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Sou só eu, ou ... o trailer de "Pam & Tommy" é profundamente ofensivo?

18 Nov 2021
By Hayley Maitland

Na primavera de 1998, apenas três anos após o casamento de Tommy Lee e Pamela Anderson numa praia em Cancún, um juiz de Malibu condenou o baterista da banda Mötley Crüe a seis meses de prisão por agressão à sua esposa. “O que eu observo é um bastante claro - muito perturbador, a meu ver - padrão de comportamento em que assuntos facilmente solucionáveis estão a ser resolvidos através de violência”, constatou o juiz Lawrence J Mira em tribunal. Anderson procedeu com uma ação judicial após Lee a ter atacado enquanto segurava o filho bebé dos dois - pedindo o divórcio pouco depois do incidente - com Lee a não contestar face à acusação de violência doméstica.  

Alguns anos após o incidente, Lee escreveu em The Dirt, a biografia de 2001 dos Mötley Crüe: “Não conseguia perceber o porquê de a Pamela ter prosseguido com a apresentação de queixa. Ela estava provavelmente assustada e pensou que eu era um monstro louco e violento; provavelmente pensou que estava a fazer o que era certo para os miúdos; e provavelmente queria uma saída fácil para uma situação complicada. Por mais que ame a Pamela, ela tinha um problema a lidar com as coisas”. Esta é a opinião dolorosamente insensível que Lee tem repetido ao longo dos anos - a mais recente ocasião foi num discurso no Twitter após uma entrevista em 2018 a Anderson onde abordou o abuso que sofreu. “Seria de pensar que ela encontrasse alguma coisa nova para falar em vez de remoer merdas do passado mas suponho que não tem mais nada para fazer e precisa de atenção.”   

Não existe no entanto nenhum sinal desta violenta e traumática dinâmica no primeiro trailer da série da Hulu Pam & Tommy - uma “série limitada de comédia” que, como enunciado no trailer, é “baseado no verdadeiro escândalo" da primeira sex tape de uma celebridade. Em vez, temos Seth Rogan como Rand Gauthier, o electricista frustrado que roubou o cofre do casal após Lee o ter ameaçado com uma espingarda, e Nick Offerman como o pornógrafo Milton Ingley, que copiou e vendeu o VHS de Pamela’s Hardcore Sex Video. “Porra, isto é tão… privado,” reflete o último enquanto o video começa. “É como se estivéssemos a ver algo que não era suposto, o que é exatamente o que o faz tão excitante. Se isto alguma vez é libertado…” 

Sim, o vídeo verdadeiro é - ou era - privado. Em contraste com vídeos pornográficos de celebridades atuais, não existe dúvida alguma que Lee e Anderson não tiveram qualquer envolvimento no seu lançamento. (Gauthier, por sua vez, também não tinha ideia nenhuma sobre os conteúdos do cofre que assaltou.) E, como a Pamela de Lily James salienta no trailer, a reação sexista ao vídeo corromperia a sua reputação enquanto que realçaria a persona rock ‘n’ roll de Lee. (Lee famosamente iniciou a sua biografia com uma conversa entre ele e o seu famoso pénis.) “Não é nada de especial para mim - eu estou no vídeo, tal como tu”, diz o Tommy Lee de Sebastian Stan no trailer, ao que Pamela responde, “Não, como eu não estás.” (Significativamente, quando o Ingley da vida real originalmente registou o site, escolheu os nomes pamsex.com, pamlee.com, e pamsextape.com.)  

Tudo isto levanta a pergunta: porque é que esta situação está a ser revisitada para a televisão sem o consentimento ou envolvimento de Anderson? Num clima pós #MeToo, é difícil imaginar que qualquer plataforma de streaming dê a luz verde para uma série sobre o escândalo do leak das nudes de celebridades de 2014 - muito menos se estas fotos tivessem sido tiradas no meio de uma relação abusiva. Porque é que esta situação é diferente? Em parte, eu espero, é o legado das reações das pessoas ao vídeo nos anos 90. A opinião geral do público foi que Anderson e Lee disponibilizaram o vídeo como um golpe publicitário. A Penthouse, que escreveu sobre a existência do vídeo na sua capa, acompanhada de polaroids de Pamela nua, teve os seus advogados a argumentar que, já que esta já tinha posado nua e já tinha falado sobre a sua vida sexual em entrevistas, abdicou do direito que o vídeo ficasse privado.      

O realizador Craig Gillespie está claramente consciente do medo que a sex tape gerou em Anderson e, de forma mais reduzida, em Lee. “Todos os segundos que passam, este vídeo pode estar a ser espalhado,” diz James ansiosamente. Na vida real, o casal tomou ação legal para parar a sua distribuição - eventualmente chegaram a um acordo privado com o grupo Internet Entertainment Group - mas a esse ponto o mal já estava feito. O 2000 Guinness Book of World Records deu a Anderson o prémio de “most downloaded star” na história, enquanto que um artigo da Rolling Stone reportou que milhões de websites tinham Pamela Anderson nos seus metadados numa tentativa de aumentar tráfego - independentemente se estava ou não na sua página. Em que mundo é que esta série vai fazer alguma coisa para além de dar vida ao vídeo - e sobressaltar a sua existência a uma nova geração?     

Se calhar foi Courtney Love, uma amiga de longa data de Anderson, que o disse na agora publicação apagada de Facebook em maio passado. “Acho completamente revoltante”, escreve, enquanto partilha as suas memórias de ser uma das poucas “mulheres sozinhas" a gravar música em Hollywood após o leak do vídeo. "Todos os engenheiros/produtores/proprietários estavam a ver a sex tape com imenso schadenfreude [e] gargalhadas. Foi nojento. Bani toda a gente [de] falar sobre ele. Destruiu a vida da minha amiga Pamela. Completamente.” As palavras de despedida? “Cavalheiros não aprovam este género de coisa.” 

Hayley Maitland By Hayley Maitland

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