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Diário de Prata: Costa Rica

22 Oct 2018
By Sara Prata

Comecei por escrever ainda em casa. Agora que olho para o caderno, estou a horas de pegar na mochila e viajar por três meses e seis países.

Comecei por escrever ainda em casa. Agora que olho para o caderno, estou a horas de pegar na mochila e viajar por três meses e seis países. Sempre tive esta vontade, mas a urgência de realizar o meu sonho maior em ser actriz e começar a construir a minha carreira, sempre teve prioridade. Numa pausa entre projectos profissionais, alinhei a vida pessoal, e aqui vou eu.

É tempo de ir para o aeroporto. Esta será a minha história.*

Primeiras impressões

Tentar definir a Costa Rica seria transcrever todos os sinónimos de imensidão de verde. Quisemos explorar cada pedaço da tonalidade e, por isso, decidimos fazer esta viagem de jipe, que será a nossa casa nos próximos 20 dias (escolhemos a Nomad-América e recomendo - têm uma frota enorme para todas as carteiras e mood). Juntos, reorganizamos o nosso plano de viagem, preparamos o equipamento de campismo, porque o jipe tem as tendas no tejadilho, e começa assim a desenhar-se o percurso: explorar, comer, rir e dormir. 

Por aqui, anoitece muito cedo - às 17h a noite é cerrada. Ficamos por Alajuela. Primeira missão: jantar. Começa um dos meus maiores fascínios e fraquezas e muitas serão as vezes que irei dedicar palavras a este assunto. Eu viajo para comer, faço quilómetros para provar algo novo e único, que neste caso, é a Parrillada Campina - mandamos vir para todos. E, à nossa volta, observo os casais enamorados, colados uns nos outros, latinos, afáveis. 

Pela manhã, bem cedo, rumamos ao primeiro destino: Catarata del Toro. No caminho, percebo que estas paisagens são estrondosas, para onde olho (só) vejo uma imensidão de verde. Tanta florestação, é até perder de vista e tão incrível que parece que não caber um dedo entre as árvores. Perco-me na paisagem de ambos os lados.

Depois de uma visita rápida à cascata La Paz, começamos a descer. O calor húmido já se sente, tinha saudades, no estúdio não há nada disto. Chegamos ao nosso primeiro acampamento: camping Rio Ágrio. O Parque do Jose, um senhor que nos recebe em troca de 8 euros, tem duche de água quente  - mas não pensem no vosso chuveiro, porque não é bem esse o mood. Infelizmente, a Costa Rica não tem muitas condições nos parques de campismo e ao longo desta história vão perceber (por)que preferimos Wild Camping.  

Tendas montadas e mesmo a tempo de parar e observar o pôr-do-sol no meio destas montanhas. Único. Tempo de desligar telemóveis, GPS e ligar as conversas e os petiscos, entre pirilampos que voam à nossa volta e a companhia do cão de guarda Negro. O jetlag ou a excitação fazem com que acorde as 04:30, mas não sou a única. Eu e o Cajuda descemos e ficamos a ver o dia nascer, neste silêncio, nestas paisagens. Preparamos o nosso primeiro pequeno-almoço - há quanto tempo eu já não acampava, parece que já me tinha esquecido que isto é para duros. É outra realidade, certo?

Próxima paragem: BlueFalls.

Depois de um percurso por caminhos de vacas (faz-se em 3 ou 4 horas) e envolvidos num cenário de filme, chegamos à cascata. 

Água azul azul - o nome não engana - mas gelada como aquelas que limpam a alma, mas partem os ossos. Missão cumprida, mergulhei.

 

Hoje ainda nos fizemos à estrada até La Fortuna. As distâncias são pequenas, dá para fazer tudo de carro e em pouco tempo. Mas já é de noite e, por isso, ficamos por um hostel, até porque tenho lama até aos joelhos. Recomendo este Selina, que tem várias opções, desde dormitórios, cabanas (bem giras) e quartos a preços acessíveis. O ambiente que se vive por ali também é um ponto positivo. 

Em La Fortuna tens muita coisa para ver e fazer: canopying (atravessar a florestação em slide num cabo), helicóptero para o vulcão, preguiças, cascata La Fortuna. Nós decidimos fazer a nossa primeira caminhada ao interior da selva durante quatro horas. Visto de dentro, este intenso verde ainda impressiona mais. Parece que estou sempre de sorriso na cara. Este é um dos meus elementos. Quando me perguntam, és mulher de cidade ou de campo? Não hesito um segundo, sou daqui.

