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John Galliano: "Estou muito feliz a trabalhar desta maneira."

07 Oct 2020
By Sarah Mower

O diretor criativo fala sobre a parceria com fotógrafo britânico Nick Knight para a coleção da primavera/verão 2021 da Maison Margiela, o novo filme gravado durante a pandemia e ainda como uma experiência em Buenos Aires se tornou a inspiração para a sua mais recente coleção.

O diretor criativo fala sobre a parceria com fotógrafo britânico Nick Knight para a coleção da primavera/verão 2021 da Maison Margiela, o novo filme gravado durante a pandemia e ainda como uma experiência em Buenos Aires se tornou a inspiração para a sua mais recente coleção. 

Para John Galliano, talvez o maior contador de histórias da Moda de todos os tempos, dar o salto para a era das imagens em movimento está a revelar-se um verdadeiro presente. Em julho, estava na vanguarda a quebrar barreiras entre fronteiras, lançando S.W.A.L.K, uma fascinante história, em vídeo, sobre a realização da coleção Maison Margiela Artisanal outono/inverno, que fez em colaboração com Nick Knight, ao invés de apresentar um desfile durante a Semana de Moda de Alta-Costura. 

Para esta estação, regressa com um S.W.A.L.K 2, a sequela. A coleção, que Galliano define como co-ed, segue a pesquisa artesanal para o prêt-à-porter - e leva o seu elenco de personagens para dançar o tango numa Buenos Aires imaginária. Na verdade, este vídeo foi filmada com Knight e membros da equipa da Maison Margiela durante uns dias passados na Toscana. Galliano fez uma pausa para partilhar os seus pensamentos numa conversa de Zoom sobre a coleção e de como está a abraçar, de forma abrangente, esta oportunidade de mostrar as suas ideias numa nova forma. 

Hello John! Esta é a segunda estação em que não há desfile. Há alguma de que sente saudade? 

Mas isto é um desfile. Isto é a minha proposta de como gostaria de mostrar a coleção. Não estamos apenas a criar um desfile. O que quero transmitir agora é que esta é a melhor maneira de o fazer. Quantas pessoas conseguem ver como são feitos os toiles, como é que todas as peças do puzzle de uma coleção se juntam - o cabelo, a maquilhagem, a música, todo o processo? É realmente emocionante envolver os jovens neste processo. E abrir todas as plataformas para nos envolvermos e dialogar com as pessoas. A ideia de fazer um desfile agora é apenas: really?

Porquê filmar na Toscana?

Sempre foi planeado filmar em Londres, mas as novas restrições tornaram isso impossível. Viemos então para Itália. A equipa foi toda testada, tivemos uma equipa médica durante as gravações, está tudo higienizado, temos máscaras, distanciamento social, tudo como deve ser. 

Pelo que ouvi, os cidadãos italianos são incrivelmente rigorosos e atentos a todos os protocolos. 

Sim. Na verdade, sentimo-nos incrivelmente seguros aqui. Mais seguros do que em Paris ou Londres, para ser sincero. 

Qual foi o ponto de partida para esta estação?

Dei ênfase à ‘industrialização artística’. O Artisanal inspira o pronto-a-vestir, vão poder ver as máquinas e o trabalho manual, o amor e o cuidado [das fábricas italianas]. Eles são apaixonados pelo trabalho. Vêm até ao atelier e vamos fazer seminários sobre como gostaríamos que uma bainha de alfinetes fosse feita. São muito respeitadores da Alta-Costura e das técnicas e vão tentar encontrar maneiras de fazer tudo isso de uma forma industrial. Acho que para algumas pessoas isso vai ser uma surpresa. 

Ver o outro filme, foi uma grande revelação poder ver a pesquisa que faz e ficar a perceber todas as técnicas de corte de que tanto fala. Na verdade, a explicar a sua linguagem de design. Em que direção foi para esta coleção?

Bem, é o tango com um novo twist. Tive uma experiência incrível em Buenos Aires, à procura da verdadeira cultura do tango. Não é aquele tango que vês nas esquinas, isso é para os turistas. É, na verdade, uma questão de encontros intergeracionais e privados que as pessoas só conhecem de boca em boca. 

Eventualmente, tive sorte ao receber um convite para um lugar. Estava escuro, havia gatos pretos a correr por todo o lado, a chuva caía pelo telhado. No andar de cima, havia uma homem, talvez nas casa dos 80 anos, cabelo penteado para trás, com um fato bem justo - a dançar com uma jovem vestida com roupas de hip-hop. Provavelmente, seria o avô a passar tradição. 

Foi isso que desencadeou esta coleção?

Fizemos pesquisa sobre a dança tango, fotos de casamento sul-americanos do século XIX. Imaginei um casamento. Véus. E queria trazer o ‘wet look’ que iniciámos na estação passada. 

Já tinha a narrativa e os personagens para trabalhar?

A noiva. Os convidados do casamento - a viúva, os gémeos, uma procissão. Alfaiataria rígida, corte para revelar o point d’esprit. Um tuxedo branco. Noutra secção, examinamos as danças dos anos 30. Evocamos o cansaço nas roupas; calças rasgadas…

De que forma é que, tecnicamente, passou esses visuais e sentimentos para as roupas?

Vamos poder ver alfaiataria, com ombros que parecem ensopados de chuva. O corte circular, que captou a aparência de um tecido molhado - que agora é possível encontrar numa sweater. Também quero explicar os números das linhas da Maison Margiela. O número 14, preso na parte de trás dos fatos dos anos 40, denota a emblemática linha de roupa masculina. Os fits e os cortes são permanentes, coisas pelas quais as pessoas voltam. O número 4 é a icónica linha de roupa feminina. Vai ser possível ver nas costas dos bailarinos. Mas na verdade, sabes, é tudo sem género. 

Produzir imagens de Moda em movimento muda tudo para os modelos que estão envolvidos. O que está a pedir para eles fazerem é muito mais do que andar numa passerelle. Eles tornam-se performers. 

As nossas ‘musas’! São 10 deles, que estiveram connosco no estúdio, na Rue Saint-Maur, em Paris, durante semanas. Trouxemos um professor de tango e todos os dias tínhamos aulas para eles se preparem para o filme. O compromisso deles foi absolutamente incrível. Foi mágico. Estou muito feliz a trabalhar desta maneira. 

Sarah Mower By Sarah Mower

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