Editorial | "Sunny Vibes", Julho/Agosto 2022
Editorial | "The Butterfly Effect", Outubro 2022
Editorial 6. 9. 2022
“Some people talk about other people’s failures with so much pleasure that you would swear they are talking about their own successes.” - Mokokoma Mokhonoana
Somos seres humanos e compartilhar informações uns sobre os outros faz parte de quem somos em sociedade. Que atire a primeira pedra quem nunca espalhou um mexerico. Essa vontade de compartilhar uma notícia suculenta acabada de saber é intrínseca ao ser humano, uma característica natural da nossa espécie. Segundo os sociólogos, o gossip é provavelmente uma relíquia do nosso passado evolutivo. Por uma questão de sobrevivência, quase sempre foi necessário saber sobre a vida das pessoas em redor: quem tinha amigos poderosos, quem dormia com quem, quem tinha recursos limitados e quem seria capaz de (nos) apunhalar pelas costas quando surgisse uma dificuldade. Esse conhecimento ajudou as pessoas a progredir socialmente — e quem não estava interessado em saber sobre a vida dos outros não era bom a atrair nem a manter companheiros ou alianças, acabando por ser afastado ou eliminado.
O gossip desempenha, desde sempre, um papel importante em manter a nossa sociedade conectada. Mas se, num passado distante, o poder do gossip era uma skill de sobrevivência e integração, nos dias que correm a fronteira entre a naturalidade lúdica de um mexerico inofensivo e o poder destrutivo de falar dos outros levianamente é muito ténue. Numa sociedade cada vez mais informada (mas nem por isso mais tolerante), a falta de noção do que o gossip pode alimentar a alienação ou até a destruição de vidas privadas que se tornam públicas, julgadas e condenadas, só pelo prazer leviano de coscuvilhar.
No filme Dúvida, brilhantemente interpretado por Philip Seymour Hoffman (padre Flynn) e Meryl Streep (irmã Aloysius) há um diálogo em que o padre, ele próprio vítima dos mexericos e julgamentos da irmã, partilha uma parábola, que é para mim, a melhor descrição do poder irreversível do gossip: “Uma mulher estava a coscuvilhar com uma amiga sobre um homem que mal conheciam — sei que nenhum de vós alguma vez o fez. Nessa noite teve um sonho: uma grande mão apareceu por cima dela e apontou para baixo. Ela foi imediatamente surpreendida por um sentimento de culpa avassalador. No dia seguinte foi confessar-se. Foi ter com um velho pároco, o Padre O' Rourke, e contou-lhe tudo. ‘Falar dos outros é pecado?’ perguntou. ‘Era a mão de Deus Todo Poderoso a apontar para mim? Devo pedir a sua absolvição? Padre, será que fiz algo de errado?’, ‘Sim’, respondeu o padre. ‘Sim, mulher ignorante e mal-educada. Levantaste um falso testemunho sobre o teu vizinho. Destruíste a reputação dele, devias ter vergonha.’ A mulher disse que lamentava e pediu perdão. ‘Não tão rápido’, disse o padre. ‘Quero que vás para casa, pegues numa almofada, subas ao telhado e depois abras a almofada com uma faca. Depois disso podes voltar aqui.’ A mulher foi para casa: tirou uma almofada da cama, uma faca da gaveta, subiu pela escada de incêndio até ao telhado e esfaqueou a almofada. Depois regressou para junto do pároco, conforme as instruções. ‘Abriste o travesseiro com uma faca?’, perguntou. ‘Sim, padre.’ ‘E qual foi o resultado?’, ‘Penas’, disse ela. ‘Penas?’, repetiu ele. ‘Penas em todo o lado, padre.’ ‘Agora quero que voltes lá e reúnas todas as penas que voaram com o vento.’ ‘Bem’, disse ela, isso não pode ser feito. Eu não sei onde foram parar. O vento espalhou-as por toda a parte.’ ‘Isso’, disse o padre, ‘são os mexericos.’”
Publicado originalmente no The Gossip Issue da Vogue Portugal, de setembro 2022.
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Editorial 14. 7. 2022
Editorial | "Sunny Vibes", Julho/Agosto 2022
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Qualquer pessoa com as suas imperfeições e dificuldades pode tornar-se na personagem principal da história, da sua própria história. Uma infância rica em fantasia e fairy tales pode transformar-se num trampolim mágico ao longo da vida, abrindo caminho através de dificuldades e provações.
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