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Friluftsliv é o novo Hygge

26 Jan 2021
By Mathilde Misciagna

Um conceito que se traduz literalmente em “viver ao ar livre” e encoraja toda a gente a passar tempo na natureza, independentemente das condições atmosféricas.

Um conceito que se traduz literalmente em “viver ao ar livre” e encoraja toda a gente a passar tempo na natureza, independentemente das condições atmosféricas.

© Fotografia de Léa Wormsbach. Realização de Viviane Hausstein. Vogue Portugal, janeiro de 2019
© Fotografia de Léa Wormsbach. Realização de Viviane Hausstein. Vogue Portugal, janeiro de 2019

Depois de meses de isolamento, arriscamo-nos a dizer que a sanidade mental que nos resta depende de um pouco de ar livre. Basta uma volta ao quarteirão, um vislumbre de espaço verde, um jogging, um pouco de jardinagem para nos sentirmos revitalizados por dentro. A pandemia incentivou toda a gente a investir num estilo de vida ao ar livre e embora pareça algo novo para quem é amante de betão e catedrais de consumo, para os Noruegueses esta filosofia de vida ao ar livre não é nova. Na verdade, está profundamente enraizada na tradição do país e tem até um nome: friluftsliv – que significa literalmente “free air living” e lê-se free-loofts-liv. É essencialmente uma extensão do muito popular estilo de vida dinamarquês hygge - trata-se de criar uma atmosfera acolhedora e alegre e tornar as tarefas do dia a dia mais significativas, bonitas e especiais.

O friluftsliv pode bem ajudar a explicar a invejável classificação da Noruega entre os países mais felizes do mundo. (No Relatório Mundial de Felicidade 2020 da ONU, a Noruega ficou em quinto lugar. Os centros noruegueses de Bergen e Oslo estão entre as dez cidades mais felizes do mundo.) Mas os especialistas já sabiam que passar tempo ao ar livre nos deixa felizes. De acordo com um artigo de 2019 publicado na revista Nature, passar apenas duas horas por semana em ambientes naturais, como parques ou zonas verdes, aumenta o nosso bem-estar. Mas os benefícios vão muito além de um bom estado de espírito. Os veteranos militares que lidam com stress pós-traumático encontraram alívio em terapias auxiliadas pela natureza, que variam desde jardinagem a rafting. E algumas terapias que abordam a perda e o luto também procuram alívio no mundo natural. E não é indicado apenas para atletas ou exploradores arrojados – todos, dos mais pequenos aos mais velhos precisamos de uma pausa do mundo digital, especialmente agora que a nossa vida gira quase toda em torno de um computador, uma televisão e um telemóvel.

A origem da palavra friluftsliv

De acordo com a história local, a palavra foi usada pela primeira vez em 1859, num poema escrito por Henrik Ibsen, em que o autor associava o conceito de se isolar na natureza como uma ferramenta para limpar a mente e clarear os pensamentos. Mesmo antes dos estudos científicos que relacionam os benefícios de passar tempo na natureza ao combate ao stress, depressão e diversos outros problemas de saúde, o autor já iniciava, sem nem saber, um movimento em prol dessa vida ao ar livre como estratégia para viver melhor. Mais de 150 anos depois, a referida filosofia de vida ainda é colocada em prática pela população e incentivada pelo governo. A filosofia de vida norueguesa, baseada na simplicidade da vida ao ar livre, já se espalhou por diversos países escandinavos e pode ser replicada em todo o mundo.

©Getty Images
©Getty Images

Enquanto a sociedade está em isolamento, a natureza está aberta e convidativa. A natureza ajuda-nos a desconetar da incerteza, de apartamentos claustrofóbicos e do stress causado pela pandemia e pelo dia-a-dia. Precisamos de tempo para respirar ar puro e aprender a apreciar a simplicidade da vida ao ar livre. Quanto mais tempo de ecrã temos, mais sentimos necessidade de voltar às origens – “back to basics”.

Para os noruegueses a palavra friluftsliv não está ligada a uma atividade em específico e contém sim um significado mais profundo de desconexão. Conectar-se com a natureza sem a destruir ou perturbar. O conceito está também ligado à palavra kos – que quer dizer divertir-se/sentir-se bem. A principal motivação para participar na filosofia friluftsliv é o desejo de sentir paz e tranquilidade. Numa pesquisa pública de 2020, nove em cada dez noruegueses relataram que se sentiam menos stressados ​​e de melhor humor depois de passar algum temo em contacto com a natureza. O que acontece quando prestamos atenção à natureza é que afastamos o foco de nós mesmos e desaceleramos.

Quando nos permitirem frequentar espaços ao ar livre, algumas das atividades mais friluftsliv que poderá fazer são: visitar o parque mais próximo de sua casa e pintar ou desenhar o que vê, ler um livro aventureiro sentado num banco de jardim antes de embarcar nas suas próprias aventuras IRL, meditar no exterior, andar de bicicleta, levar a sua sessão de yoga para a relva mais próxima, fazer um piquenique e, por fim, definir o despertador para umas horas mais cedo de forma a poder apanhar o nascer do sol.

Depois do último ano, até as pessoas mais caseiras entre nós estão ansiosas para que haja algo além das suas quatro paredes. O desejo de viajar é muito real, e vimos esse desejo manifestar-se no aumento de roadtrips, visitas a parques municipais e a adoção de uma estética cottagecore ou cabincore. Além de nos dar uma forma de entretenimento que não começa na homepage da Netflix, uma simples caminhada à volta do quarteirão a meio do dia pode ajudar a estimular o seu foco e a evitar a quebra depois de almoço (sem qualquer necessidade de mais um café).

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