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Curiosidades 3. 11. 2021
Com a estreia do filme de Ridley Scott agendada para o dia 25 de novembro, eis um perfil sobre a Lady Gucci, dos anos de glamour à prisão em San Vittore e muito mais.
27 de março de 1995. Milão, três tiros matam Maurizio Gucci, que tinha deixado a sua casa em Porta Venezia para entrar nos escritórios da Via Palestro. E mesmo no hall de entrada, diante dos olhos incrédulos do porteiro, o herdeiro de uma das famílias mais famosas da indústria da Moda caiu no chão. A notícia esteve na primeira página dos jornais durante dias, e nas aberturas dos jornais televisivos em Itália e noutros países. As investigações ocorreram durante dois anos. A única certeza era que o assassino não era um profissional.
É claro que não era um profissional. Tudo o que foi preciso foi uma dica à polícia para levar todas as atenções à “Banda Bassotti”, que Patrizia Reggiani, a antiga Lady Gucci, tinha escolhido, em colaboração com Pina Auriemma, uma ilusionista auto-intitulada, para matar o seu marido, Maurizio. Mas como é Reggiani chegou a este ponto? Quem é Patrizia Reggiani (no filme interpretada por Lady Gaga) que no dia do funeral - numa imagem que tanto nos recordou Joan Collins e que correu o mundo - seguiu o caixão do seu marido (uma vez que ainda não se tinha divorciado) ao lado das suas duas filhas?
Façamos um throwback. Hoje, Patrizia tem 72 anos e vive numa bela vila em Milão como um pequeno cão e um papagaio. Concordou em contar a sua história no documentário Lady Gucci: The Life of Patrizia Reggiani, no Discovery + e não nega nada sobre o seu passado. Passou 17 anos na prisão milanesa de Saint Vittore, rebaptizada Residência São Victor porque - declara Reggiani - lá estava muito bem, podia até cuidar do seu furão.
Foi em 1973 que casou com o herdeiro da família Gucci (no filme interpretado por Adam Driver), na ingreja San Sepolcro, em Milão. Na noite do seu primeiro encontro, Maurizio tinha-lhe perguntado se ela queria tornar-se na Sra. Gucci. O casamento foi pródigo, mas entre os 500 convidados, o pai de Maurizio, Rodolfo, estava ausente. Rodolfo considerava a menina de 25 anos uma espécie de alpinista social, demasiado casual. A filha de uma mulher que lavava a loiça, que viveu na periferia pobre de Milão até ser adotada pelo segundo marido da mãe, um empresário rico do setor dos transportes. Na realidade, o seu casamento correu bem, o casal teve duas filhas, Alessandra e Allegra, que agora têm 44 e 40 anos, e lentamente a relação com a família foi sendo estabelecida, em parte graças à proteção do tio Aldo, que a estimava e consultava mesmo quando as assuntos eram negócios.
Patrizia Reggiani vive uma “vida incrível”, como a própria afirma: tem uma penthouse na Quinta Avenida de Nova Iorque (com um Bentley e motorista à porta), quatro chalés em Saint Moritz, uma casa em Milão na Via dei Giardini, organiza festas estratosféricas e é uma habitué no jet set internacional. E, claro, recebe presentes deslumbrantes como o barco Creole, que pertenceu ao armador Stavros Niarchos e e dizem estar amaldiçoado, isto porque a sua esposa Eugene foi encontrada morta no barco. Ela menciona-o novamente no documentário, acima referido, precisamente porque ela traça o início da sua ruína até este navio, considerado o mais belo do mundo.
Em 1983 a Gucci já tinha içado as velas, assim como todas as marcas produzidas em Itália, mas de repente os ventos mudaram para a marca florentina: quando Rodolfo Gucci morreu, Maurizio herdou as ações do pai e pouco depois obteve as do seu primo Paolo. Maurizio expulsou o tio Aldo, e as coisas começaram a desmoronar-se. A marca, que se tornou demasiado popular devido às mil licenças, estava a perder-se e, então, Maurizio vende as suas ações ao árabes. Para Patrizia foi uma amarga desilusão. Maurizio saiu de casa. Mas quando descobre que outra mulher entrou na vida do seu marido - Paola Franchi, uma amiga - recusa-se a aceitar a situação e logo começa a ponderar o homicídio.
“Costumava perguntar a qualquer pessoa, mesmo à pessoa da mercearia, se havia alguém disposto a acabar com a vida do meu marido. Mas não pensei que alguém o faria. Eu tinha uma falha, não conseguia apontar [uma arma], por isso precisava de alguém que o fizesse por mim.” E alguém o fez.
Por muito extravagante que fosse o Gang Bassotti, a investigação esteve no escuro durante meses. Desde o início, os investigadores pensaram que fosse uma rixa financeira, até que o agente milanês, Fillippo Ninni, recebeu um estranho telefonema em janeiro de 1997 às 22h. Patricia Reggiani e a Pina Auriemma foram detidas, juntamente com Benedetto Ceraulo, o homem que disparou o três tiros que mataram Maurizio, assim como todos os membros do gang.
“Mandei matar o Maurizio por rancor.” É desta forma que Patrizia sintetiza a sua escolha extrema.