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"Life in Paris": um testemunho do quotidiano parisiense por Meyabe

25 May 2022
By Sara Andrade

"O detalhe é tudo. Às vezes, é na simplicidade que apreciamos uma imagem. A vida é simples no dia a dia e o meu papel é destacar esses detalhes. Vejo tudo o que fazemos como uma obra de arte", diz Meyabe, o nome por detrás das imagens que compõem este coffee table book já disponível.

"O detalhe é tudo. Às vezes, é na simplicidade que apreciamos uma imagem. A vida é simples no dia a dia e o meu papel é destacar esses detalhes. Vejo tudo o que fazemos como uma obra de arte", diz Meyabe, o nome por detrás das imagens que compõem este coffee table book já disponível.

São 235 as imagens que compoem este compêndio das imagens captadas pelo fotógrafo que se move pela curiosidade: curiosidade dos pormenores, do mundano, dos recantos, dos close-ups, da vida a acontecer. A paixão pelo enquadramento perfeito fê-lo colecionar uma série de stills pelas ruas de Paris que agora acabam num livro editado pela conceituada OFRParis, mas que não se esgotam nas 250 páginas que preenchem a publicação. São antes o Era uma vez... de histórias que começam com o toque do papel e que se desenrolam na nossa imaginação, nas mesmas tonalidades com que Meyabe imprime o seu ponto de vista. Não é à toa que, na dedicatória do livro que folheámos avidamente entre mãos, o autor nos tenda dito: "photography is an endless story" [a fotografia é uma história interminável].

A propósito do lançamento do livro deste apaixonado pelo design que desperta emoções, a Vogue colocou Meyabe em discurso direto para saber mais sobre este projeto e as inspirações que o movem pelas ruas de Paris.

Quando fotografa, o que capta a sua atenção? As pessoas, a cidade, uma mistura de ambos?

É muito difícil explicar por palavras, mas desde que nasci que tenho uma hipersensibilidade aos movimentos. Cada gesto que percebo transforma-se numa melodia na minha cabeça, e eu (tento) capturar esse momento. A cidade tem uma influência no comportamento das pessoas, inconscientemente, o lugar traz um ritmo diferente às minhas fotografias, como uma coreografia. A rua oferece e eu aceito e levo comigo. 

O que procura numa imagem?

Quero transmitir uma emoção que vai para além da imagem. Abrir todos os sentidos, sentir o movimento, os sons e o cheiro de uma fotografia. Às vezes, há vários níveis de leitura no que quero mostrar.  Sociologicamente, é interessante observar o que nos rodeia. Acima de tudo, gosto de oferecer essa liberdade de imaginar a história de alguém quando apresento uma fotografia. O meu amor pelo cinema, assim como a minha formação em escrever argumentos, inevitavelmente influenciam quando fotografo. A adrenalina é o meu combustível, tenho que me divertir, senão, não vejo sentido em fazê-lo.

Como surgiu esta ideia para um livro?

Marie e Alexandre Thumerelle fundaram a OFRParis, uma famosa livraria localizada no centro de Paris. Em 2021, publicaram Life in Paris, uma retrospectiva das primeiras 171 publicações da OFRParis nos últimos 25 anos (1996-2021). Posteriormente, os fundadores quiseram oferecer uma série Life in Paris aos artistas, com o objetivo de partilhar o amor pela cidade de Paris a partir de diferentes perspectivas. Sou fã de revistas, livros de fotos, frequento esta livraria há anos. Com o tempo, fomo-nos conhecendo e eles viram as minhas fotografias. Graças a eles, pude fotografar com total liberdade grandes artistas como Paolo Roversi ou Juergen Teller para eventos. No final de 2021, inicialmente, o Alexandre convidou-me para participar na série, contribuindo com algumas fotos para o seu projeto Life in Paris, dizendo depois que, no final, ficara decidido que o novo livro seria exclusivamente com as minhas imagens. Apesar de algum nervosismo, eu aceitei de imediato. Ser publicado é o maior presente que se pode ter quando fazes fotografia.

Quando fotografa, aborda sempre as pessoas para dizer que as quer fotografar? E dizem sempre que sim?

Fotografo todos os dias. A rua é o meu espaço de liberdade onde coloco certos limites a mim mesmo. Sou sempre benevolente, nunca pretendo prejudicar a imagem dos meus protagonistas. Sou um observador, nunca perturbo o curso de uma ação para poder extrair dela o melhor. No entanto, gosto de partilhar com quem fotografo. Por exemplo, um dia fotografei um estranho que tinha uma elegância notável. Alguns dias depois, reconheci-o na rua e mostrei-lhe a foto. Ele adorou e lembrou-se de mim porque eu tinha uma maneira particular de segurar a câmara quando o obturador era disparado. Ele viu o livro e adorou. É por momentos como estes que fotografo. Sem risco, a fotografia de rua não faz sentido.

Qual é a sua foto favorita do livro?

Em janeiro de 2019, deixei de conseguir ter acesso ao desfile da Balmain, tive que ficar do lado de fora. Estava escuro. As modelos tiveram que passar na rua para ir ao desfile. Os seguranças tiveram que esconder a maquilhagem. Um fotógrafo deve adaptar-se a todas as situações. Esta série que intitulei de Ghost in Paris simboliza tudo o que me caracteriza na minha prática, sou um apaixonado. O tema japonês do desfile coincidiu com a atmosfera desta noite de inverno. Foi como um sinal para mim, o verdadeiro desfile era na rua. Eu tive uma das minhas maiores descargas de adrenalina naquele momento.

Foi fácil ou difícil escolher as fotos para o layout final?

Para a concepção do livro, o diretor artístico Magnus Naddermier tratou de tudo. Enviei-lhe quase 2.000 fotografias e ele próprio compôs o layout e a escolha das imagens. Isso permitiu-me dar um passo atrás em todas as minhas imagens e ter outro olhar. Ele trabalhou dois meses com uma apresentação das primeiras 50 páginas para validação com o Alexandre e a Marie.

As imagens são da vida quotidiana em Paris - o que o entusiasma no mundano? A vida realmente está nos detalhes mais simples?

O detalhe é tudo. Às vezes, é na simplicidade que apreciamos uma imagem. A vida é simples no dia a dia e o meu papel é destacar esses detalhes. Vejo tudo o que fazemos como uma obra de arte.

O que torna Paris tão especial para fotografar?

É uma cidade que reúne muito estilo em todos os bairros. Viajamos em minutos. Os habitantes de Paris estão em perpétuo movimento. É uma cidade surpreendente a cada dia. Cada parisiense deseja distinguir-se individualmente por uma atitude, um estilo de vestir, um pormenor que conseguirá distingui-los dos demais. Eu aproveito isso na fotografia.

Qual seria a próxima cidade que gostaria de fotografar?

Eu tive uma verdadeira paixoneta por Portugal ao longo de alguns anos, mesmo que eu não saiba a língua. Temos a sorte de ter alojamento em Olhão, onde passo todos os meus verões. Fotografei uma série de fotos na Carrapateira, no ano passado. Gostaria de ter a oportunidade de fotografar o Porto à minha maneira.

Life In Paris - The first 235 photographs by Meyabe (2016-2022), editado por OFRParis, €39, na Amazon.es. 

Sara Andrade By Sara Andrade

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