Inês venceu o Sangue Novo, Maria venceu o Bloom. E agora unem forças numa coleção conjunta.
Inês venceu o Sangue Novo, Maria venceu o Bloom. E agora unem forças numa coleção conjunta.
!['Arquétipo', de Maria Carlos Baptista](/uploads/photos/b2370565b53d3264770afebb68f171ab.jpg)
'Arquétipo', de Maria Carlos Baptista
'Arquétipo', de Maria Carlos Baptista
Irmãs, com percursos diferentes, mas com histórias cujo destino acabou por aproximar. Inês Manuel Baptista e Maria Carlos Baptista são dois dos nomes que emergiram nos últimos tempos no panorama da Moda nacional, tendo vindo a apresentar-se como um talento promissor.
Desde que venceu o concurso de jovens designers, Sangue Novo, Inês tem vindo a apresentar as suas coleções na ModaLisboa, ao mesmo tempo que usufruía do seu prémio: um Mestrado na escola de Moda italiana, Polimoda. Maria venceu o Bloom, a plataforma de novos talentos patrocinada pelo Portugal Fashion, e não só ganhou um espaço no calendário oficial deste evento, como apresentou duas das suas coleções na Semana de Moda parisiense, em março e outubro de 2021.
A poucos dias da edição de outono/inverno 2022 do Portugal Fashion, onde as designers irão, pela primeira vez, apresentar uma coleção conjunta, a Vogue Portugal conversou com as duas para saber mais sobre o seu progresso e sobre tudo o que nos espera.
Como foi o vosso percurso até chegar à Moda? Foi algo planeado e linear ou tiveram de enfrentar alguns obstáculos pelo caminho?
Inês: No meu caso não foi planeado, a moda surgiu na minha vida como reforço a um período de transição, no qual senti a necessidade de mudar drasticamente de ocupação, de rotina e foco. Cresci com o sonho de ser bailarina, tive aulas e leccionei por muitos anos, a par licenciei-me em História da Arte. No entanto, surgiu um momento em que senti que queria mais e foi então que decidi arriscar. Sendo a criatividade a minha força motora, percebi que na moda havia espaço para me expressar e a verdade é que este caminho tem vindo a fazer cada vez mais sentido.
Maria: Eu tinha como objectivo ser bailarina. Anteriormente frequentei a licenciatura em Dança em Lisboa, da qual tive de abdicar por ter tido uma lesão. A moda apareceu como uma nova forma de poder materializar as minhas ideias, dando corpo e criando movimento de outra forma.
As duas já venceram um concurso de jovens designers. A Maria venceu o Bloom, do Portugal Fashion, e a Inês o Sangue Novo, da ModaLisboa. Decidiram em conjunto que se iam candidatar? E como reagiram face à vossa própria vitória e à vitória da outra?
Inês: Comigo foi algo que aconteceu naturalmente, sempre gostámos de desafios e a partir do momento que decidimos dedicar-nos a fundo e percebemos que era este o caminho a seguir, ambas achámos que faria sentido encarar uma oportunidade destas mais cedo ou mais tarde e assim que ela surgiu decidimos propor-nos. A Maria é, sem dúvida, a mais empreendedora das duas, e foi ela a maior impulsionadora da nossa candidatura ao Sangue Novo, na qual acabei eu por sair a vencedora. Contudo, sempre a alertei que o momento dela acabaria por chegar, e coincidência ou não, um ano depois é ela vencedora no concurso Bloom.
Quanto a vitórias, fiquei surpreendida com a minha, encarei a competição com descontração mas com muito foco na minha aprendizagem e evolução e acho que isso me ajudou, encarei o desafio como um novo pretexto para me desafiar. A vitória da Maria não foi um surpresa, tive a oportunidade de acompanhar todo o desenvolvimento da coleção que apresentou, o esforço foi reconhecido e o resultado mais que merecido.
Maria: Quando comecei a estudar moda, tinha-me colocado esse desafio e objectivo, de participar numa das plataformas para jovens designers a nível nacional, por isso foi uma sensação de missão cumprida. Aconteceu naturalmente, acho. Candidatámo-nos as duas ao Sangue Novo, na edição da qual a Inês foi vencedora. E com muito orgulho digo que fui a pessoa que mais insistiu com a Inês para ela participar, sempre lhe disse: “vais participar e vais ganhar”. E assim foi. Acho que foi mais uma meta pessoal atingida e nós sempre fomos extremamente trabalhadoras e focadas no que fazemos, e tendo ficado a dança de parte e termos escolhido outro rumo, foi muito desafiante e gratificante. Foi um degrau que se subiu e que dá sempre mais força.
Desde esse momento até hoje, já tiveram um percurso na Moda recheado de surpresas. Qual foi a experiência que mais vos marcou desde que foram declaradas vencedoras dos concursos de jovens designers?
