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Palavra da Vogue 29. 3. 2022
O título do novo livro de Rebecca Donner é um verso de Goethe — e não foi escolhido ao acaso. Faz parte de uma compilação de poemas do escritor alemão que foi encontrada na cela de Mildred Harnack no dia da sua morte, a 16 de fevereiro de 1943.
Resumo muito breve: All the Frequent Troubles of Our Days conta a história de Mildred Harnack, uma “espia” (as aspas servem para suavizar a definição, já que Mildred preferia ver-se como “resistente”) americana durante a Segunda Guerra Mundial. Entre 1932 e 1942, ela e o marido, o alemão Arvid Harnack, lideraram um grupo que fazia parte da resistência contra os nazis. Apesar de, durante muito tempo, as suas ações não levantarem quaisquer suspeitas — tanto Mildred como Arvid diziam ser simpatizantes do Partido Nazi e faziam parte de algumas das suas organizações — a tradutora e académica acabaria por ser executada na guilhotina em 1943, por ordem direta de Hitler.
Numa nota mais alargada, a obra de Rebecca Donner é, antes de mais, uma tentativa de corrigir um lapso da História — que, por correr demasiado rápido, não foi justa com a coragem e a determinação de Mildred Harnack, e se esqueceu dela demasiado cedo, tal como se esqueceu dos milhares de “resistentes invisíveis” que pereceram às mãos do Führer. É importante sublinhar que, ao contrário do marido, Mildred não foi imediatamente condenada à morte. A americana teve uma sentença diferente: seis anos de trabalhos forçados. Mas Hitler não ficou satisfeito e forçou um novo julgamento, de onde saiu o veredicto final. Por outro lado, All the Frequent Troubles of Our Days é um ato de amor. Rebecca Donner é sobrinha-neta de Mildred Harnack. Foi a bisavó que lhe pediu que contasse ao mundo a história de Mildred. Ela largou-se num trabalho de investigação que a levou a vários pontos do globo, teve acesso direto a informação privilegiada, a relatos diretos, a memórias que se estavam a perder no meio do pó. Só que, em vez de fazer uma biografia “by the book”, Donner construíu uma narrativa tão fascinante que chega a confundir-se com um thriller. E que é impossível de largar.
Há várias estórias paralelas à da protagonista, e também isso faz com que All the Frequent Troubles of Our Days seja um relato tão impressionante, e necessário, de um dos períodos mais negros do século XX. Os amigos e “aliados” de Mildred são essenciais para compreender a atmosfera da Alemanha Nazi: casos de Martha Dodd, a filha rebelde do embaixador americano na Alemanha, que tanto ajudava a resistência como flirtava com espiões soviéticos, ou Donald Heath Jr., mais conhecido como Don, um rapaz de onze anos, filho de um diplomata americano em Berlim, que levava recados de Mildred para o pai — que, posteriormente, os transmitia para os Estados Unidos. A obra de Donner, que fez parte de quase todas as principais listas de “melhores livros do ano” de 2021, acompanha a ascensão de Hitler e a crença de que a sua permanência no poder será curta e indolor. “É uma questão de tempo”, escreve Donner a propósito da ilusão de Mildred e de Arvid, por volta de 1933/34. “Eles estão convencidos que os alemães se vão revoltar contra este político lunático.” Todos sabemos como terminou aquele inferno. É por isso que nunca é demais honrar os que perderam a vida por acreditarem que era possível fazer a coisa certa — mesmo que isso significasse enfrentar a morte todas as horas, todos os dias, como fez Mildred Harnack, que poderia ter regressado ao seu país natal e escolheu, em vez disso, ficar. E lutar. “Não estou interessada em hagiografia”, garantiu Rebecca ao The New York Times. “A maior honra que lhe posso dar não é colocá-la num pedestal, mas mostrar como ela era humana.”
Pontuação:
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