Porque estamos todos fascinados com The Summer I Turned Pretty?

03 Sep 2025
By Olivia Petter

Fotografia: Instagram @thesummeriturnedpretty

“Não podes casar comigo para o apagar”, foi a frase que mais me emocionou. Verdade seja dita, eu já estava a chorar nos créditos iniciais. Sim, estou a falar da série que transformou muitos de nós em adolescentes apaixonados com sentimentos intensos: “The Summer I Turned Pretty”.

Caso tenha perdido o hype por estar ocupado a viver no mundo real (onde irmãos não discutem pela mesma rapariga e nenhum adulto que se preze se chama Belly), deixe-me pô-lo a par. Baseado na trilogia de romances homónima de Jenny Han, a série The Summer I Turned Pretty acompanha Isabel “Belly” Conklin (Lola Tung) e conta a história das férias de verão que passa na fictícia cidade do litoral de Cousins com os irmãos Fisher, Conrad (Christopher Briney) e Jeremiah (Gavin Casalegno).

Juntamente com o irmão mais velho de Belly, Steven (Sean Kaufman), e a melhor amiga, Taylor (Rain Spencer), o trio central cresceu lado a lado. Mas a série começa quando — como o título sugere — Belly, à beira de completar 16 anos, “fica bonita” (sim, eu sei) e, subconsequentemente, capta a atenção romântica dos dois irmãos. É nesta altura que se forma um triângulo amoroso, com todos os estereótipos e tropes que o acompanham. 

O que se segue são todos os ingredientes para uma história emocionante. Há um desejo claro e bem definido (não fosse Belly ter uma paixão por Conrad desde os 10 anos), lealdades oscilantes (é provável que, num episódio, torça por Jeremiah e, no seguinte, por Conrad) e uma tragédia crucial (a mãe dos Fisher, Susannah, morre de cancro entre a primeira e a segunda temporada da série. Estamos agora na terceira temporada).

Instagram @jennyhan

A série pode parecer ser para crianças, porque, de certa forma, é — os livros de Han são classificados como young adult —, mas isso não impediu que a série conquistasse os corações e as almas de milhões ao redor do mundo. Os dois primeiros episódios da terceira temporada, que será a última da série, atraíram 25 milhões de espectadores e, de acordo com o New York Times, o seu público principal são mulheres de 25 a 54 anos. Quase todos os amigos que vi ou com quem falei na semana passada mencionaram TSITP pelo menos uma vez. Se já vi o último episódio? Vejo-os logo na quarta-feira de manhã. Sobre qual o irmão mais gosto, a resposta é sempre: Conrad. Já no que toca à razão pela qual, de repente, todos queremos aprender a fazer surf? É também por causa de Conrad.

No TikTok, há inúmeros vídeos com teorias e comentários de fãs com milhares de visualizações. Há festas de despedida de solteira com o tema TSITP que já se tornaram virais, bem como festas para assistir a novos episódios e até jantares ao estilo Cousins (alguém quer linguine de triângulo amoroso?). Depois, há os tópicos do Reddit, onde, num dos mais populares, se pode ler: “Preciso de alguém que sinta saudades de mim como o Conrad”.

Instagram @thesummeriturnedpretty

O grupo de fãs de TSITP é tão fervoroso e extenso que a Amazon chegou a pedir para eles se (literalmente) acalmarem. “A série não é real, mas as pessoas que interpretam os personagens são”, escreveu a plataforma de streaming num comunicado oficial publicado nas contas de redes sociais da série, acompanhado por um vídeo com a seguinte legenda: “O verão em que começámos a agir normalmente online”. Os atores também se manifestaram sobre algumas das críticas que enfrentaram, com Casalegno relembrar ao New York Times que ele não é o seu personagem: “É importante entender e perceber que esta é uma história fictícia”. Entretanto, no domingo passado, a namorada de Briney, Isabel Machado, postou uma selfie no Instagram cuja caption lia “pessoa com sentimentos”.

