é uma figura literária de renome. A sua mãe era considerada uma das mulheres belas pela sociedade aristocrática que a rodeava. Foi nesta atmosfera que autora dá os primeiros passos na escrita, aos nove já escrevia para o jornal da sua família, o Hyde Park Gate News. Mas foi aos treze anos que a estabilidade emocional que caracterizou a sua infância se começou a desmoronar, com a morte da mãe, seguida rapidamente pela morte de uma das suas irmãs. O estado mental de Woolf nunca recuperou da profunda depressão que definiu a sua adolescência, vivendo o resto da vida com episódios maníaco-depressivos e uma tendência para episódios depressivos. 

Enquanto Virginia Woolf recuperava, uma das suas irmãs supervisionou o resto da sua família, auxiliando na mudança da residência familiar para o bairro de Bloomsbury, em Londres. A propriedade rapidamente se tornou uma sala de estar para jovens artistas e escritores, muitos dos quais atingiram fama posteriormente. Este grupo de jovens radicais ficou conhecido como Grupo Bloomsbury e afetou o trajeto pessoal e profissional de Woolf de forma extremamente significativa. Foi lá que a escritora conheceu o seu marido, Leonard Woolf, e também onde definiu a sua abordagem artística, dedicando-se à criação de uma linguagem que capturasse a “evasão da mente”, como mencionou a própria. 

Virginia Woolf, 1939 © Gisele Freund/Photo Researchers History/Getty Images
Virginia Woolf, 1939 © Gisele Freund/Photo Researchers History/Getty Images

Em 1917 Leonard e Virginia Woolf fundam Hogarth Press, uma editora que funcionava a partir da sua cave onde colocaram uma máquina de impressão. Inicialmente publicando apenas as obras do casal, os Woolf exerceram a sua influência no mundo literário e começaram a publicar as obras de autores de renome nos dias de hoje, como Edith Sitwell ou T.S. Elliot. O casamento entre Leonard e Virginia era considerado um casamento feliz, com Leonard a apoiar a sua esposa nos seus estados mentais mais sensíveis, assim como nos seus esforços profissionais. O casal estabeleceu uma simbiose que permitiu a prosperidade artística dos dois. No entanto, em 1924, Virginia Woolf começou o seu infame caso sáfico com a aristocrata Vita Sackville-West, relação que inspiraria uma das suas mais famosas obras, Orlando.

Ao longo da sua vida Woolf teve episódios de depressão frequentes, tendo sido institucionalizada várias vezes por distúrbios que a levavam a tentativas de suicídio. As mortes na sua família, assim como o assédio por um dos seus irmãos mais velhos, provocaram uma instabilidade que seguiu Virginia para o resto da vida. Em 1941, o desequilíbrio provocado pela Segunda Guerra Mundial, assim como os constantes bombardeamentos a Londres levaram-na a um ponto de ebulição. Assombrada por dúvidas sobre o seu casamento, carreira e arte, assim como aterrorizada pelo clima de guerra, Virginia Woolf encheu os seus bolsos de pedras e entrou no rio Ouse, afogando-se à idade de 59 anos.

© Culture Club/Getty Images
© Culture Club/Getty Images

A importância que Woolf tem na arte literária em muito se deve à sua capacidade em transmutar conceitos encontrados em formas de arte mais tradicionalmente abstratas, como a pintura. Foi aliás devido ao encontro que a escritora teve com a arte do Pós-Impressionismo que Woolf começa a teorizar sobre a possibilidade de manipular a escrita como uma forma de arte abstrata. Este objetivo foi alcançado através de estratégias como a caracterização de personagens não como seres consistentes e coesos, mas sim como fragmentos de um todo, sujeitos ao caos da vida em sociedade.   

A abordagem de Woolf na maioria das suas obras é uma de fluxo de consciência, uma ferramenta para simbolizar a corrente de pensamentos que constantemente nos inundam a mente. Este estilo de escrita permite que os leitores se infiltrem na mente das personagens, acompanhando a vida destas de uma forma extremamente íntima. 

Virginia Woolf estabeleceu também o princípio que a escrita ficcional não tem de se rodear à volta de um acontecimento concreto. Mais uma vez contribuindo para uma abordagem íntima, as obras da escritora focam-se em eventos interpessoais, mesmo se de alguma forma relacionados com episódios de uma maior magnitude. O relato do quotidiano das suas personagens facilita à humanização destas, não como personagens fictícias, mas como um ser igual a cada um de nós, uma consciência subjetiva.  

Não é meramente através do conteúdo que Woolf revolucionou o que entendemos como um romance. A forma como construiu os seus livros de forma exponencialmente experimental, quer seja através de poemas como forma de escrever prosa, ou da composição de ensaios como forma de avançar a narrativa. Ao criar novas possibilidades ao que era a estrutura rígida das obras de ficção da sua época, Woolf abriu as portas para movimentos literários modernos.