Inês: No meu caso foi, sem dúvida, o prémio que me levou até Florença. A minha passagem pela Polimoda foi inesquecível, tive a oportunidade de usufruir de uma excelente escola, trocar conhecimento e trabalhar a par com designers cuja realidade e backgrounds eram completamente diferentes e isso foi muito enriquecedor. Aqueles 9 meses foram o impulso e o reforço que precisava, regressei com a certeza de que estou no caminho certo e eternamente grata à ModaLisboa pela oportunidade. Marcou-me também a evolução pela qual a Maria passou nessa minha ausência, no foco que manteve e nas oportunidades que fez por chegar até ela.
Maria: Para mim foi sem dúvida estar nos bastidores do Sangue Novo e ouvir que a minha irmã ganhou e agora, em outubro, ter apresentado uma coleção em Paris e ter ido de seguida ter com a Inês a Florença para assistir à cerimónia de fim do Mestrado dela na Polimoda.
E, agora, tendo em conta que estavam a ter bastante sucesso individualmente, o que vos motivou a unir forças?
Inês: Sempre acompanhámos de perto o caminho uma da outra mas dado que, quando começámos, o nosso foco era a nossa formação, não houve a oportunidade de nos focarmos num projeto comum. Achámos por bem termos percursos diferentes, explorarmos a nossa própria realidade e desenvolvermos capacidades de forma individual com o foco em evoluirmos enquanto designers. Acho que esta colaboração era algo que iria acabar por acontecer mais cedo ou mais tarde, até porque, dada a natureza “solitária” do processo que envolve a realização de uma coleção, a necessidade de uma partilha era inevitável, ainda para mais numa fase em que sentimos que já tivemos oportunidade de nos desafiar individualmente, a vontade em cruzar ideias surgiu naturalmente e o que estava para ser a próxima coleção da Maria acabou por se tornar na nossa primeira coleção juntas.
Maria: Acho que é mais um desafio, nós estamos sempre a procurar aprender mais e a criar novas metas. Já tínhamos tido a experiência de trabalhar juntas enquanto dávamos aulas de dança, e sempre houve um bom complementar de energias. Temos personalidades muito diferentes e muito fortes, pelo que somos um bom equilíbrio uma para a outra. E foi testar essa capacidade de trabalho de equipa, mas agora noutra área. Desde sempre que admirei imenso a minha irmã e a realidade criativa dela, tendo a oportunidade de a ter como irmã há 30 anos faz com que eu saiba o "génio que tenho em casa". Sempre que achei que juntas faria sentido, nem o faria com outra pessoa. A Inês é das poucas pessoas que me faz questionar ideias fixas que possa ter e dar-lhes novo rumo, e acho que aprendo muito com ela sempre.
Como foi o processo de criar uma coleção conjunta? Seguem estéticas semelhantes ou foi difícil conjugar os vossos dois estilos?
Inês: Confesso que foi mais desafiante do que estava à espera, apesar de já termos trabalhado juntas noutras áreas no passado, esta partilha foi muito efusiva e oscilante mas muito compensadora. Aprendi a ser mais flexível, a olhar a criatividade pelos olhos dela de forma a conseguir entre-cruzá-la com a minha, é muito fácil perder-me no meu próprio mundo e a Maria trouxe-me à realidade constantemente, foi uma dança interessante, começámos a ritmos diferentes mas acabámos em sintonia e esperamos que isso se reflita no trabalho que vamos apresentar.
Maria: Foi super desafiante, temos mesmo personalidades muito fortes, e como estivemos um ano afastadas, foi interessante ver como funcionamos as duas juntas, numa área nova na qual ainda não tínhamos trabalhado a par. Temos mundos semelhantes moldados por experiências a par, mas é engraçado ver a forma como nos desenvolvemos e crescemos e a leitura que fazemos do mundo e a forma como representamos as nossas ideias. É um processo muito giro porque aprendemos muito sobre nós e sobre o outro, tanto sobre valores como processos de criação. E é uma realidade muito solitária ser designer de moda, e podendo ter com quem partilhar, não pensava duas vezes com quem o faria.
O que nos podem contar sobre a coleção que irão apresentar no Portugal Fashion nos próximos dias? Qual foi a grande inspiração e o que pretendem retratar através dos coordenados?
Inês: A coleção acabou por espelhar a nossa relação, tempestuosa, energética e cheia de força. É o resultado claro de um esforço conjunto e da reciprocidade que nos corre nas veias, conta a história em que uma reflete a energia a outra.
Maria: A coleção foi uma pequena grande surpresa, acabou por acontecer naturalmente, e as decisões e escolhas que tínhamos, que inicialmente nem conseguíamos justificar, foram surgindo naturalmente. Acho que toda a história e conceito sempre lá esteve, mas em vez de sermos nós a escrevermos, foi ele que se foi revelando. É uma coleção que sem querer trouxe muito de nós e nos representa muito bem como dupla, que manifesta a nossa relação e fraternidade de alguma forma.
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