Giorgio Armani, que criou o look que marcou os anos 80 e moldou o rumo da Moda, morreu hoje. Tinha completado 91 anos no dia 11 de julho. A sua morte foi confirmada num comunicado pela marca.
"Com infinita tristeza, o Grupo Armani anuncia o falecimento do seu criador, fundador e incansável força motriz: Giorgio Armani", afirma o comunicado. "Il Signor Armani, como era respeitosamente e admiravelmente chamado pelos funcionários e colaboradores, faleceu de forma pacífica, rodeado pelos seus entes queridos. Incansável até ao fim, trabalhou até aos seus últimos dias, dedicando-se à empresa, às coleções e aos muitos projetos em curso e também futuros".
Indiscutivelmente o designer de Moda italiano mais bem-sucedido da história, Armani foi também o maior empresário. Era o único acionista da empresa homónima, Giorgio Armani S.p.a, cujos interesses se expandiram muito além do vestuário, abrangendo hotéis, artigos para a casa e até confeitaria. O negócio que começou do zero em 1975, financiado com a venda do seu Volkswagen Beetle, registou lucros de 2.1 mil milhões de euros em 2019 e emprega cerca de 8 mil pessoas ao redor do mundo. A sua herança pessoal está estimada em 11 mil milhões de dólares. Notavelmente, quando fundou a sua marca, Armani já tinha 40 anos. Levou apenas sete anos para passar de desconhecido a estrela da capa da revista Time, o que em 1982 representava o ápice do reconhecimento cultural.
Armani começou a desenhar roupas femininas e masculinas como freelancer no início dos anos 70, após um período de seis anos como protégé do alfaiate Nino Cerruti, para quem trabalhou numa marca de roupa desportiva chamada Hitman. Antes disso, passou sete anos a trabalhar na loja La Rinascente, em Milão, onde foi vitrinista e personal shopper. Armani abriu o seu próprio estúdio de design com o incentivo do seu parceiro de vida e de trabalho, o arquiteto Sergio Galeotti. Como Armani disse à GQ em 2015: "Sergio fez-me acreditar em mim mesmo. Ele fez-me ver um mundo maior". Os dois fundaram a sua empresa — Galeotti era presidente e coproprietário — ao lado da assistente Irene Pantene (que ainda hoje trabalha para a marca) e apresentaram a sua primeira coleção de roupa feminina no calendário da Camera Della Moda para o outono de 1976, coleção para a qual garantiram um acordo de distribuição com a Barneys.
Nesse primeiro desfile, Armani apresentou 12 modelos com looks que incluíam casacos masculinos leves e desconstruídos, que já tinha mostrado num desfile misto com 60 looks, em janeiro. No final, os 12 modelos reuniram-se na passerelle, fizeram uma pausa e dançaram ao som da música tocada por Galeotti nos bastidores. Armani já se tinha tornado um designer muito comentado no cenário da Moda emergente de Milão, graças aos seus casacos de pele desportivos masculinos, e estas primeiras coleções femininas revelaram-se igualmente cativantes na imprensa.

Cindy Crawford em fato Giorgio Armani, Vogue, Março 1992
Arthur Elgort na Getty Images
A notícia da sua proeza espalhou-se pelos Estados Unidos, onde, em abril de 1978, Armani recebeu a primeira de três oportunidades quando Diane Keaton usou um desses casacos para receber o prémio de Melhor Atriz na cerimónia dos Prémios Óscar daquele ano. Seguiu-se o momento que mais contribuiu para a mística de Armani: o papel de destaque que as suas roupas tiveram em Richard Gere no filme American Gigolo, lançado em fevereiro de 1980. Como Armani disse à revista 1843 da The Economist em 2017: "Foi uma verdadeira sensação: todos queriam saber o que Gere vestia que o deixava tão elegante. Isso deu-me uma notoriedade positiva repentina". Este gesto de sorte deveu-se à recomendação do agente de John Travolta, que tinha sido originalmente escolhido para o papel — quando ele desistiu, o realizador Paul Schrader escolheu Gere e manteve o uniforme Armani.