O que está a acontecer aqui? Será que todos nós sofremos uma lavagem cerebral por algum génio do mal, inspirado em Josie and the Pussycats? Ou será que esta é apenas uma daquelas histórias atemporais que, de alguma forma, explorou um conjunto de verdades universais que representam perfeitamente o que significa ser humano? Como alguém que era extremamente cético no início (já mencionei que a personagem principal se chama Belly?), agora posso dizer com confiança que acredito que seja a segunda opção. Isso e a maneira como a série consegue misturar perfeitamente nostalgia com intensidade romântica, oferecendo um tipo reconfortante de escapismo que nos lembra como nos comportamos nessa idade.

Apesar de ser uma série atual, acho que há algo definitivamente millennial — tanto no tom quanto no enredo — em toda a história. Pense-se nas séries e filmes com as quais crescemos: Twilight, The Vampire Diaries, The OC, Gossip Girl, One Tree Hill… triângulos amorosos (principalmente entre dois irmãos) eram parte integrante da nossa dieta cultural. “Torna-se um verdadeiro tema de conversa: “em que team estás?” e faz com que nos aproximemos muito mais dos personagens, porque torcemos pela nossa team, diz Holly, de 30 anos.

Vale a pena notar também que os livros de Han foram publicados pela primeira vez em 2009, 2010 e 2011, quando muitos millennials eram adolescentes. “Isso relembra-me dessa idade e de todos os programas adolescentes e comédias românticas que adorava”, acrescenta Holly. “Com a situação atual do mundo, talvez muitos de nós queiramos sentir que temos 16 anos novamente”.

O seu enorme sucesso também pode ser parcialmente atribuído ao facto dos episódios serem lançados semanalmente, em vez de todos de uma vez — uma tática (hoje) rara, mas inteligente, que cria expectativa e remete para a forma como os programas funcionavam quando éramos mais jovens. “Naquela época, tínhamos de esperar semanas para descobrir o que iria acontecer nos nossos programas favoritos”, diz Jenna, de 40 anos. “E, enquanto esperávamos, conversávamos com as pessoas, víamos as reações online e sentíamos uma gratificação adiada, em vez de ver tudo de uma vez num dia. Assistir a novos episódios torna-se um evento”.

Depois, há a banda sonora, que até agora contou com nada menos que 20 músicas de Taylor Swift ao longo das três temporadas, sem mencionar faixas de Olivia Rodrigo, Phoebe Bridgers e Gracie Abrams. Tudo isso garante que, sonoramente, a série explore uma vertente musical mais ampla do universo feminino, caracterizado pelos mesmos temas e sentimentos da série: saudade, mágoa e melancolia sedutora. Os fãs estão até a especular a possibilidade de Swift lançar o primeiro single do seu próximo álbum, The Life of a Showgirl, no final da série — o que parece loucura, mas já aconteceram coisas mais estranhas.

E, finalmente, não podíamos deixar de revisitar Conrad. O doce, gentil e eternamente apaixonado Conrad. Um homem tão habilmente criado pela lente feminina que parte da agonia viciante de assistir TSITP é saber que ele não existe, enquanto se espera que ele exista. A sua estética — caracterizada por uma camisa de colarinho largo, calças de ganga largas e uns ténis — também é muito típica das comédias românticas dos anos 90 e opõe-se diretamente à do seu irmão, que usa mais camisas pólo e calças cargo, de modo a dar uma vibe do tipo “passo os meus fins de semana a beber uísque e a jogar golfe com os amigos”. “As solteiras da nossa geração estão tão fartas dos homens do mundo real neste momento”, diz Holly, “mas Jenny Han sabe mesmo como escrever sobre um homem que nós queremos”.

Dito isto, acho que o principal motivo pelo qual TSITP é tão popular é o facto de se levar a sério. Numa sociedade em que os desejos e anseios das mulheres são frequentemente ridicularizados ou menosprezados, eis uma obra de cultura pop que nos diz que é normal sentir as coisas profundamente. Que podemos ceder às paixões e aos desejos da adolescente que ainda vive dentro de todas nós. E que, independentemente de sermos team Conrad ou da team Jeremiah, o que queremos é importante. Mesmo que seja uma personagem fictícia com olhos desolados e cabelo excecional.

Traduzido do original, disponível aqui.

Olivia Petter By Olivia Petter

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