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As fotografias de Helmut Newton vendiam sexo e glamour inalcançáveis - 60 anos depois, ainda estamos horny?

03 Nov 2020
By Shonagh Marshall

Com a chegada de Baby Sumo, a reedição do emblemático do livro de Helmut Newton, às prateleiras no dia em que seria o centésimo aniversário do fotógrafo, a Vogue questiona se o sexo ainda vende Moda feminina.

Helmut Newton checks a printing sheet during Frankfurt Book Fair, 1999. The print he holds is Nadja wearing Dolce & Gabbana for American Vogue Monte Carlo, 1995 Courtesy Taschen
Helmut Newton checks a printing sheet during Frankfurt Book Fair, 1999. The print he holds is Nadja wearing Dolce & Gabbana for American Vogue Monte Carlo, 1995 Courtesy Taschen

É uma altura interessante para reeditar o livro Sumo (1999), a monografia de Helmut Newton com 464 páginas que pesa 35,5 kg e é acompanhado por uma estrutura desenhada por Philippe Starck. Mas para entender melhor o hype, o livro foi redesenhado e chama-se agora Baby Sumo. Tem metade do tamanho e o preço é de € 1 000. A primeira edição assinada do livro tornou-se na mais cara do século XX, quando foi vendido num leilão em Berlim por 620 000 DM (marco alemão), aproximadamente € 563 253,04. 

Em 2020, o legado de Newton perdura, com a edição de outubro da Vogue Itália dedicada ao seu impacto artístico poucos dias daquilo que teria sido o seu 100º aniversário. O fotógrafo, cujo trabalho provocativo ganhou destaque na década de 70 com a segunda vaga do movimento feminista, foi um dos criadores visuais de maior impacto do seu tempo. As suas imagens definiram a maneira como as mulheres eram retratadas nos editoriais e anúncios de Moda.

Helmut Newton, um pioneiro controverso

Filho de um fabricante de botões judeu, Newton nasceu em Berlim em 1920. A sua infância privilegiada foi passada a ser vestido pela mãe com laços de tafetá e a nadar no Berliner Schwimm Club. Foi ali que Newton ficou atraído pela maneira como os trajes dos outros nadadores “ficavam molhados durante muito tempo”, coisa que revisitou no seu trabalho com a fotografia de Daryl Hannah em 1984, onde, com uns sapatos de salto alto transparente e um fato de banho fuchsia, coloca o bebé a chorar em cima do joelho.

Daryl Hannah, Fashion, American Vogue, Los Angeles, 1984 Helmut Newton © The Helmut Newton Estate / Maconochie Photography
Daryl Hannah, Fashion, American Vogue, Los Angeles, 1984 Helmut Newton © The Helmut Newton Estate / Maconochie Photography

A fugir da perseguição nazi em 1938, Newton viajou para Singapura e mais tarde para a Austrália, onde conheceu a sua esposa e colaborada criativa June Newton, que editou o novo lançamento de Sumo. Newton propôs-se a fotografar para a Vogue (o seu primeiro contrato foi com a Vogue britânica em 1956 e depois com a Vogue Austrália), mas foi somente em meados dos anos 60 que Helmut Newton se começou a concentrar em editoriais de Moda. A imagem de 1967 da modelo Willy Van Rooy é um dos primeiros exemplos de narração de histórias dentro de editoriais de Moda. Intitulado How to Make the Fur Fly, Van Rooy move-se de frente para a câmara enquanto foge de um pequeno avião que surge atrás dela, uma série fotográfica inspirada na famosa cena do filme North by Northwest, 1959, de Alfred Hitchcock.

Willi, Fashion Mansfield, British Vogue, London, 1967 Helmut Newton © The Helmut Newton Estate / Maconochie Photography
Willi, Fashion Mansfield, British Vogue, London, 1967 Helmut Newton © The Helmut Newton Estate / Maconochie Photography

Foi a sua representação fetichista das mulheres que deixou a sua impressão no mundo. Muitas vezes, as mulheres eram apresentadas em vários estados e nudez, imagens que podem parecer à primeira vista simplesmente chocantes ou provocativas, a mulher objetificada. No entanto, essas fotografias são mais complexas: brincam com ideias de desejo humano, o luxo, o género e o poder. Imagens como Sie Kommen, que apareceu na Vogue Paris em 1981, onde a principal intenção é apresentar roupa como estilo, subvertendo a função da fotografia de Moda. Em vez disso, as fotografias de Newton tornaram o lema ‘o sexo vende’ na norma e ofereceram ideias inatingíveis de glamour. É esse legado que permanece, onde vender uma fantasia é muito mais potente do que vender o vestido mais recente.

De facto, vendeu e a sua intenção era provocar. Numa imagem de 1975, intitulada ‘Rue Aubriot’, a modelo aparece completamente vestida, com o Le Smoking de Yves Saint Laurent. O cenário de Paris é newtoniano a preto e branco com granulado, um efeito que o fotógrafo descreveu como “luz negra’’. Brincando com a identidade de género, em meados da década de 70, as mulheres raramente usavam tuxedos, as luzes fortes da rua na imagem fazem alusão ao que acabou por acontecer ou está para acontecer - é a nossa imaginação que faz sucesso. Outra fotografia desta série dá mais pistas: a mulher andrógina com um tuxedo agarrada a uma outra mulher nua com apenas um salto alto e um véu. A luz que incide entre as duas cria uma tensão sexual, erótica talvez - depende de quem está a ver.

Rue Aubriot, Yves Saint Laurent, French Vogue, Paris 1975. Helmut Newton © The Helmut Newton Estate / Maconochie Photography
Rue Aubriot, Yves Saint Laurent, French Vogue, Paris 1975. Helmut Newton © The Helmut Newton Estate / Maconochie Photography

Provocativo e influente

Newton disse: “Eu amo mulheres. Não há nada que eu ame mais.” Ele afirmou que queria apresentar as suas mulheres como fortes e poderosas. No entanto, foi chamada e misógino, da forma mais memorável pela escritora, ativista e filósofa Susan Sontag. O video deste momento aparece no documentário Helmut Newton: The Bad and the Beautiful, de 2020.

Sie kommen, naked, French Vogue, Paris 1981 Helmut Newton © The Helmut Newton Estate / Maconochie Photography
Sie kommen, naked, French Vogue, Paris 1981 Helmut Newton © The Helmut Newton Estate / Maconochie Photography

No contexto atual do movimento #MeToo, as suas imagens são mais complicadas de perceber. Hoje, falamos sobre posições, contextos sociais e políticos que criam a identidade. Newton era um homem branco cisgénero heterossexual, trabalhou durante uma época em que não era a opinião dominante a reconhecer que as suas fotografias podiam ser um símbolo de uma sociedade patriarcal. As fotografias foram apreciadas pelas suas fantasias excitantes, que aludiram a disputas de poder sexual entre presas e predadores que o próprio imaginou e construiu. Também é importante reconhecer o erotismo autónomo das suas principais estrelas femininas. Grace Jones diz, no trailer do documentário já mencionado: ” Ele era um pouco pervertido, mas eu também!”

O problema das imagens de Newton é que elas apresentavam as mulheres através do olhar masculino, mas foram criadas e vendidas para mulheres. Folhear as páginas do livro de Newton suscita mais perguntas. As mulheres em 2020 gostam de se parecer com as musas de Newton? Serão estas fotografias ainda eróticas, no sentido em que refletem os ideais atuais de sensualidade e intimidade? Ser mulher não é uma experiência monolítica, então nem todas concordarão com a resposta.

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