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Entrámos no guarda-roupa do filme Variações

21 Aug 2019
By Cátia Pereira Matos

Com a chegada de Variações às salas de cinema, esta quinta-feira, 22 de agosto, Patrícia Dória, responsável pelos figurinos do filme, revela à Vogue como foi o processo de construção do guarda-roupa da personagem principal. Sem spoilers.

Com a chegada de Variações às salas de cinema, esta quinta-feira, 22 de agosto, Patrícia Dória, responsável pelos figurinos do filme, revela à Vogue como foi o processo de construção do guarda-roupa da personagem principal. Sem spoilers.

Sérgio Praia em Variações © João Pina.
Sérgio Praia em Variações © João Pina.

Para alguns, ele era o António Ribeiro. Para outros, ele era o António Variações. Trinta e cinco anos depois da sua morte, o barbeiro excêntrico, o compositor obstinado e o músico sem formação musical que só queria cantar, inspirado, desde criança, pelo fado de Amália Rodrigues, chega esta quinta-feira, 22 de agosto, às salas de cinema portuguesas. Chega pela mão de João Maia, realizador e argumentista de Variações e pela entrega de Sérgio Praia, o ator que dá voz e corpo ao génio na grande tela. Chega, também, pela dedicação de Patrícia Dória, a responsável pelos figurinos do filme, com quem a Vogue Portugal esteve à conversa sobre o processo de construção do guarda-roupa desta primeira grande biografia cinematográfica do cantor natural de Fiscal.

Foi precisamente este António Variações quem, “pela sua óbvia excentricidade”, se apresentou como a personagem “mais desafiante” de vestir. “Era necessário encontrar um caminho natural, sem ser forçado, sem recorrer às réplicas. O meu desafio foi pensar com a cabeça dele, com os seus gostos, com as suas origens e objetivos, naquele dado momento”, conta-nos Patrícia Dória. E que momento é esse? É Lisboa, no final dos anos 70 e no início da década de 80. António, acabado de chegar dos Países Baixos, quer vingar na música e para onde quer que vá dá nas vistas pelas roupas arrojadas e pelos acessórios coloridos. Ele é casacos com faixas brilhantes e calças de pele, ele é brincos com pedrarias, cintos largos e anéis grandes.

Ele é, no fundo, um eterno habitante da nossa memória coletiva. Por se tratar de uma pessoa que existiu, a construção dos figurinos de Variações poderia cingir-se “apenas à réplica dos elementos” documentados do vestuário do cantor e compositor. “No entanto, achei mais interessante fazer o exercício de pensar nas cores de que ele gostava e nas combinações excêntricas que ele fazia, com os poucos recursos disponíveis [na época]. Optei por encontrar peças que iam ao encontro de uma vertente fetichista, simultaneamente extravagante e minimal, que englobava o mais tradicional e o kitsch.”

Sérgio Praia, Victoria Guera e Filipe Duarte em Variações © João Pina.
Sérgio Praia, Victoria Guera e Filipe Duarte em Variações © João Pina.

Chegar à imagem de Variações

Tudo isto exigiu um extenso e importante processo de pesquisa a que Dória está já habituada. A trabalhar na área há vários anos — a figurinista já teve a seu encargo o guarda-roupa de filmes como 4 Copas (2008), Aparição (2018) e Raiva (2018), entre outros, e de séries como 3 Mulheres (2018) —, Dória empreende muitas horas de investigação sempre que se associa a um novo projeto. “Um filme é sempre a visão do realizador. O trabalho de um figurinista é interpretar esse universo. Depois de lido o argumento, passa-se à fase de pesquisa”, conta. Por pesquisa entenda-se a visualização de filmes e documentários, a leitura de material relacionado com a temática do projeto em causa, a procura de imagens e referências significativas.

“Para a construção dos figurinos de Variações recolhi todas as imagens públicas que existem do António, li a biografia de Manuela Gonzaga [António Variações, Entre Braga e Nova Iorque, Âncora Editora] e falei com pessoas que o conheceram.” Conversar com Rosa Maria, amiga próxima do cantor, interpretada por Victoria Guerra, “foi muito importante” para a pesquisa. “Ela mostrou-me, muito gentilmente, uma quantidade enorme de fotografias de índole particular, nomeadamente das festas do Trumps, a partir das quais pude reconstruir a imagem do António, do Fernando [Ataíde, interpretado por Filipe Duarte], dela própria e de outras personagens do filme. Este contributo também foi decisivo para recriar épocas anteriores, que são retratadas no filme e sobre as quais não há tantos registos”, nomeadamente a aldeia de Fiscal no concelho de Amares, onde Variações residiu até aos 12 anos.

Além da pesquisa mais generalizada, há todo um processo de criação ligado às personagens. Nesta fase, que Patrícia Dória considera ser a parte mais interessante do seu trabalho, surgem ideias de cores, de looks e de pormenores para cada pessoa do elenco. “O guarda-roupa é uma camada de pele de um personagem e é essencial que os atores se sintam bem e contribuam para a sua construção.”

Sérgio Praia em Variações © João Pina.
Sérgio Praia em Variações © João Pina.

A origem das peças

Terminada a fase de pesquisa e concluído o processo de criação do guarda-roupa de cada personagem, passa-se à materialização de todas as ideias, algo que tanto pode significar a compra e o aluguer de peças de roupa como a concepção de vestuário. “Geralmente há uma combinação dos três”, revela a figurinista.

Em Variações, todos os macacões e calças de António foram costurados de raíz. Algumas camisolas também ganharam forma após horas de corte e costura, mas a maior parte das peças eram do guarda-roupa pessoal da figurinista. Já do guarda-roupa do cantor não foi preciso retirar nada. “Não foi necessário”, esclarece Patrícia Dória. “Cheguei a ver duas peças que me foram apresentadas em Fiscal que, curiosamente, eram idênticas às que havia arranjado para ele.”

Apesar dos casacos coloridos e dos acessórios exuberantes que Variações usava, a figurinista destaca um visual relativamente minimal como o seu favorito de todo o filme. “O meu look favorito é um macacão de trabalhador que o António usou no concerto dos Faíscas, em 1979”, explica Dória sobre a peça replicada e usado por Sérgio Praia na longa-metragem. “É uma peça que faz uma ponte com Fiscal e nos remete para a altura em que o António tinha 12 anos, era carpinteiro e usava também um macacão de trabalhador. Esta peça emblemática demonstra a ligação dele ao trabalho, à disciplina e às suas raízes, uma peça que ele depois transforma, acrescentando a sua criatividade única.”

Cátia Pereira Matos By Cátia Pereira Matos

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