Christy Turlington em calças de ganga Emporio Armani Jeans, Vogue, Março 1990
Arthur Elgort na Getty Images
Enquanto os Estados Unidos entravam num dos seus momentos de maior poder e confiança, Giorgio Armani ofereceu uma expressão exótica, orgânica e sofisticada de elegância em tons suaves e ombros largos. As suas marcas recém-lançadas, Emporio Armani e Armani Jeans, proporcionaram um pouco da experiência Armani a um preço mais acessível. Mais do que qualquer um dos seus pares em Milão — apenas Gianni Versace se aproximava à sua visibilidade —, Armani estava rapidamente a tornar-se sinónimo de Moda italiana não só consciência americana mas em todo o mundo. "Tantas coisas aconteceram tão rapidamente para mim naquela época", disse Armani em 2017. "Era uma época em que tudo estava a mudar na minha carreira." Grace Jones usou Armani na capa do seu álbum Nightclubbing, de 1981, de uma coleção inspirada no Japão. Depois veio a capa da revista Time e, em 1984, os primeiros episódios da série de televisão Miami Vice, que marcou o auge da década de 80 e contou com a presença da Armani.

Cindy Crawford, Richard E. Grant, e Ed Harris em Giorgio Armani, Vogue, Março 1992
Arthur Elgort na Getty Images
Em 1985, no entanto, uma tragédia pessoal interrompeu a aparente ascensão na carreira de Armani. Após uma doença — por vezes referida como uma doença cardíaca —, Sergio Galeotti faleceu. "Vivíamos sem sequer falar sobre a sua doença, sem sequer deixar que isso nos afetasse", disse Armani à revista New York Magazine, 11 anos depois. "Ele nunca me viu chorar. Ele próprio nunca disse nada. Durante um ano inteiro, ele disse uma vez: "Giorgio, olha como eu emagreci" — foi só isso".
A perda afetou Armani profundamente, mas a empresa continuou a crescer. Com a ajuda de Gabriella Forte, que apoiou no acordo com a Barneys New York em 1976 e trabalhou para Armani a partir de 1979 para desenvolver o mercado norte-americano, o designer encontrou um braço direito com grande motivação — a partir de 1985, Forte até passou a discursar frequentemente em seu nome. Outras contratações importantes incluíram Noona Smith-Peterson como relações públicas, que passou oito anos na empresa, Lee Radziwill como "coordenadora de eventos especiais" e Wanda McDaniel, uma jornalista de Missouri que se tornou embaixadora da Armani em Los Angeles, contratada por Forte, em 1987.

Modelo Kiara Kabukuru em casaco Giorgio Armani, Vogue, 1996
Arthur Elgort na Getty Images
Embora tenha sido na década de 1980 que o estilo de Armani foi traçado, o designer continuou a liderar as tendências da Moda na década seguinte, especialmente no vestuário masculino. Para a primavera de 1990, propôs uma versão do fato com três botões, lapelas mais altas e ombros estreitos, mas ainda assim com um corte suave, a que chamou The Natural e que viria a definir o estilo dominante dos anos seguintes. Mesmo a chegada de Prada e Calvin Klein não conseguiu abalar a sua presença. No mesmo ano em que o The Natural foi lançado, saiu Made in Milan, um documentário por Martin Scorsese que mostra Armani a trabalhar e no qual ele observa: "A sociedade muda e eu mudo com ela. Tento filtrar as minhas ideias através da realidade quotidiana".
Entre 1990 e 1995, a empresa cresceu rapidamente, mas Armani sentiu o peso do sucesso. Mais tarde, comentou sobre esse período: "já não podia correr riscos como antes e não podia dar-me ao luxo de não vender — não podia sequer dar-me ao luxo de ter uma queda nas vendas. O meu trabalho como designer tornou-se uma responsabilidade comercial". Mais e mais linhas foram introduzidas — de roupa de dormir a beleza — e o crescimento manteve-se. Mais tarde nessa década, Calvin Klein, Prada, uma renovada Gucci e a emergente Dolce & Gabbana juntaram-se ao grupo de rivais, liderado por Gianni Versace até à sua morte, em 1997.

