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Project: Vogue Union | Olga Noronha, a artista indomável

01 Sep 2020
By Ana Murcho

A criatividade, para ser criatividade, não pode ter limites. E, para Olga Noronha, não tem.

A criatividade, para ser criatividade, não pode ter limites. E, para Olga Noronha, não tem.

Olga Noronha fotografada por Joel Bessa
Olga Noronha fotografada por Joel Bessa

Falar de Olga Noronha é falar de inovação, de irreverência e de ambição. Natural do Porto, onde nasceu em 1990, a designer de joias é um dos nomes mais importantes na joalharia de autor com selo nacional - e, arriscamos, dizer, internacional. Porque as suas peças não são “normais.” Olga une a tradição de técnicas históricas, como a filigrana, a práticas mais contemporâneas (e aqui insere-se a manipulação de, por exemplo, materiais médico-cirúrgicos), conseguindo um resultado final que já atraiu nomes como Rihanna e Daphne Guinness. Mas como é que tudo começou? “Para ser franca não sei onde iniciou a paixão. Não há história de joalheiros nem designers ou artistas de profissão, na família. Talvez tudo tenha começado aos seis, sete anos, com as missangas. Como quase todas as meninas dessa idade, passava os dias absorta nos fios e contas. Um dia, um vizinho ofereceu-me uma caixa de madeira com diversos compartimentos e alicates. Comecei por pedir à minha mãe que me comprasse arames e, assim, comecei a manipulá-los, juntamente com pedras e outros materiais, construindo as minhas primeiras ‘joias (pré-históricas)’. Algumas delas estão publicadas no livro 1000 Jewelry Inspirations: Beads, Baubles, Dangles, and Chains, de Sandra Salamony, de 2008.” O resto aconteceu naturalmente, como tinha de ser, já que o seu destino estava traçado.

Vestido em pele, Olga Noronha. Fotografia de Carlos Teixeira. Styling de Veronica Bergamini. Vogue Portugal, maio/junho 2020.
Vestido em pele, Olga Noronha. Fotografia de Carlos Teixeira. Styling de Veronica Bergamini. Vogue Portugal, maio/junho 2020.

“Aos 11 anos dei os primeiros passos na joalharia contemporânea, frequentando a escola Engenho & Arte, e, após finalizar o ensino secundário na escola Soares dos Reis, rumei a Londres, aos 17 anos, para a Central Saint Martins College of Art & Design, onde fui fazer um Foundation Course in Art & Design. Em 2009, para minha grande felicidade, fui galardoada com o prémio de melhor trabalho desenvolvido nos (até então) 21 anos desse curso e expus juntamente com Alexander McQueen e Hussein Chalayan. Licenciei-me em Design de Joalharia pela mesma faculdade, em 2011 e, de seguida, fui admitida como investigadora no CITAD (Centro de Investigação em Território, Arquitetura e Design – Fundação para a Ciência e a Tecnologia). No mesmo ano fui convidada a lecionar na Central Saint Martins College of Art & Design e a ser palestrante em Winthrop University, nos Estados Unidos, e na Escola Superior de Artes e Design, em Portugal. Em 2012 concluí o Mestrado de Investigação em Design (MRes) na Goldsmiths College, University of London, sendo seguidamente premiada com uma bolsa de mérito para doutoramento (Design Star Consortium – Arts and Humanities Research Council, mais conhecida como AHRC), concluída em 2017.” Atualmente doutorada (PhD), além de todas as instituições académicas a que se encontra ligada, a artista tem ainda laços com o Museo Del Gioiello Vicenza, em Itália, onde assume o papel de curadora.

"Cada série de peças que desenvolvo e apresento são a catarse e o espelho do meu estado emocional no momento de criação. São puras extensões do meu Eu."

Com semelhante curriculum, valerá a pena voltar ao início e sublinhar que Olga Noronha, cuja presença habitual na ModaLisboa se tornou um dos pontos altos do evento, nasceu em 1990, ou seja, só este ano celebrará 30 anos. E que nem isso a fez abrandar, acomodar-se, acanhar-se. Bem pelo contrário. Quando lhe perguntamos se alguma vez pensou desistir de tudo e mudar de área responde com um rotundo “Nunca!”, e talvez por isso consiga justificar tão bem porque escolheu este trabalho, esta área, se ainda sente as tais borboletas na barriga por ter decidido seguir em frente: “Todos os dias! Amo o que faço e tenho a sorte de ser reconhecida e viver bem do que amo fazer!” Talvez por isso, também, não deseje voltar atrás e refazer nenhuma coleção: “Cada série de peças que desenvolvo e apresento são a catarse e o espelho do meu estado emocional no momento de criação. São puras extensões do meu Eu.” No entanto, consegue escolher, com facilidade, uma peça do seu já extenso portefólio que melhor representa o seu ADN: “O Colar Cervical de Filigrana. Porque é a obra que melhor espelha todo o carácter inter e transdisciplinar da minha obra (Arte, Design, Ciência) e porque foi, sem dúvida, a obra que mais curriculum me deu.” E é igualmente com tranquilidade que aponta um hipotético slogan para a sua marca homónima: “Um plágio a Fernando Pessoa! ‘Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.’"

Colar Cervical de Filigrana
Colar Cervical de Filigrana

Mas e este ano? Como se está a passar este ano “anormal”? Olga não segue ondas nem movimentos, produz ao seu ritmo, por isso perguntar-lhe por coleções primavera/verão ou outono/inverno é como tentar abrir uma fenda na sua criatividade. “Eu não desenvolvo 'coleções' focadas em tendências. Planeio performances e deixo que as minhas obras (esculturas usáveis) sejam veículos de emoções. Quanto muito, poderão estas aquecer ou esfriar almas... Fora o carácter escultórico, a Stivali continua a disponibilizar novas peças que para eles desenvolvo em exclusivo e a Boutique dos Relógios detém, de momento, a minha primeira coleção de joalharia de luxo!” Novidades, portanto. E se lhe pedíssemos para fazer uma colaboração com um colega da área? Noronha não se compromete: “Como designer de joalharia per se, tantos... Como artista, enveredaria mais, talvez, por arquitetos e designers de Interiores...” Mudamos o rumo da conversa. O que é que gostaria que lhe perguntassem numa entrevista, mas nunca o fazem? E o que responderia? “Francamente não sei! Acho que mesmo que não me perguntem algo que eu pense ser pertinente, eu direciono a conversa de forma a dizê-lo.” E, no extremo oposto, qual foi a pior pergunta que já lhe fizeram? “Venham todas as perguntas! Não tenho segredos! Ou será que tenho? (risos)” Para terminar, e porque este é um projeto de união, queremos saber se esta é uma utopia ou um sonho impossível. “Eu acho que é mais que possível! Afinal, como diria a nossa mais que tudo (Eduarda Abbondanza), ‘O futuro é colaborativo.’” E se depender de Olga Noronha, artista indomável, será não apenas colaborativo, mas maravilhoso.

Ana Murcho By Ana Murcho

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