Numa edição que se assume sobre a Moda e pela Moda, os designers nacionais regressaram à passerelle da Lisboa Fashion Week para apresentar as suas coleções para a próxima estação quente.
Num regresso às origens que celebra as pessoas, sistemas e linguagens que constituem a Moda, a 65ª edição da Lisboa Fashion Week, que decorreu entre os dias 1 e 5 de outubro, levou o universo criativo e artístico da Moda às ruas da capital. Sob o mote de Base, esta edição da ModaLisboa surge como uma autorreflexão, e relembra a missão do evento de projetar o talento emergente que nos chega todos os anos e também de apoiar os nomes que dedicam o seu génio criativo à arte que é a Moda. Assim, entre palcos como o Pátio da Galé (que se manteve como epicentro criativo do evento), o MUDE e a Fashion House, os principais criadores do panorama nacional assumiram o controlo das passerelles para apresentar as suas propostas para a primavera/verão 2026.
Com 23 apresentações no calendário, a primeira fase do concurso Sangue Novo inaugurou a passerelle do Pátio da Galé. A iniciativa que visa formar e estabelecer novos talentos na Moda apresentou as propostas de oito designers emergentes, e definiu os cinco finalistas que irão apresentar as suas novas coleções durante a próxima edição da ModaLisboa, em março de 2026: Adja Baio, Ariana Orrico, Mafalda Simões, Mariana Garcia e Usual Suspect.
Numa apresentação em formato workstation, Francisca Nabinho inspirou-se na obra de Almada de Negreiros para criar uma coleção que visa a alegria como um sentimento e força vital, através de propostas que primam pela cor, pelos padrões saturados e pela repetição rítmica de elementos. Por sua vez, Bárbara Atanásio optou por um rumo mais apocalíptico e explorou a ideia de que, por vezes, é preciso destruir (e desconstruir) para criar. A designer apresentou uma coleção regida pela anarquia e pela resistência, onde peças com recortes e silhuetas volumosas assumiram o protagonismo.
Para a próxima estação quente, Alves/Gonçalves apresentou uma coleção repleta de propostas com silhuetas volumosas e geométricas, numa perspetiva irreverente do guarda-roupa feminino. Num jogo de texturas entre plissados, rendas e patchworks que espelha a tensão inevitável entre o natural e o artificial, os detalhes surgem como ponto central da coleção – e abrem a possibilidade a uma infinidade de interpretações e reflexões.
O primeiro dia de desfiles da ModaLisboa terminou com a estreia da 2B, a marca fundada por Bárbara Bandeira. Entre a alfaiataria desconstruída, peças com detalhes metalizados e uma pitada de ousadia, a coleção, 100% produzida em Portugal, celebra a dualidade entre o masculino e o feminino e a força e a vulnerabilidade, e cada peça surge como uma expressão de liberdade pura – alheia ao género, ao tempo e até a tendências.
Numa apresentação que espelha o orgulho e a dedicação que rege a indústria portuguesa do calçado, a Portuguese Soul by APICCAPS contou uma história que vai para lá da Moda. Entre marcas como Ambitious, Sanjo, Valuni, Penha e Miguel Vieira, as novas propostas da iniciativa – desenvolvidas no âmbito do projeto BioShoes4all – voltam a afirmar o seu compromisso para com a sustentabilidade e a criatividade, e provam que a tradição e a inovação podem (e devem) andar a par e passo.
Apresentadas em formato workstation, as propostas de Mestre Studio tecem uma narrativa para o futuro ao olhar para o passado. Numa colaboração com a marca de calçado Hunter, a nova coleção do designer olha para a efemeridade associada à Moda não como um obstáculo, mas como parte fundamental da sua natureza cíclica. Assim, sob o mote de Trugia – que remonta ao vocabulário popular do Alentejo – surgem silhuetas em malhas, bordados e padrões de outrora, inspiradas nos recantos perdidos das nossas vivências e na beleza inesperada do que vive para além do seu tempo.
De regresso ao universo do calçado, a coleção de Luís Onofre desafia os códigos clássicos da cor. De stilettos ousados que dão vida a silhuetas elegantes a cunhas reinterpretadas sob uma visão contemporânea, o criador apresentou propostas que primam pela sua improbabilidade estética – através de texturas, paletas e formas que espelham a feminilidade e celebram o movimento.
Após a (notável) ausência na edição de março, Béhen levou-nos até ao piso superior do MUDE para apresentar a sua mais recente coleção. Num formato íntimo que reflete a essência singular das peças, Bem Me Quer, Mal Me Quer é uma ode ao saber-fazer português e reforça a criadora Joana Duarte como uma das principais forças criativas do panorama nacional. Num diálogo entre a tradição que rege o passado, o presente e o futuro, a coleção – desenvolvida no estúdio lisboeta da marca – surge de materiais e técnicas com história, e dá vida a silhuetas que vivem no limiar entre o contemporâneo e o intemporal.
Para encerrar o segundo dia de desfiles da ModaLisboa, Carlos Gil inspirou-se no espírito eclético e cosmopolita que advém de uma cidade que nunca para nem abranda. As propostas do criador para a próxima estação assumem linhas fluidas e formas ousadas em padrões dinâmicos e paletas saturadas, e evocam o excesso como um manifesto de liberdade e identidade.
O último dia da ModaLisboa arrancou em Alfama, no Castelo Hi Hi Hi, com a apresentação de Constança Entrudo. Em colaboração com o espaço – um híbrido entre loja independente e estúdio criativo – e também a Humana, a coleção da designer surge como uma crítica e uma solução ao sistema de produção excessiva que advém do rápido ciclo da Moda. Intitulada Faux Chic, as novas propostas reinterpretam materiais obsoletos e em segunda mão em novas formas, e convidam-nos a (re)pensar a forma como consumimos e construímos o guarda-roupa. Por sua vez, Nuno Baltazar levou-nos ao terraço do MUDE para apresentar a segunda parte de Intermission (a primeira parte foi apresentada na edição de março). Entre propostas que referenciam o arquivo do criador, a coleção espelha o misto de sentimentos que se segue à tristeza e a forma como reagimos à adversidade, e destacam-se peças como vestidos e saias de lantejoulas, silhuetas femininas, brocados e fatos que honram os códigos da alfaiataria.
Já no Pátio da Galé, Arndes celebrou a multiplicidade de um verão em constante metamorfose. Numa apresentação em formato workstation, a designer apresentou uma coleção com uma paleta neutra repleta de silhuetas fluidas e cortes contemporâneos. Sob o mote de Veraneio, as propostas surgem como um devaneio criativo que vive entre a memória e o futuro, através de peças versáteis que nascem do que se esconde para lá da tradição e da inovação.
Numa ode ao espírito inquieto que advém da essência da criatividade, a coleção de primavera/verão 2026 de Dino Alves nasce como um verdadeiro exercício de liberdade e autenticidade artística. O criador apresentou propostas contrastantes e numa paleta cromática vasta, onde os detalhes (e a sua repetição) assumiram o protagonismo. No que ao calçado feminino diz respeito, a coleção contou também com uma colaboração entre Dino Alves e Rêve de Flo.
Por fim, Luís Carvalho encerrou a passerelle do evento com uma coleção inspirada pela união e os contrastes que a definem. Entre propostas que nascem do limbo criativo entre o minimalismo e a opulência, as propostas do designer assumem uma composição que prima pelas camadas e honra a complexidade do movimento. Além disso, a coleção, intitulada de Union, visa também o compromisso da marca com a sustentabilidade e dá uma nova vida a materiais com fibras recicladas ou provenientes de deadstocks.
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