Cindy Crawford em fato Giorgio Armani, Vogue , Março 1992
Arthur Elgort na Getty Images
No 25º aniversário da sua empresa e na retrospetiva de 2001 no Guggenheim, que terá atraído 29 mil visitantes por semana, Armani continuava a ser imensamente bem-sucedido e influente, mas já não era le dernier cri. Nos primeiros anos do segundo milénio, lançou a sua cadeia de hotéis em parceria e assumiu o controlo das suas instalações de produção para garantir a integração vertical. Quando não podia produzir por conta própria, Armani licenciava, mas somente se tivesse a garantia de ter a última palavra (foi precisamente esse critério que levou à sua saída de uma colaboração extremamente lucrativa com a Luxottica).
Segundo consta, foi abordado várias vezes com ofertas de investimento por parte de grupos de capital privado e outros interessados em juntar-se ao boom inicial do grupo de luxo, mas optou por manter a casa que construiu como sua e apenas sua. Contou uma vez que três investidores interessados pediram uma reunião com o seu banqueiro. Armani disse: "ele era o homem mais poderoso da indústria bancária italiana e, enquanto os outros falavam, ficou sentado, sem dizer uma palavra. Depois, olhou para os outros homens e disse: "meus caros senhores, o Sr. Armani não precisa de nós. Vamos embora."
Armani continuou a ser um anunciante dedicado na imprensa de Moda (o fatídico telefonema da Barneys em 1976 surgiu depois de ter visto a sua primeira campanha na L'Uomo Vogue), mas as suas coleções eram cada vez mais fiéis a si próprio do que à época. E tal era o poder do seu nome que o designer transcendeu os limites da imprensa e até mesmo do sistema da Moda no geral. Como Franca Sozzani, falecida editora da Vogue italiana, observou: "como todos os grandes designers da história da Moda, Giorgio Armani é sobre estilo, não Moda. Eles encontram o seu estilo e mantêm-se fiéis a ele, e foi isso que ele fez".
Em termos de comportamento, Armani era conhecido por ser, por vezes, reservado ou temperamental. Durante as conferências para a imprensa italiana após os desfiles, ele ocasionalmente fazia comentários retóricos na direção da Prada ou da Dolce & Gabbana, para a satisfação de todos (Prada e Dolce & Gabbana à parte). Muitas vezes, ele explicava o seu comportamento como sendo timidez. Apesar disso, a aparência de Armani era formidável e a sua estética pessoal ascética. Dedicava-se também ao exercício físico.

Modelo Nadja em full look Emporio Armani, Vogue, Novembro 1993
Arthur Elgort na Getty Images
Parte da aparente severidade do designer, e certamente a sua seriedade e sobriedade geral (embora ele tenha confessado ter tomado LSD uma vez e ter ficado bêbedo uma única vez na vida), provavelmente foi resultado de uma infância passada em circunstâncias difíceis. O designer foi criado na cidade de Piacenza, perto de Milão, nas décadas de 1930 e 1940. A sua mãe Mariù — que deu nome ao seu amado iate — era uma matriarca formidável encarregue de proteger Armani, a sua irmã Rosanna e o seu irmão Sergio durante os bombardeamentos dos Aliados. O seu pai, Ugo, um contabilista de ascendência arménia, teve dificuldade em encontrar trabalho após a guerra. Um dos amigos do jovem Giorgio foi morto por uma explosão — uma mina terrestre ou pólvora — num local bombardeado em Piacenza, que o deixou gravemente ferido e a precisar de ser hospitalizado durante 40 dias. Isso inspirou-o a perseguir a sua ambição inicial de ser médico antes de cumprir o serviço militar e, eventualmente, acabar em Milão, a cidade que o tornaria famoso e à qual ele tanto iria contribuir.
Armani trabalhou até o fim e, mesmo nas suas últimas coleções, revia cada look antes de enviar as suas modelos para a passerelle do teatro criado para ele pelo conceituado arquiteto japonês Tadao Ando.
O seu lema, como o próprio observou, era que "o perfeccionismo e a necessidade de ter sempre novos objetivos e alcançá-los é um estado de espírito que traz um profundo significado à vida".
O comunicado da marca informou que o funeral será realizado no Teatro Armani, em Milão, no sábado, 6 de setembro, e no domingo, 7 de setembro, das 9h às 18h.

Trish Goff em vestido Giorgio Armani, Vogue, Junho 1998
Arthur Elgort na Getty Images

Atriz Jennifer Rubin em top e saia Giorgio Armani, Vogue, January 1989
Arthur Elgort na Getty Images

Giorgio Armani e as suas modelos após a apresentação do desfile de inauguração de loja de Hamburgo, fevereiro 1997
Stefan Hesse na Getty Images
Traduzido do original, disponível aqui.
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