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Palavra da Vogue 8. 11. 2022

#VogueBookClub: Aparição, de Vergílio Ferreira

by Joana Rodrigues Stumpo

 

Talvez seja ainda cedo demais para lhe chamar um clássico, mas é, sem dúvida, uma obra obrigatória para todos os que se dizem amantes de literatura portuguesa. 

Pouco me lembro da primeira vez que li Aparição. Sei que o fiz no secundário, para a disciplina de Literatura Portuguesa, mas houve algo na fase de vida que passava e no próprio enredo que me fizeram apagar da memória muitos detalhes. Se me pedissem para resumir a história, teria tido uma enorme dificuldade, mas ainda hoje recordo o que me fez sentir - terror, existencial principalmente. 

Voltei a pegar neste livro há coisa de seis meses e, agora sim, consegui apreciar tudo o que Aparição me pode dar, sem correr o risco de me tornar emocionalmente dormente durante semanas. Não é a história que é tão nociva - Alberto, o narrador, muda-se para Évora, onde vai ensinar no liceu. Na nova cidade, encontra-se com um velho amigo dos seus pais e acaba a dar lições de latim à sua filha, Sofia, com quem começa a desenvolver uma complicada relação de amizade, combatendo a paixão que por ela sente. O quotidiano de um professor é o que melhor resume esta obra, bem como os infortúnios e a miséria que podem assolar qualquer família. Desgraça não é um ponto central do enredo, até porque, quando de facto acontece, não é o próprio evento que me faz desfazer em lágrimas em pleno metro lisboeta, é o misto de empatia e indiferença com que o narrador sente. 

São duas sensações que não se deveriam misturar, são algo paradoxais. Alberto (ou será o próprio Vergílio Ferreira?) entende a natureza das coisas, que há determinadas situações que são inevitáveis, por muito trágicas que sejam. É um tipo de niilismo equilibrado, de certa forma: embora se aceite a realidade e a impotência que temos, não deixa de se sentir a dor de quem sofre. E essa indiferença, essa aceitação, é aterradora, porque é a verdade.

Depois da segunda leitura que fiz de Aparição, surgem-me dois pensamentos. Primeiro, que é uma obra precoce demais para miúdos de 16 ou 17 anos - recordo-me que, depois da análise deste livro em aula, houve uma onda de crises existenciais a assolar a turma. E depois, que se calhar hoje vou chegar a casa e leio-o por uma terceira vez.  

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