The Ugly Stepsister (2025)
Este ano, o cinema não foi confortável — nem consensual. Refletindo um mundo fragmentado, ansioso e em constante transformação, os realizadores afirmaram visões fortes, os atores vestiram novas máscaras e os géneros continuaram a ramificar-se. Assim, reunimos 10 filmes que nos conduziram numa viagem pela magia do cinema ao longo do ano.
A sétima arte tem o condão de nos transportar para mundos imaginários, onde cada realidade é desenhada ao mais ínfimo pormenor. Entre cortes bruscos, géneros que coexistem na mesma cena e personagens que procuram perceber a que história pertencem, surge um panorama fragmentado, remexido e, consequentemente, profundamente revelador do nosso tempo. Numa retrospetiva das obras que compuseram 2025, reunimos 10 filmes que fizeram deste ano menos sobre consensos e mais sobre tensão.
One Battle After Another
Paul Thomas Anderson regressa à tela com um filme que rima com resistência. One Battle After Another é político sem ser panfletário, contando com camadas humanas e desumanas de procura pessoal. A história desenrola-se numa cronologia de confrontos pessoais e ideológicos, onde o passado nunca está realmente resolvido e cada vitória é apresentada com um novo desafio. Protagonizado por Leonardo DiCaprio, Regina Hall e Sean Penn, o filme mostra o desgaste humano através da precisão cirúrgica a que Thomas Anderson nos tem vindo a habituar.
Sinners
Depois da transição do cinema independente para grandes produções, Ryan Coogler apresenta-nos Sinners. Um filme que mergulha num território moralmente pantanoso, onde a sensação de culpa, do desejo e da redenção coexistem sem hierarquia definida. Protagonizado por Michael B. Jordan em múltiplos papéis, Hailee Steinfeld e Delroy Lindo, neste enredo vive-se uma atmosfera densa, quase febril. Um filme que não julga mas também não convida, em que a intenção do desconforto mostra o ritmo e a recusa de oferecer respostas simples.
Naked Gun
O regresso do icónico Naked Gun, anteriormente protagonizado por Leslie Nielsen, traz-nos agora Liam Neeson no papel principal, acompanhado por Pamela Anderson num inesperado regresso à comédia. O clássico absurdo nas mãos de Akiva Schaffer transforma-se numa sátira consciente. Com um intervalo de 31 anos entre lançamentos, o humor continua exagerado e físico. A camada extra veio em forma ironia sobre a autoridade, a masculinidade e a socialização. Neeson ataca-se a si mesmo, mostrando que a autocrítica cómica pode ser uma forma legítima de redescoberta.
F1
Ao realizar F1, Joseph Kosinki não tirou o pé do acelerador. Protagonizado por Brad Pitt, Damson Idris, Kerry Condon e Javier Bardem, este filme não se trata apenas de corridas, mas sim, sobre a obsessão e o desgaste psicológico da alta performance. Com câmaras construídas propositadamente para conseguirem aguentar a força de cada curva, assim como a paragem e a aceleração de um carro de Fórmula 1, as sequências na pista são filmadas com um realismo impressionante. Ainda assim, o coração do filme encontra-se nos bastidores com o silêncio, a tensão e a solidão que acompanham quem vive para ganhar. A performance de Pitt demonstra melancolia, amadurecimento e distância do arquétipo do herói invencível.
Weapons
Depois do sucesso de Barbarian, Zach Cregger dá-nos Weapons, um filme protagonizado por Josh Brolin, Julia Garner e Alden Ehrenreich. Ao construir uma narrativa fragmentada, o medo toma formas estruturadas, difusas e psicológicas. Cregger reflete um mundo em permanente estado de alerta, onde a perda de controlo e a paranoia são os temas principais deste terror – o que confirma o interesse do realizador em ser uma das vozes mais pesadas do género na atualidade.
Bugonia
Protagonizado por Emma Stone e Jesse Plemons, Bugonia acompanha dois homens convencidos de que uma poderosa CEO é uma entidade extraterrestre infiltrada na Terra. Yorgos Lanthimos regressa ao cinema de desconforto com uma mistura de temas – como a conspiração, a sátira social e a paranoia coletiva –, uma linguagem visual estimulante com humor seco e personagens emocionalmente ocas, onde o ridículo é transformado em inquietação. Bugonia não procura respostas, limita-se só a observar, com precisão clínica, um mundo onde a irracionalidade já não se precisa de disfarçar.
The Ugly Stepsister
Numa reinterpretação do conto de fadas da narrativa clássica de Cinderela, em The Ugly Stepsister, Emilie Blichfeldt explora a violência simbólica da exclusão e da beleza. Com Lea Myren no papel de Elvira, a meia-irmã da princesa, a fantasia é trocada pelo desconforto. Emocionalmente implacável e visualmente estilizado, o filme transforma-se num conto moral sem redenção fácil, alimentando a nova onda de cinema que revisita mitos antigos, revela feridas contemporâneas e dá novas perspetivas.
Smashing Machine
Uma das performances mais surpreendentes de Dwayne Johnson, Smashing Machine acompanha a vida do lutador Mark Kerr, mostrando o lado físico e emocionalmente devastador do combate profissional. Longe do glamour, o filme mostra a natureza, a profundidade e a intensidade humana quando, numa luta consigo mesmo, Johnson abandona a persona de estrela e nos dá um retrato vulnerável num dos dramas mais físicos do ano.
Rental Family
Protagonizado por Brendan Fraser, Rental Family explora o fenómeno japonês de alugar famílias, tendo a solidão, o afeto e a pertença no centro da mesa de discussão. Quase contemplativo, a realizadora Hikari opta por um tom delicado. Com uma performance contida e profundamente empática, Fraser entrega um filme que encontra humanidade nos gestos mais simples.
If I Had Legs I’d Kick You
Com Rose Byrne a experienciar o decorrer das ações em simultâneo com a audiência, este é um dos retratos mais crus e desconcertantes da última década. Mary Bronstein constrói um filme sobre a maternidade, a dor crónica, a frustração e a raiva mal gerida, enquanto afasta qualquer tipo de sentimentalismo. O filme conta com Conan O'Brien e Rakim Mayers – mais conhecido por ASAP Rocky – que demonstram uma fisicalidade com pouca distância do espetador, chegando mesmo a ser emocionalmente exaustivo, ao mesmo tempo que deixa espaço para humor.
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