© Gisele Freund/Photo Researchers History/Getty Images)
© Gisele Freund/Photo Researchers History/Getty Images)

A escrita de Virginia Woolf é, na sua génese, extraordinariamente crítica. A maioria das suas obras são de facto um comentário às expectativas sociais que uma mulher tinha de enfrentar. Considerando a época em que Woolf viveu, no início do século XX, as mulheres deviam submissão aos seus maridos e pais, servindo como guardiãs domésticas.  Não só através das suas obras de ficção, como também através de ensaios, como o famoso Um Quarto Só Seu, a feminista expõe as diferentes formas como a sua sociedade oprimia mulheres. Foi nesta obra que Virginia Woolf se tornou uma das mais importantes vozes da primeira onda do feminismo, nesta a escritora instrumentalizou e expôs o seu privilégio para demonstrar a razão pela qual mulheres não tinham a mesma presença no mundo literário que homens. Se estas não tivessem acesso a um quarto seu e a um rendimento consistente, as condições de vida que Woolf possuía, seria impossível para mulheres contribuírem para o património artístico. 

A linguagem inconfundível de Woolf, assim como a sua profundidade emocional tornaram a escritora uma das mais bem sucedidas artistas do século XX. As obras da autora, desde os seus contos aos seus ensaios, revolucionaram o mundo que encontraram, não só em termos artísticos como também em termos sociais. A arte de Virginia Woolf metamorfoseou, e continua a transfigurar, a subjetividade de todos aqueles que têm a sorte de a encontrar.   

Entre as várias obras da escritora, elaboramos uma curta lista dos seus livros essenciais para aqueles que procuram conhecer, ou aprofundar a sua relação, com um dos mais conceituados génios literários do século passado. 

Mrs. Dalloway

Mrs. Dalloway, € 14, Virginia Woolf, Clube do Leitor
Mrs. Dalloway, € 14, Virginia Woolf, Clube do Leitor

Equiparada por críticos a uma pintura pós-impressionista, Mrs Dalloway acompanha ao longo das suas páginas um único dia em junho de 1923. É uma narrativa paralela entre duas personagens que nunca se encontram senão em pensamento. Aprofundando a psicologia destes dois indivíduos, esta é a obra que melhor exemplifica o estilo fluxo de consciência de Woolf.

As Ondas 

As Ondas, € 15, Virginia Woolf, Relógio D'Água
As Ondas, € 15, Virginia Woolf, Relógio D'Água

A obra mais poética de Virginia Woolf, assim como uma das suas mais experimentais, a prosa é essencialmente uma sequência poética. A narrativa acompanha seis amigos através destes próprios, e a evolução da sua amizade ao longo das suas vidas. Woolf descreve de forma particularmente íntima cada indivíduo, assim como a subjetividade da sua percepção de cada um sobre a realidade   

Um Quarto Que Seja Seu

Um Quarto Que Seja Seu, € 12,72, Virginia Woolf, Nova Vega
Um Quarto Que Seja Seu, € 12,72, Virginia Woolf, Nova Vega

Considerada uma das mais importantes obras dos primórdios do movimento feminista, Um Quarto Que Seja Seu descreve a opressão e as barreiras que mulheres têm de enfrentar no seu dia a dia. Partindo de uma interrogação face à ausência de figuras femininas no cânone de arte ocidental, Woolf analisa os vários obstáculos que artistas mulheres têm no seu caminho, particularmente em termos culturais e financeiros. É também um incentivo à escrita, a feminista procura incitar a instrumentalização de todas as barreiras que as mulheres enfrentam, motivando estas a escrever sobre estas em vez de deixarem que estas as dissuadam.  

Orlando

Orlando, € 7,50, Virginia Woolf, Relógio D'Água
Orlando, € 7,50, Virginia Woolf, Relógio D'Água

Uma das obras mais revolucionárias e vanguardistas de Woolf. Aqui a escritora explora a fragilidade e complexidade do conceito de género. Através de um/a protagonista que muda de género ao longo da sua vida sobrenaturalmente longa, Woolf instrumentaliza uma linguagem biográfica na narrativa que acompanha a história de Orlando ao longo de dois séculos. Escrito como uma carta de amor à sua amante, a autora inspirou-se não só em Vita Sackville-West, como também na familia aristocrata do seu grande amor. 

Rumo ao Farol

Rumo Ao Farol, € 18,17, Virginia Woolf, Relógio D'Água
Rumo Ao Farol, € 18,17, Virginia Woolf, Relógio D'Água

Profundamente simbólico, Rumo ao Farol é uma das obras primas do Modernismo literário. Considerada o clímax do estilo experimental de Woolf, esta obra explora os ideais sobre arte, relações familiares e sobre o efeito do tempo nestas. Estruturado em três partes cronologicamente distantes, o livro é um estudo sobre o luto familiar, um tema que profundamente afetou a vida da escritora.

Pedro Vasconcelos By Pedro Vasconcelos

Relacionados


Moda  

Open Call | Shades of Doubt

26 Jul 2024

Pessoas  

As celebridades mais bem vestidas do prelúdio dos Jogos Olímpicos de 2024

26 Jul 2024

Curiosidades  

Nos Jogos Olímpicos de Paris, as mulheres portuguesas fazem história

25 Jul 2024

Moda   Compras   Tendências  

Trend Alert | Recortes

25 Jul 2024