Moda   Project Union  

Project: Vogue Union | Inês Torcato, a herdeira

15 Sep 2020
By Mathilde Misciagna

Assume uma estética baseada na reinterpretação dos clássicos e exploração de novos elementos formais numa busca pela perfeição visual. Todas as coleções são autorretratos e a inspiração vem sempre de uma análise da existência humana. Assim é Inês Torcato.

Assume uma estética baseada na reinterpretação dos clássicos e exploração de novos elementos formais numa busca pela perfeição visual. Todas as coleções são autorretratos e a inspiração vem sempre de uma análise da existência humana. Assim é Inês Torcato.

Portadora de um apelido consagrado no panorama da Moda nacional sem que isso tenha sido motivo de facilidades, com 14 anos começou a estudar Comunicação Audiovisual na Escola Artística Soares dos Reis e com 17 ingressou no curso de Artes Plásticas no ramo de Multimédia na Faculdade de Belas-Artes do Porto. Durante três anos pensou que o seu percurso passaria por aí: fotografia, cinema, multimédia. Acabou por desistir. Faltava alguma coisa na vida da jovem Inês Torcato.

Foi assistente do fotógrafo de Moda Frederico Martins durante uns meses e foi nessa altura que o design de Moda surgiu com uma possibilidade. Duas semanas depois estava a estudar Design, primeiro na Universidade da Beira Interior e depois na ESAD. Ganhou alguns prémios - entre eles o L'Aiguille D'Or do Atelier des Créateurs e o prémio Vogue atribuído pelo púbico no Porto Fashion Film Festival com o filme "Icarus" - até concorrer ao Bloom do Portugal Fashion em 2016 arrecadando o segundo lugar. Com a liberdade veio a responsabilidade de estar à altura das expetativas. E superou-as com distinção, até ser convidada a integrar a plataforma principal do Portugal Fashion – onde se mantém até hoje.

Primavera/verão 2020, fotografia de Dulce Daniel
Primavera/verão 2020, fotografia de Dulce Daniel

Em momentos de maior desmotivação, admite já ter questionado a sua decisão. “As dificuldades em rentabilizar a marca, o investimento que é necessário durante muito tempo quase sem retorno, as portas que se fecham porque somos pequenos. Tudo isto são fatores desmotivadores, mas há sempre alguma coisa que incentiva, que nos faz sentir que ainda vale a pena. Só é preciso algum foco e capacidade de adaptação aos desafios que vão surgindo.” Criatividade não lhe falta, nem para encontrar soluções nem para desenvolver coleções. Sempre que há algum prémio, algum convite, algum artigo que a mencione, Inês percebe que conseguiu passar a mensagem. A sua mensagem de individualidade. “Um dos momentos mais simples e marcantes aconteceu quando recebi pela primeira vez uma identificação no Instagram de um cliente. Era uma fotografia de um cliente australiano que provavelmente comprou as peças através de alguma plataforma online, e estava a usar um hoodie e umas botas numa festa com amigos”, conta Inês numa troca de e-mails com a Vogue. É para isto que trabalha, para ajudar as pessoas a transmitirem a sua identidade ao mundo.

Eterna insatisfeita, tem sempre vontade de refazer as coleções assim que as termina. “No dia do desfile acho sempre que está tudo errado e faria tudo diferente”, confessa. No momento acredita que o faria, se pudesse, mas na realidade e com o distanciamento necessário não alterava nada. Tudo faz parte de um percurso, de uma aprendizagem, de uma evolução. “Aquilo que estava "mal" antes, estará melhor depois!”, remata. Foi com este mindset que deu o primeiro passo num caminho mais sustentável e consciente.

Acarinhar a nossa Casa é uma necessidade e um dever que Inês abraça sem pensar duas vezes. Aproximadamente 90% da coleção primavera/verão 2020 é de origem reciclada, orgânica, natural e vegetal, sendo que o outono/inverno 2020 - a que chamou A Esfera - funcionou como uma continuação temática primando pelo não desperdício. A roupa comunica com quem a veste e é, ao mesmo tempo, uma poderosa forma de comunicar. E isso é diferente para todos, sem distinções, sem género. A Esfera, revelada online por consequência da pandemia, conta por isso a história de uma sociedade onde a pluralidade do ser é tão plural e a diferença tão identificadora, que a pluralidade se torna unidade. Uma sociedade futurista onde as diferenças são valorizadas em vez de criticadas. Inês insiste na igualdade até que um dia o preconceito deixe de ser lido no dicionário e a nossa esfera seja est’A Esfera idealizada pela designer

Tendência é uma palavra que não faz sentido para Inês Torcato, que acredita que o mais importante é sentirmo-nos bem com a nossa pele. Ao Notícias Magazine refere que “mais do que aquilo que a Moda dita, imagina um mundo onde a roupa que vestimos é a que reflete quem somos. É roupa livre.” Quando lhe questionamos acerca da união na indústria, aponta para o facto de que esta já existe em parte. “Talvez não exista tempo por parte dos designers para pegar nela e fazer alguma coisa disso. É pena que não seja trabalhado, mas contra mim falo que nunca consigo parar!”

Pode encontrar as peças da designer Inês Torcato no número 118 da Rua Sacadura Cabral no Porto, na loja Wrong Weather com edições especiais e coleções cápsula-exclusivas e também online na Farfetch. 

Mathilde Misciagna By Mathilde Misciagna

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