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Até sempre, Peter Beard

20 Apr 2020
By Vogue

O fotojornalista e artista Peter Beard foi encontrado sem vida perto da sua casa em Nova Iorque no dia 19 de abril, depois de ter sido dado como desaparecido a 31 de março.

O fotojornalista e artista Peter Beard foi encontrado sem vida perto da sua casa em Nova Iorque no dia 19 de abril, depois de ter sido dado como desaparecido a 31 de março. Amigo de artistas como Andy Warhol e Salvador Dalí, e creditado como o responsável por ter descoberto a supermodelo Iman, Beard era conhecido pelo seu trabalho que documentava os cenários em constante mudança da vida selvagem de África e da indústria da Moda.

Peter Beard, em 1979 © Getty Images
Peter Beard, em 1979 © Getty Images

Peter Beard foi encontrado morto no Camp Hero State Park, Nova Iorque, no dia 19 de abril. Beard sofria de demência e foi dado como desaparecido de sua casa em Montauk no dia 31 de março. Tinha 82 anos. “Estamos com o coração partido pela confirmação da morte do nosso querido Peter”, afirmou a família num comunicado partilhado no Instagram. “Morreu onde morava: na natureza.” Beard deixa a esposa, a filha, a neta e o irmãos Anson Jr e Samuel. 

Enquanto fotografava editoriais de Moda para a Vogue US no início dos anos 60, o nova-iorquino - que ainda estudava na Universidade de Yale - estabeleceu o seu nome, simultaneamente, como um fotojornalista revolucionário, destacando os horrores da caça furtiva, da fome dos elefantes e dos animais selvagens no Tsavo East National Park, no Quênia. As suas fotografias apareceram em publicações como o Paris Match, a Vanity Fair, o The Sunday Times, o International Herald Tribune, a Architectural Digest e a revista Life.

Peter documentou em fotografia a morte de 35 mil elefantes, hipopótamos e rinocerontes nas planícies de Tsavo no Quênia e nos parques de Uganda, mortes essas causadas pela superpopulação e má gestão da conservação.

Em 2009, fotografou o Pirelli Calendar no Botsuana e, em 2012, a fotografia que tirou a Veruschka, nos anos 60, com um rinoceronte foi vendida na Christie’s pela quantia de 21.250 libras. A sua casa no Quênia - Hog Ranch - um acampamento com tendas decoradas e com sofás vintage em veludo, ficava ao lado da plantação de café de Karen Blixem, autora dinamarquesa. 

“Quando cheguei aqui, em 1955, não tinha como saber o quão incrível isto seria”, Beard disse à Vanity Fair, em 1996. “Era o paraíso, acredite em mim. Esta foi uma das áreas de vida selvagem mais pesadas da história do mundo e agora é um estacionamento. As pessoas pensam que és um chorão ou um queixoso, quando mencionas isto, mas a velocidade com que destruímos a natureza é esmagadora e a maneira como nos adaptamos aos danos que causamos com uma astúcia inacreditável.” 

Beard andava sempre entre a África Oriental e Nova Iorque, e a sua vida estava repleta de controvérsias e festas. Dos bebedouros do Quénia aos lugares mais famosos de Manhattan, construiu uma vida num rancho em Nairóbi e uma vida social no Studio 54, com a mesma energia nos dois sítios. Nadou em águas repletas de crocodilos, participou em touradas com Pablo Piccaso e fotografou Salvador Dalí. O seu amigo Francis Bacon pintou o seu retrato várias vezes, enquanto Beard trabalhava com os Rolling Stones na sua digressão e fotografava a capa do álbum Tusk (1979) dos Fleetwood Mac. “O Mick [Jagger] chegou tão bêbado de uma tarde com o Peter Beard e Francis Bacon que adormeceu na minha cama”, confessou o seu amigo Andy Warhol num diário em 1970.

