E depois do adeus, adeus
De que forma é que a saúde mental é representada na cultura pop?
Tendências 1. 10. 2020
Tariq Zaidi tem vindo a documentar a Societé des Ambianceurs et des Personnes Elegante, uma subcultura da Moda que se expressa na República do Congo. Esses registos chegam agora em forma de um livro, Sapeurs, Ladies and Gentlemen of the Congo, que nos mostra que a capital da República do Congo pode parecer um destino de Moda improváve, mas a verdade é que os sapeurs de Brazzaville estão a redefinir as noções de estilo. Como Papa Wemba (um cantor e ícone de Moda congolês que popularizou a SAPE) disse em tempos: “Os brancos inventaram a roupa, mas nós transformámo-la em arte.”
O livro foi lançado hoje, 01 de outubro, na Alemanha e no próximo dia 15 de outubro chega a terras de Camões.
Abaixo, recordamos a reportagem que Tariq Zaidi publicou na Vogue Portugal de abril de 2019.
Imaculadamente vestida com um fato de linho Jean Courcel, laço Chanel e óculos de sol Versace, Ntsimba Marie Jenne não pareceria deslocada na primeira fila da Semana da Moda de Paris ou Londres. No entanto, está a pavonear-se em Brazzaville, a capital da República do Congo. Apesar das ruas com esgotos a céu aberto, casas em betão a desfazer-se, galinhas a bicar a poeira em redor dos seus pés e, claro, o calor intenso, esta sapeuse de 52 anos está absolutamente fabulosa.
Os seguidores masculinos da Societé des Ambianceurs et des Personnes Elegantes (Sociedade de Criadores de Ambiente e Pessoas Elegantes) ou SAPE gozam cada vez mais da companhia de mulheres sapeuses, que, à semelhança dos seus homólogos masculinos, são capazes de gastar 3.000 dólares num fato, mesmo que não tenham água canalizada, ou passem fome para poupar dinheiro e comprarem os acessórios de designer certos.
A maioria tem empregos normais, como agentes policiais, costureiras e donas de casa, mas assim que acabam o expediente, transformam-se em dandies cheias de estilo. Ao passearem-se pelas ruas, são tratadas como estrelas de rock – fazendo virar cabeças, trazendo joie de vivre às suas comunidades e definindo as suas próprias circunstâncias.
Gastar dinheiro em guarda-chuvas enfeitados e meias de seda pode parece surreal quando metade da população do Congo vive na pobreza, mas o movimento SAPE pretende fazer mais do que animar as pessoas. Ao longo das décadas, tem funcionado como uma forma de resistência colonial, ativismo social e protesto pacífico.
La Mairie ou De Guy, bares em ruas poeirentas, podem não parecer igrejas ou templos. No entanto, todas as noites de domingo, grupos de mulheres visitam estes locais de culto em Brazzaville. O seu deus é a Moda e, como seria de esperar, as suas vestes cerimoniais são espetaculares. Desde a aba das fedoras Armani às solas dos reluzentes sapatos J.M. Weston, estas mulheres são Les Sapeuses.
Quando batem os calcanhares, mostrando meias de cores extravagantes e girando as suas bengalas, contrastam acentuadamente com os bairros de lata em seu redor. A República do Congo é um dos países mais pobres do mundo, mas para os seguidores de La Sape, as etiquetas são tudo – não há lugar para imitações – e eles preferem que a sua roupa venha diretamente da Europa, esperando que amigos viajem até Paris ou Londres para comprarem peças de designers como Dior, Gucci, Jean Paul Gaultier, Armani, Kenzo, Yamamoto e Versace. O rendimento per capita médio nacional em Congo- Brazzaville pode ser 3.400 dólares, mas os sapeurs não se importam de gastar tudo num único par de sapatos.
A maioria destas mulheres têm empregos regulares em snack‐bars ou são donas de casa e poupam durante anos, ou pedem grandes somas emprestadas, para financiar os seus luxuosos guarda-roupas. Também partilham roupa entre si, para manter a aparência de riqueza, escolhem peças em boutiques de Moda em Brazzaville ou mandam-nas fazer por medida em alfaiates locais. A Sapologie genuína é mais do que marcas caras: a verdadeira arte reside na criatividade do sapeur para compor um look europeu, mas com um twist africano.
O movimento remonta à resistência congolesa da década de 1920, quando jovens homens tentaram adotar e imitar o vestuário francês e belga como forma de combater a superioridade colonial. Os trabalhadores domésticos congoleses desdenhavam a roupa em segunda mão oferecida pelos patrões e tornaram-se consumidores provocantes, gastando os seus míseros salários para adquirir as mais recentes extravagâncias vindas de Paris.
Depois da independência, em 1960, Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), e Brazzaville, na República do Congo, transformaram-se em centros de uma nova elite africana francófona. Muitos congoleses viajaram para Paris e Londres e regressaram com peças de designer. Os congoleses são conhecidos por se orgulharem da sua aparência. O seu adágio é: preferem vestir-se bem a comer bem. No entanto, La Sape leva a arte do bem-parecer a outro nível. Papa Wemba, o cantor de rumba congolês famoso pelo seu estilo e a quem se atribui a popularização do look sapeur, diz que a inspiração de La Sape veio dos seus pais que, na década de 60 estavam “sempre bem arranjados, sempre muito elegantes”.
Embora na década de 80 tenha havido campanhas para banir os sapeurs dos espaços públicos, tem havido uma ressurgência nos últimos anos e, atualmente, eles são tratados com respeito, como parte essencial e afirmativa do património cultural do país. Sapeurs de todas as idades continuam a reunir-se para conversar, dançar e organizar concursos de Moda para escolher o mais bem vestido. Num país dilacerado pelo colonialismo, a corrupção, a guerra civil e a pobreza, os sapeurs descobriram que partilhar ambições de alfaiataria – e o seu código cavalheiresco de conduta – pode contribuir a favor da luta.
Embora La Sape seja, tradicionalmente, transmitida por via masculina, muitas mulheres congolesas começaram recentemente a usar fatos e a tornar-se sapeuses. “As pessoas costumam ficar muito contentes quando me visto como um homem”, diz a sapeuse Iye Bilele. “Gosto demasiado da religião [da Sape]. Gosto de estar elegante. Hoje estou a usar sapatos Weston, um fato Gabbana e o meu chapéu e a mala são da Zara. Este look custou cerca de 2.000 dólares. Tenho muita roupa - de homem e de mulher – mas não tenho um carro, nem nada disso. No entanto, sou capaz de gastar 150 dólares numa camisa.”
O movimento está em constante evolução, pois a juventude marginalizada vê a Moda como uma forma de conduzir o Congo do seu atual estado de país em desenvolvimento até um futuro mais esperançoso e cosmopolita. La Sape está a conquistar seguidores em toda a África central com a sua exuberância
e liberdade de expressão. Como Papa Wemba (um cantor e músico congolês apelidado Rei do Rumba Rock e ícone de moda que popularizou a SAPE) disse em tempos: “Os brancos inventaram a roupa, mas nós transformamo-la em arte.”
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