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The Good Luck Issue | To be continued: Lucky me

10 Mar 2023
By Maria Inês Pinto

Biscoitos da sorte: uma espécie de bola de cristal feita de açúcar e hidratos de carbono. Pouco capazes de prever o futuro, porém, altamente capazes de nos encher de otimismo – especialmente quando encontramos dentro deste biscoito exatamente o que queremos ler. Mas, afinal, qual é a história das fortune cookies? E de onde vem esta ânsia de querermos saber o que nos reserva o futuro?

Biscoitos da sorte: uma espécie de bola de cristal feita de açúcar e hidratos de carbono. Pouco capazes de prever o futuro, porém, altamente capazes de nos encher de otimismo – especialmente quando encontramos dentro deste biscoito exatamente o que queremos ler. Mas, afinal, qual é a história das fortune cookies? E de onde vem esta ânsia de querermos saber o que nos reserva o futuro?

Os biscoitos da sorte tornaram-se um treat indispensável nos restaurantes chineses, especialmente nos Estados Unidos, sendo habitualmente servidos com a conta. É difícil apontar com absoluta exatidão a sua origem, já que existem diversas histórias acerca do tema. Porém, há um facto que sabemos com certeza: estes biscoitos têm, na verdade, raízes japonesas, e não chinesas, como muitos de nós pensávamos. É provável que o antecessor das fortune cookies tenha sido o “tsujiura senbei”, encontrado em confeitarias perto de Quioto, no Japão, por volta de 1870. Este biscoito era maior e mais escuro do que o atual, e, pelo que sabemos, era feito com sésamo e miso. A mensagem, contudo, era colocada no centro da bolacha e não no seu interior, como hoje em dia.

Os biscoitos da sorte foram trazidos até aos Estados Unidos por imigrantes japoneses que se mudaram para o Havai e para a Califórnia após a Lei de Exclusão Chinesa - já que os EUA continuavam a procurar mão de obra barata após a expulsão dos trabalhadores chineses. Assim, alguns padeiros japoneses fixaram-se em cidades como Los Angeles e São Francisco onde, entre várias receitas, faziam também estes biscoitos. Uma das histórias mais citadas, menciona o Tea Garden do Golden Gate Park, em São Francisco, como o primeiro restaurante americano a servir esta bolacha. Obtinham-na numa padaria local, Benkyodo, que afirma ter sido a primeira a usar o aroma de baunilha e manteiga na receita, tendo também inventado uma máquina para a produção em massa.

Uma questão permanece: se esta sobremesa é japonesa, como ficou tão popular nos restaurantes chineses? Antes de mais, um fun fact: naquela época, os americanos não queriam comer peixe cru (quem diria…) e, por isso, os trabalhadores começaram a abrir restaurantes chineses, muito mais apreciados. Agora, not so fun fact: durante a Segunda Guerra Mundial, após os japoneses terem bombardeado Pearl Harbor, o Presidente Franklin D. Roosevelt emitiu a famosa Ordem executiva 9066 - ordem que pretendia remover todas as pessoas consideradas uma ameaça à segurança nacional, alocando-as no interior do país. Algum tempo depois, mais de cem mil pessoas de ascendência japonesa (nipo-americanos) foram transferidos para campos de concentração. Assim, as padarias de nipo-americanos encerraram, e os empresários chineses americanos viram neste acontecimento uma oportunidade de negócio. Chocante? Muito. 

Nos dias de hoje, as fortune cookies continuam a ser um fenómeno, porém, quando sabemos a sua verdadeira história, a magia associada a estes biscoitos desvanece um pouco… é difícil ignorar esta dualidade: as mesmas bolachas que são símbolo de estereótipos e preconceitos são também uma fonte de entretenimento e, para muitos, representam uma dose de otimismo, um momento de partilha e, claro, um emblema da cultura pop.

Este tema leva-nos também a refletir na nossa necessidade em saber o que nos reserva o futuro. Procuramos respostas em todos os meios possíveis, chegando ao cúmulo de tentar encontrá-las em mensagens absolutamente abstratas contidas em biscoitos, mas confiamos nelas para nos transmitir uma pequena dose de esperança. 

Enquanto seres humanos, temos o desejo inato de saber o que nos espera, para que nos possamos preparar para o futuro. De uma perspetiva evolutiva, as previsões (mesmo as mais elementares) permitiam aos nossos antepassados precaver-se e, assim, aumentar a sua probabilidade de sobrevivência. Por exemplo, quanto melhor soubessem  antecipar os movimentos dos animais, mais preparados estariam para caçar ou para escapar ao perigo. Mas, atualmente, o nosso fascínio com o futuro parece ser maioritariamente causado por fatores psicológicos e espirituais. Quer pretendamos, de facto, obter uma orientação prática ou apenas saber o que nos espera, esta curiosidade é parte integral da experiência humana. É um desejo enraizado na nossa profunda necessidade de compreensão e de controlo. O futuro é o local onde reside a esperança, mas também o medo, e tal como os nossos antepassados, quanto melhor o soubermos prever, mais preparados estaremos para enfrentar as suas adversidades. 

No fundo, é como começar por ler o último capítulo de um livro, ou procurar spoilers de filmes na Internet: pode estragar um pouco a surpresa mas, pelo menos, podemos relaxar porque já sabemos como vai acabar — e talvez, desresponsabilizar-nos pelas nossas ações porque, afinal, estava escrito nas estrelas. Mas isso é um tópico para outra altura. 

Assim sendo, e em jeito de conclusão, tive que fazer o que qualquer pessoa faria: fui abrir um biscoito da sorte:

"Novo amor ou um caso passageiro numa viagem próxima.” Uh! Lucky me!

 Inserido na edição The Lucky Issue, publicada em março de 2023.For the english version, click here.

 

Fonte: https://www.history.com/news/fortune-cookies-invented-chinese-japanese 

Maria Inês Pinto By Maria Inês Pinto

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