Enquanto isso acontecia, Beard documentava a sua própria vida em vários diários - o primeiro diário foi um presente de Jacqueline Kennedy Onassis, quando Beard namorava com a sua irmã Lee Radziwill. As páginas manchadas de sangue misturavam colagens de borboletas, ossos, penas com fotografias de filhos de leões e socialites. Uma exposição de fotografias em Nova Iorque, no ano de 1975, contou com a participação de Veruschka e Diana Vreeland, diretora da Vogue US à época. 

“Quando olhas para os diários dele, pensas: ‘O homem é louco.’”, disse Iman à Vanity Fair, em 1996. A supermodelo estava a estudar na Universidade de Nairóbi, em 1975,  quando foi descoberta por Beard. “Porém, quando o Peter me propôs uma sessão fotográfica, nunca poderia ter imaginado esta trajetória, pelo menos desconhecia que poderia negociar uma cachet equivalente à mensalidade da minha faculdade - e assim o acordo foi fechado”, confessou a modelo à Vogue US, em 2017. 

Peter trouxe as fotografias de Iman para Nova Iorque e, no ano seguinte, Iman mudou-se para Manhattan e foi fotografada para a Vogue US. Iman acusou-o de ser um fantasista, que alegou que ela não sabia falar inglês, mas na verdade falava cinco idiomas. “Ele diz que me encontrou com cabras e ovelhas - que eu era tipo uma pastora na selva”, disse a supermodelo à Vanity Fair. “Eu nunca vi a selva na minha vida […] mas o Peter vive num mundo de fantasia. Ela adora a ideia de ser o meu Svengali.”

Peter Hill Beard nasceu em Nova Iorque no seio de uma família abastada a 22 de janeiro de 1938, o pai Anson McCook Beard, era corrector, e mãe Roseanne (Hoar) Beard. Mudou-se com a família para o Alabama quando o pai estava na Força Armada durante a Segunda Guerra Mundial. Quando regressou para o Upper East Side de Manhattan, Beard frequentou a Buckley School entre 1945 e 1952, seguindo depois para a Pomfret School ema Connecticut. Frequentou a Felsted School, em Essex, na Inglaterra, de 1956 a 1957, antes de se matricular em Yale, com a intenção de estudar pré-medicina, mas acabou por mudar para a arte. “Eu era um robot”, Beard confessou à Vanity Fair, em 1996. “Frequentei todas as escolas que o meu pai frequentou. Eu tinha tudo de mão beijada. Era muito mimado.”

A primeira visita de Beard ao Quênia aconteceu quando este tinha 17 anos, com o bisneto de Charles Darwin, o explorador e escritor Quentin George Keynes. E foi aí que ficou impressionado com o continente africano. “Havia uma autenticidade total - era algo totalmente real”, contou depois à Vanity Fair. Depois de se formar na Yale, em 1961, assinou um contrato com a agência de publicidade J. Walter Thompson, mas regressou logo ao Quênia com uma câmara Voigtländer, um presente da sua avó. As fotografias assustadoras que se seguiram - com as carcaças de zebras, os esqueletos de elefantes e abutres - preencheram as páginas do seu primeiro livro. 

Casou três vezes, em 1967 com a socialite Minnie Cushing, depois com a modelo norte-americana Cheryl Tiegs, entre 1981 e 1983. Depois, em 1986, casou com Nejma Khanum - a sua Manager e esposa até aos dias de hoje. O casal teve uma filha, Zara, nascida em 1988. 

Em 2004, Beard escreveu a sua autobiografia, Zara’s Tales: Perilous Escapes in Equatorial Africa - 11 contos dedicados à sua filha sobre a sua vida no Hog Ranch. “Aqueles que se arrependem da destruição impensada da natureza, que sentem que estamos a perder algo insubstituível, podem ter algo real para nos contar”, escreveu Beard, mostrando o seu amor de longa data para com a vida selvagem e deixando também uma mensagem comovente para cuidarmos do mundo. 

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