Será o Instagram a nova biblioteca da Geração Z?
Young Hearts Run Free
Connected 10. 10. 2019
A propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala hoje, 10 de outubro, Sarah Raphael e Naomi Shimada, as duas autoras do livro Mixed Feelings: Exploring Modern Life and the Internet, One Discussion at a Time, partilham cinco formas não radicais de quebrar a bolha digital, em prol da saúde mental.
À medida que o Instagram continua a testar a invisibilidade dos likes em países como a Austrália, o Japão, a Irlanda e o Brasil, as empresas digitais vão analisando os efeitos negativos dos comportamentos online na saúde mental e na autoestima das pessoas. Desde que o botão ‘like’ foi introduzido pela primeira vez pelo Vimeo, em 2005 — tendo, em 2009, chegado ao Facebook — que as pesquisas confirmam a existência de uma relação entre a autoestima das crianças e o número de ’likes’ de uma publicação numa rede social.
Ainda há um longo caminho a percorrer quando pensamos na forma como o Twitter, o Facebook e outras redes sociais abordam publicamente as suas responsabilidades em relação ao bem-estar emocional dos seus utilizadores. Precisamente por isto, a escritora e editora Sarah Raphael e a modelo, escritora e ativista Naomi Shimada debruçaram-se sobre este tópico e, em setembro, lançaram o livro Mixed Feelings: Exploring Modern Life and the Internet, One Discussion at a Time, uma coleção de ensaios e conversas honestas — da autoria de especialistas no mundo digital, criativos, ativistas e médicos do Serviço de Saúde britânico — sobre como a Internet está a ter influência nos pensamentos que as mulheres têm de si mesmas.
A propósito do Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro), Rapahel e Shimada partilham com a Vogue cinco maneiras de quebrar a bolha digital e reconstituir alguns hábitos online pouco saudáveis, sem que para tal seja necessário virar totalmente as costas às redes sociais.
Quando o Instagram surgiu, em 2010, a plataforma era usada para a publicação de fotografias da Natureza, de pratos de comida e de férias em locais bonitos — fotografias que poderiam receber um like ou não. Nove anos depois, esta rede social evoluiu e tornou-se numa plataforma de branding pessoal. Agora, vêem-se os rostos e os corpos dos utilizadores, lêem-se opiniões políticas, partilham-se conquistas profissionais. O nascimento da influencer culture, em 2014, intensificou o ato de julgamento nas redes sociais, ao estabelecer uma hierarquia entre o indidvíduo 'insta-famoso' e o indivíduo 'insta-leigo'. Quantas vezes já não rotulou uma pessoa com base no conteúdo online por ela publicado?
Como disse o filósofo Eckhart Tolle no podcast SuperSoul Conversations, de Oprah: "O que mais fortemente condenamos nos outros é geralmente algo que também temos — uma característica nossa sobre a qual não temos consciência". Tolle afirma que de cada vez que nos sentimos superiores ou inferiores, é nosso ego em ação. Assim, reserve um momento para refletir sobre o que está a motivar as suas atitudes e reações na hora de fazer scroll.
Segundo uma pesquisa feita por cirurgiões plásticos, uma seflie captada com o braço esticado pode fazer com que o nariz pareça 29% maior. Paralelamente, ferramentas de edição de imagem como o Facetune, a app não-gratuita mais popular da Apple em 2017, oferecem aos seus utilizares a oportunidade de estreitarem o nariz. Moral da história: as suas selfies - e dos outros — são tão reais quanto a imagem refletida num espelho distorcido.
Pense nas motivações que estão por detrás da captação de uma selfie. Se está a fazê-lo de uma forma positiva, com o intuito de se expressar, keep going. Se, por contrário, as selfies estão a exacerbar as suas ansiedades ou a incitar novas ânsias, lembre-se: não precisa mesmo de continuar a tirar selfies.
Tirar selfies tornou-se quase instintivo para a geração digital — em média, um millennial tirará 25.000 selfies durante toda a vida — mas ainda não é tarde para reverter esse instinto. Quem sabe não verá uma melhoria na sua autoconfiança assim que parar com essa obsessão de captar autoretratos com o telemóvel?
O Instagram transformou a maneira como viajamos, encontramos praias sem turistas e descobrimos hóteis ainda pouco conhecidos. Embora o afluxo de turismo possa ter um impacto positivo na economia e nas taxas de emprego, o mesmo também levou à sobrelotação dos espaços, à degradação ambiental e a acrobacias perigosas, muitas das quais fatais, na hora de conseguir aquela selfie nunca antes vista. “Muitas pessoas ainda são muito motivadas pelo ego; querem retratar uma vivência perfeita”, disse o fotógrafo Trey Ratcliff à National Geographic.
Viajar com plena atenção é fundamental. Pare para refletir sobre como está a retratar um determinado local e, igualmente importante, sobre como está a retratar quem está nesse mesmo local. Isso também pode ajudar uma pessoa a estar mais presente e a parar de competir com outros indivíduos online. Faça esta pergunta: "Se eu não pudesse tirar uma foto, ainda estaria aqui?" — se a resposta for não, reconsidere a sua viagem.
O uso de aplicações de dating motivado pela procura do romance moderno continua a aumentar, com a Hinge a relatar um aumento de 400% de novos utilizadores desde 2016 e com a Bumble a superar os 55 milhões de utilizadores registados até ao presente ano. Se já usou uma app de dating, certamente também já terá pesquisado os seus ‘matchs’ nas redes sociais. Este é um jogo aliciante, mas com que frequência este stalking online produz resultados positivos? Mais frequentemente gera sentimentos de inferioridade ou superioridade do que propriamente amor.
Depois de anos a mostrar o seu ‘melhor eu’ online, é fácil ver o feed do Instagram como algo real e não como um mundo de fotografias criteriosamente seleccionadas. Ao iniciar um relacionamento através de uma plataforma digital, lembre-se: o que vê nos perfis é, na melhor das hipóteses, uma meia verdade. A outra metade é com quem estará, efetivamente, num relacionamento.
Diversas pesquisas já se debruçaram sobre os efeitos negativos que redes sociais como o Instagram têm sobre o sono, a ansiedade, a depressão e o bem-estar físico, principalmente à luz de hashtags perigosas, usadas para promover a auto-mutilação. No entanto, existem muitas comunidades do Instagram que promovem a cura, a autoestima e o bem-estar mental. Preencha o seu feed com essas mesmas contas. Garantimos que transformarão toda a experiência de scroll.
Alguns exemplos? A Big White Wall, uma rede segura e anónima onde são feitas sessões de perguntas e respostas, em direto, com médicos, e onde são partilhadas dicas úteis sobre como gerir o stress. Já a Fundação Blurt dedica-se a oferecer, via multimédia, apoio 24 horas a pessoas que sofrem de depressão, ao passo que a conta de Instagram The Holistic Psychologist publica informação prática sobre o processo de cura.