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Segunda vida: a ascensão do upcycling

01 Oct 2020
By Mathilde Misciagna

O desperdício têxtil tem tudo para ser a pior tendência de Moda que já invadiu o planeta. Mas há uma solução.

O desperdício têxtil tem tudo para ser a pior tendência de Moda que já invadiu o planeta. Mas há uma solução.

@behen.studio
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Os têxteis têm uma das mais baixas taxas de reciclagem de todos os materiais reutilizáveis que existem. Consumimos enormes quantidades de roupa anualmente e doamos ou reciclamos uma quantidade vergonhosamente pequena. Nos Estados Unidos da América 21 mil milhões de têxteis são descartados anualmente e no Reino Unido estima-se que cada agregado familiar deita fora 35 quilos de roupa por ano. E isto é apenas lixo que resulta do produto final, havendo ainda uma enorme quantidade de desperdício têxtil que vem diretamente da fase da produção. Os chamados deadstocks, produtos danificados ou retalhos de tecido (entre outros) são tradicionalmente queimados.

A vantagem da reciclagem é que tem o potencial de transformar todo o desperdício que seria queimado ou acabaria num aterro em peças novas no guarda-roupa de alguém. Embora ainda estejamos longe de um ideal de circularidade, há algumas marcas - sobretudo jovens talentos - que estão a fazer um ótimo trabalho nesse campo. Um novo modelo de produção com significado que origina peças que contam uma história e contribuem para um futuro mais sorridente para a indústria. Práticas de reciclagem ou reaproveitamento (upcycling) têm um enorme potencial para ser o ponto de viragem que a indústria precisa para tentar limpar o seu historial pouco (muito pouco) amigo do ambiente. 

O upcycling é como se fosse um novo do it yourself (faça você mesmo) e é um processo que pode ser feito a qualquer peça que já não seja adequada ao seu estilo ou que já não lhe sirva. Transformar um vestido comprido num set de duas peças, umas calças nuns calções ou uma toalha de mesa num chapéu são três das inúmeras possibilidades que o upcycling oferece. Criatividade é a palavra de ordem. Trata-se sobretudo de um recurso que é quase sinónimo de comprar em segunda mão – o ideal quando o tema é consumo consciente. Abaixo, selecionámos seis marcas que são um exemplo não só no universo do upcycling como também no campo da responsabilidade social e, por isso, merecem o devido reconhecimento. 

Béhen 

@behen.studio
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Sediada em Portugal, mas idealizada na Índia por Joana Duarte, a BÉHEN acredita que a Moda pode existir sem desperdício e em peças únicas feitas a partir de têxteis antigos ou tecidos com a magia do tempo em terras distantes. Uma marca que nasceu para contar histórias, traz-nos os contos de mulheres a cantar em hindi e a dançar debaixo do sol do Rajastão. De mulheres que andam pela calçada portuguesa com ‘saudade’ no peito. Calças e tops bordados a partir de colchas antigas e naperons e todos os outros tecidos que consegue encontrar no baú da avó.

Psychic Outlaw 

@psychic.outlaw
@psychic.outlaw

Rebecca Wright podia ser um daqueles casos de êxito que se estudam nas universidades de economia. Fundou a sua marca casualmente e esta tornou-se progressivamente uma referência em patchwork. E não só no Texas, Estados Unidos, onde está estabelecida. As suas criações 100% sustentáveis e feitas integralmente à mão ultrapassam fronteiras e são o sonho de qualquer amante de Moda. Colchas antigas que se transformam em casacos, bandanas que passam a ser vestidos, todas as peças são exclusivas e fabricadas sem gerar desperdício. Durante a pandemia Rebecca desenvolveu um novo modelo de negócio, em que são as clientes a enviar as suas próprias colchas e outros têxteis para que ela lhes possa dar uma segunda vida. Peças com história e sentimento, que merecem ser celebradas.

Hôtel Vetements 

A designer por trás da marca é Alexandra Hartmann – que deixou o seu país de origem, França, para estudar cinema e Moda na Dinamarca. Quando se apercebeu do potencial que tinham as cortinas dos hotéis (robustas e feitas com tecidos de elevada qualidade), começou a criar a partir delas peças únicas que carregam consigo uma história - e assim nasceu a Hôtel Vetements. Todas as caraterísticas, remendos e relíquias são memórias dos tecidos originais. 

Rave Review 

Fundada em 2017 pelas suecas Josephine Bergqvist e Livia Schuck, a Rave Review estreou-se na primavera de 2018, na Paris Fashion Week. Foi aclamada pelo uso de materiais sustentáveis e por defender processos de fabrico ecológicos uma vez que as designers reúnem roupas que encontram em mercados vintage, lojas em segunda mão menos convencionais e vendedores particulares online para o fabrico das coleções. Os tecidos axadrezados em lã e os bordados charmosos assumem depois formas inovadoras e inesperadas com detalhes nostálgicos que nos deixam a suspirar interminavelmente.

Fanfare Label

Bom design significa circularidade. A Fanfare é uma marca sustentável britânica empenhada em criar uma mudança poderosa e positiva na indústria da Moda. Lançada originalmente por Esther Knight em 2018 com o nome ‘Fabric for Freedom’, a marca trabalha segundo um novo modelo de consumo onde as coleções são inteiramente livres de plástico e os materiais incluem deadstock que de outra forma seria depositado num aterro como lixo. Designs arrojados e contemporâneos fabricados a partir de materiais reaproveitados e reutilizados com o objetivo de criar um guarda-roupa sustentável feito para durar.

Les Fleurs Studio 

Fundada pela influenciadora e empresária espanhola Maria Bernad, a Les Fleurs Studio é uma plataforma online sustentável que junta peças vintage, recicladas e upcycled de designers emergentes que partilham os mesmos valores dentro da indústria da Moda. Marcas como Remie Studio, Laoise Carey e Mila Sullivan fazem parte da comunidade, reinterpretando e desconstruindo tecidos e materiais antigos para os transformar em silhuetas contemporâneas ou acessórios.

Mathilde Misciagna By Mathilde Misciagna

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