Mesmo a meio do regresso, temos direito a uma preciosa boleia de um Muxaxo Tico (local) na sua carrinha (parece milagre, pois está muito calor e as pernas começam a ceder) e, ao longo do caminho, foi nos dando a provar todas as frutas que encontrava. Terminamos o dia nas termas Tabacon Thermas e Spa, belas e revigorantes, e com um restaurante divinal. Recomendo passarem aqui parte do vosso dia. 

Acordámos e parecia que o mundo estava a desabar. Acho que nunca vi chover tanto (mal sabia eu o que ia acontecer mais adiante), e só penso no Rio Celeste, o ponto a visitar pela manhã. É cor celeste só quando não chove, por isso, nada feito. Fica aqui combinado: vão lá, não percam e depois enviem as fotos para eu ver. 

Siga, caminho para a frente, rumamos às praias. Atenção: paragem obrigatória no caminho para almoçar, Soda La Fuente, comida caseira óptima, prato cheio por €3. A minha refeição preferida na Costa Rica (agora já sei). 

Este é, sem dúvida, o secret spot que tenho de partilhar: Playa Zapotillal.  

Há quanto tempo eu não acendia uma fogueira na praia, a ouvir o mar, a voltar a tudo o que é mais simples na vida. Não sei quantas pessoas dão valor a este momento, mas para mim não tem preço.

 

As estrelas por cima de mim, os amigos, o mar quente, depois de um jantar preparado por nós, aqui mesmo, onde tudo o que temos é um fogão a gás e alimentos comprados na aldeia. Preciso de muito pouco mais do que isto para ser feliz. Voltei a ser miúda nesta praia, e não posso estar mais completa. Resta-me colocar a caneta de lado e dar um mergulho no mar pela noite adentro. Depois, chega o som da Natureza para me embalar. 

Abro os olhos naquela praia privada (porque era só nossa) e salto directa para o mar, com os primeiros raios de sol a aparecer. Parei um pouco o tempo e fiz Reiki, mágico e revigorante. 

Regressamos à estrada: paragens em TamarindoPlaya San Juanillo e tantas outras praias que se vão vendo ao longo da costa. É só decidirem parar. Acabámos por almoçar a meio do percurso, na estrada de terra batida e eu tive direito a ir para a "cozinha" aprender umas dicas da culinária Tica. Plátanos Maduros. Um dia faço em Portugal. Num dia não fit

Próximo destino: Nosara. Só pelo nome já gosto. De repente na estrada, um hotel lindo, o The Gilded Iguana, fica a dica. Novo, limpo, perfeito para descansar a mochila, ir tomar um banho e pôr um creme - para o que vivi até aqui, isto foi o grande luxo. Conseguem uma noite aqui por 85€ o quarto. Restaurante a visitar, Pacífico Azul (peçam os Camarões Diávola, super!). Este é, sem dúvida, um lugar a visitar. Até agora o meu favorito. A vibe destas ruas, a praia linda, os hotéis, tudo encaixa. Se visitarem a Costa Rica, têm mesmo de vir aqui. Eu só mudava o nome para SiSara, óbvio!

Próxima paragem obrigatória, Ostional. Lugar onde as tartarugas vão desovar. Conseguem ver-se melhor entre Junho a Setembro, mas temos a sorte de ver uma. A natureza é dos fenómenos mais fortes e que mais mexe comigo. A chegada à areia, fazer o buraco, bem profundo, porque deixam cerca de 110 ovos, o cansaço visível, depois da mestria de os enterrar seguros e regressar ao mar. Uma tarefa bela e única com cerca de 45 minutos. Na época alta, chegam a ser aos milhares (em 2005 foram mais de 50.000 tartarugas e um milhão de ovos). Uau! 

temos tempo de ver o pôr do sol na Playa Carrilo. Eu "colecciono" estes momentos e este vem comigo. 

Próximo Wild Camping será em Islita. Aconselho descobrirem um lugar para acampar durante o dia, para que fiquem mais confortáveis com o que se passa à volta.

Não falo só de bichos, porque até acho piada receber visitas dos Mapachés, macacos, lagartos, pirilampos, curiosos com o jipe mas, mais do que isso não queria.

 

Numa conversa rápida com os locais, garantiram-me que era um lugar seguro e lindo.

