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Schiaparelli: Alta-Costura, outono/inverno 2022

04 Jul 2022
By Pedro Vasconcelos

Como já se tornou previsível, Schiaparelli permanece imprevisível. Daniel Roseberry brilha mais uma vez como a força criativa por detrás da maison.

Como já se tornou previsível, Schiaparelli permanece imprevisível. Daniel Roseberry brilha mais uma vez como a força criativa por detrás da maison

“Aludo frequentemente ao objetivo que tenho de alcançar um estado de inocência criativa — de lutar para me manter próximo daquela pessoa que se apaixonou pela Moda e pelas suas possibilidades, de não sucumbir ao ceticismo ou tédio.” É deste impulso que nasce a coleção de outono/inverno 2022 de Alta-Costura, que Daniel Roseberry intitulou de Born Again, ou Renaissance em francês. Schiaparelli abriu a Semana da Alta-Costura parisiense com um estrondo, numa coleção que, como já se tornou uma tradição da marca francesa, deixou o mundo da Moda boquiaberto. Desde que Roseberry entrou para a maison, Schiaparelli tornou-se sinónimo de uma estética muito específica, com referências frequentes ao estilo surrealista da sua fundadora, Elsa Schiaparelli.

Em Born Again, o designer americano aprofunda a constante conversa que mantém com a vida de Elsa Schiaparelli, introduzindo florescimentos dramáticos como alusão à vida da mesma. Como reconta no seu livro, Shocking Life (1954), quando era criança, Elsa plantava sementes de flores nos seus ouvidos para que pudesse ser mais bonita. Para os desatentos, a primeira metade da passerelle poderá parecer mais uma coleção da Schiaparelli de Roseberry, drapeados elegantes, volumes exagerados e texturas aveludadas. Mas, chapéus com dramáticas abas feitas de forma a emular campos de palha e lavanda, um espartilho com flores cristalizadas, cachos de uvas como brincos, revelam subtilmente o forte simbolismo botânico que floresce na segunda metade dos looks. Como se de florescimentos espontâneos se tratasse, surgem flores teatrais, verdadeiramente surrealistas, que brotam dos decotes das modelos. Ainda que em certos looks a utilização de flores seja ligeiramente caótica, como é o caso de um casaco de veludo de um profundo azul onde a aplicação das flores parece quase aleatória, Roseberry recupera imediatamente.

A piéce de resistance é um vestido de cocktail com uma saia de veludo preto onde, desta, nascem dramáticas flores cor de rosa com caules negros. O penúltimo look, uma longa saia num azul escuro, onde a modelo segura uma pomba branca não deixa muito espaço para interpretações, Roseberry faz um apelo direto à paz. Este é uma concretização direta ao que o designer americano alega no texto em que apresenta a coleção, referenciando a necessidade que o mundo da Moda sente em “provar que a Moda não é absurda.” Elaborando, “os designers sentem muita pressão para comentar o estado político, climático ou social do mundo, que impulsionou trabalho fantástico.” Ainda que reconheça o aspeto positivo desta tendência, Roseberry procura contrariá-la de certa forma, já que, como o próprio enuncia, “traz também muita seriedade auto-infligida.” É neste contexto que surgem as suas flores, o derradeiro sinal de estética sem qualquer tipo de função prática, valorizando-se apenas pela sua beleza. Roseberry conclui: “O que há de errado em querer fazer peças bonitas? Não é a parte mais importante da vida, mas não deixar de fazer parte desta. Para além disso, fazer coisas verdadeiramente estéticas não é fácil de todo. Mas é um privilégio — um pelo qual fico grato todos os dias.”

Pedro Vasconcelos By Pedro Vasconcelos

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