Infelizmente, as opções de campismo na Costa Rica são muito primitivas e com muito poucas condições, preferimos parar o jipe livremente uma vez que é permitido. Aventurem-se e só terão a ganhar. Tempo de montar as tendas.

Sim, hoje não tomo banho, amanhã dou um mergulho no mar. Tem sido a rotina por estes lados.

Pela manhã, recebemos a visita do Jorge, um guarda da praia, que nos trouxe cocos acabados de apanhar, para provar a hospitalidade deste povo e de como este local era seguro e perfeito. Depois, são horas e quilómetros de estrada de terra batida. Todos os lados continuam a ser de verde, um verde sem fim, rios para cruzar, assim é viajar pela Costa Rica, é incrivelmente belo. Passagem por Playa San Miguel, a mais bonita até agora. Lado a lado com um campo de perder de vista de palmeiras e uma extensão de areia imensa. Ali eu ficava uns dias, mas a estrada espera em direcção a Sta. Teresa

Foi tempo de ver mais um dia terminar na Playa Hermosa (como o próprio nome indica, é linda). Tão mágico. A cada momento especial, eu gosto de me sentar, tirar um pouco de tempo para mim, ficar feliz por sentir que estou no lugar certo, no momento certo. Sou exploradora, não sei estar com o coração num sítio só. Tenho recebido tantas mensagens a agradecer a partilha da viagem, partilhar isto com outros, é uma oportunidade para mim!

Ficamos por Sta. Teresa cerca de três dias. Lugar muito conhecido e com uma vibe muito diferente do que tivemos até aqui. Encontram-se diversos hotéis, hostels, lojas, supermercados, restaurantes, bares, aulas de surf, uma diversidade de nacionalidades muito grande. Acho que em época alta é uma loucura, mas para os que gostam, terão de vir - nós, como viemos em época baixa, temos o paraíso só para nós.

Acordei com vontade de praticar yoga. Desci e procurei. Rapidamente me levaram a um rapaz que fazia Hikingyoga Tour. A aula consistia em ires de bicicleta até um secret spot, onde caminhas até às Três Pedras, e é aí que será a tua prática. Ele é o John. Desenha-me um coração na areia e explica que aquele é o meu tapete para a aula. Depois, fomos subindo as pedras e fazendo a aula, assim mesmo, a sentir o mar quente nos pés e a inspirar a beleza à nossa volta.

Falámos de amor e auto-confiança. As opções que temos e como escolhemos sempre o nosso caminho, à nossa imagem, com as nossas experiências e naquilo que confiamos ser capazes. Mas a vida é uma repetição, o caminho é quase sempre o mesmo, a nossa forma de o olhar é que muda. 

 

Eis a terceira pedra, a Pedra dos Campeões. Quando olhamos, achamos ser impossível, mas ao decidir subir, basta contornar e descobrir o caminho certo, o teu caminho. E aí, de passo em passo, trepando, segurando-me às raízes da vegetação, subi até ao topo. Pequenos passos levam a um lugar imenso. Ele é o @jhonbb e não podem perder. 

O resto do dia foi passado a banhos. Praias incríveis. 

Por aqui também não podem perder: Restaurante Katanarisotto de osso buco e camarão e o green curry, amazing. Estadia: Lua Villas

E com a noite chegou a chuva. Os relâmpagos explodem ao mesmo tempo que o som nos abana. A cada 5 minutos um de nós diz "isto vai parar", mas não parou. Durante cinco dias não parou. 

A cada paragem momentânea, lá vamos fazendo coisas. Uns correm com as malas, outros com as compras, nos poucos raios de sol viramos lagartos, nós e as mochilas molhadas. Quilómetros pela frente porque ainda temos muito para conhecer e pouca vontade de ficar quietos, e porque secretamente acreditamos sempre que dali a cinco minutos pararia, de vez. 

Passagem de ferry e ida até ao Parque Natural Manuel Antonio. 

Era para ser a primeira vez que íamos estar em contacto com os animais da Costa Rica, os que estão no seu habitat, único, mas... pois, começam os dias dos “mas”. Assim que saímos do carro ficamos encharcados, mas mesmo. Ali não chove, desaba. E pensámos que os bichos seriam mais espertos que nós e se iriam abrigar. Fizemos o mesmo. Voltámos ao carro e seguimos viagem para onde ainda fazia sol, o Corcovado. Aqui, sim, o Parque Natural com a maior biodiversidade do Mundo.

Chegámos a Puerto Jiménez, e parecia que tínhamos chegado a uma terra adormecida. Muito pouco acontecia por ali e o tempo era mais lento do que o relógio. 

 

Ainda não falei muita das infraestruturas do país, mas, excepto nas grandes cidades, não há grandes construções, as casas são simples, coloridas, de um piso único, percebes que tentam fazer o seu melhor, mas às vezes as condições em que vivem não são as melhores. País em protesto pelos impostos excessivos que levam as pessoas a bloquear as estradas, lutando para que lhes reste um pouco mais. Uma sociedade feita de gente humilde, carinhosa, mas que em lugares como aquele, no supermercado só há aquilo a que nós chamamos de básicos. 

A chuva não dá tréguas a noite toda. Ainda assim, o despertador toca pelas 04:30 da manhã, é dia de explorar a verdadeira selva. Pedimos a todos os santos que nos desse uma pausa, e assim foi. Incrível, uma manhã inteira ao nosso dispor. “Deixa que a descoberta dentro da floresta te leve a perceber(es) um pouco mais de ti.”

O silêncio, os rios, as araras, os morcegos, os crocodilos (sim mesmo ali pertinho de nós), as 1.000 aranhas, os macacos, os lagartos, os mapaches, os papa-formigas, os tapir, o ocelote, tucanos, colibris, a vegetação, a diversidade, as árvores de tamanhos que nunca tinha visto e tudo isto ladeado pela praia mais linda onde já estive na minha vida.

Foram 5 horas de caminhada e assim que paramos para almoçar... a chuva volta. E volta como se ainda não tivesse parado. Decidimos regressar pela praia por ser mais rápido. Mas ainda são 2:30h debaixo de uma "lavagem" tropical. Podia até acelerar o coração, chamares um nome ou outro, mas no fundo, rodopias, olhas à tua volta e só te dá vontade de dançar à chuva. É o que faço. 

Enrolada numa manta, porque nem consigo tirar a mochila que está lá atrás, seguimos viagem até Uvita. Uvita é o lugar das Baleias, das cascatas, mas.... a chuva não parou. Descobrimos que afinal era uma tempestade que estava a atravessar o país, esperava-se muita chuva por mais 2 dias. Juntos num quarto de hotel, porque não dava para acampar, entre conversas e jogos, os rios subiram cerca de 1 metro, mas... seguimos caminho porque ainda havia muito para conhecer.

Tivemos de atravessar o Cerro de La Muerte porque já estávamos a fazer o regresso a San José, e só o nome diz tudo. Foram quilómetros de olhos muito atentos e de música bem alta, para disfarçar que não se ouvia o coração aos pulos. Decidimos ficar por Savegre. Já estava bom de adrenalina e o condutor Cajuda foi um espectáculo, merecia o descanso.

Saímos de Uvita com uns 27º/30ºgraus e quando saímos do carro estavam 8 graus. Toca a dançar para aquecer. 

Por mais dois dias ficamos no hotel de montanha. Serões de cartas, jogos no calor da lareira, vinho tinto para aquecer o espírito e aproveitar para pôr as saudades de Portugal em dia. Quem diria que ainda faríamos umas férias de Inverno, um país com tudo!

Previsões apontam para que a chuva pare às 17h, e nós atentos aos relógios, já que o tempo não passa... nem queríamos acreditar, fim!! 

Mochilas no carro, aí vamos nós em direcção à grande cidade, já com o aeroporto à vista.

Último dia, última dormida na tenda, voltar ao primeiro restaurante onde foste feliz, mergulho na piscina, aquecer ao sol, e ... Não vou escrever muito mais porque dizem que hoje as pessoas já não sabem ler, dispersam, se o texto é grande desistem, mas para quem leu até aqui: começam as borboletas do regresso a casa.

Eu sou muito feliz no meu canto, gosto de voltar, mas...  “de todos os passos que deres na vida certifica-te que alguns deles são sujos”, por isso vou só trocar de mala porque esta aventura vai continuar... na Colômbia!

Até breve! 

kiss from HappyPrata

 

[Acompanhe as viagens de Sara Prata aqui no Vogue.pt]

*O texto reflete ipsis verbis as entradas de Sara Prata no diário ao longo da viagem e a atriz escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

Sara Prata By Sara Prata

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