Opinião   Editorial  

Editorial | "Pink Mood": maio 2021

06 May 2021
By Sofia Lucas

Na psicologia das cores, o rosa é sinal de esperança. É uma cor positiva que inspira sentimentos calorosos e ‚reconfortantes, uma sensação de que tudo ficará bem.

"I believe in pink. I believe that laughing is the best calorie burner. I believe in kissing, kissing a lot. I believe in veing strong when everything seems to be going wrong. I believe that happy girls are the prettiest girls. I believe that tomorrow is another day and I believe in miracles." - Audrey Hepburn

Em 1800, a cor rosa tinha uma conotação masculina. Como os bebés eram tradicionalmente vestidos de branco e o vermelho era usado principalmente pelos militares, o rosa (que resulta de uma mistura entre o branco e o vermelho) era visto como uma cor masculina. Nessa época, a natureza delicada do azul era mais apropriada para meninas. No final da Segunda Guerra Mundial tudo mudou. A representação artística de mulheres jovens, doces e ternas adotou o rosa como um símbolo para esses ideais e a tonalidade foi-se transformando, gradualmente, numa cor feminina.

E foi então que chegou Schiaparelli. Antes do fúcsia ser a estrela, em meados dos anos 2000, e de o millennial pink dominar, um tom particular de rosa choque era a cor da ordem no mundo da Alta-Costura do final dos anos 30 e 40. Shocking Pink, como ficou conhecido, tornou-se popular pela designer italiana Elsa Schiaparelli. Em 1937, Schiaparelli fez do rosa choque a sua cor emblemática. Com a ousadia da nova cor, as suas criações destacaram-se das paletas contidas que dominavam durante a Segunda Guerra Mundial. Usar cores vivas, especialmente rosa, foi uma forma de Schiaparelli inspirar o período negro que o mundo atravessava.

O rosa sempre criou momentos memoráveis na Moda, mas não teria o mesmo impacto sem a visão de Schiaparelli. Embora ela não tenha sido a primeira a pensar “em rosa”, e certamente não a última, o mergulho ousado de Schiaparelli nas cores mais expressivas e vibrantes foi apenas uma das formas pelas quais se afirmou. Ao introduzir o rosa choque na indústria, quebrou tabus e estereótipos porque, afinal de contas, ele é transversal a géneros, estilos e atitudes. “I adore pink; it's very powerful. It makes you feel sweet and sexy, also if you are a man.” Assim afirmou, recentemente, o designer italiano Alessandro Michele.

Onde os sonhos estão, o rosa também se faz presente. O tom é irrealista, em todas as formas e matizes. O rosa tanto pode ser a ‚cor oficial do kitsch como a do romantismo, e vai muito além da sua expressão na Moda. Um “futuro cor-de-rosa” ou “sonhos cor-de-rosa” são expressões que confirmam a interligação entre o rosa e as emoções felizes. A cor rosa é intuitiva e perspicaz, simboliza ternura e gentileza, com a sua empatia e sensibilidade. Na psicologia das cores, o rosa é sinal de esperança. É uma cor positiva que inspira sentimentos calorosos e reconfortantes, uma sensação de que tudo ficará bem. O rosa acalma e tranquiliza, reforça as nossas energias, aliviando sentimentos de raiva, agressão, ressentimento, abandono e negligência. Estudos confirmam que a exposição a grandes quantidades de rosa pode ter um efeito calmante, a nível físico e emocional. Prisioneiros violentos e agressivos foram acalmados com sucesso depois de colocados numa sala rosa por um determinado período de tempo.

A cor rosa representa a doçura e a inocência da criança que todos temos em nós. É a cor das emoções descomplicadas, da inexperiência e da ingenuidade. Mas, como em tudo na vida, por mais “la vie en rose” que seja, onde existe luz, existe sombra, e o rosa (feito de tantos tons e nuances) também se mistura com o preto. Demasiadas vezes, demasiados momentos podem ser negros, profundamente negros, ao ponto de o rosa parecer extinto da paleta da nossa existência. “Não consigo escrever uma novela rosa, sai-me negra. Quanto mais rosa eu tento, mais negra me sai cada página...” ouve-se numa das cenas memoráveis de A Flor De Mi Secreto, de Pedro Almodóvar, quando Leo, escritora e novelista, com uma depressão, desabafa sobre o seu bloqueio.

Neste Pink Issue da Vogue, quisemos trazer-lhe pinceladas dos variados tons de rosa, sem esquecer que o verdadeiro lado pink da vida reside no equilíbrio‚ entre o otimismo e a travessia dos momentos mais negros, que por vezes só conseguimos ultrapassar com as “lentes cor-de-rosa” que nos fazem acreditar sempre num amanhã melhor. E, como em tudo na vida, a escolha é nossa:podemos reclamar, porque as rosas têm espinhos, ou alegrar-nos porque os espinhos têm rosas. 

Publicado originalmente no "Pink Issue" da Vogue Portugal.For the english version, click here.

De cima para baixo:

1ª capa: Fotografia de Jakov Baricic. Styling de Schanel Bakkouche. Modelo: Maike Inga @ Miha Modelmanagement @ Women Paris.2ª capa: Fotografia Lara Alegre. Styling de Fátima Monjas. Modelo: Penelope Ternes @ Modelwerk. Bebé: Arisa @ Younger Models. 3ª capa: Fotografia de Oleg Bogdan. Artista: Kitten Kay Sera. 4ª capa: Direção criativa de Ana Magalhães. Fotografia de Frederico Martins. Styling de Larissa Marinho. Modelos: Maria Miguel Silva @ Central Models e Ginho. 

 

Sofia Lucas By Sofia Lucas

Relacionados


Moda  

Open Call | Shades of Doubt

26 Jul 2024

Pessoas  

As celebridades mais bem vestidas do prelúdio dos Jogos Olímpicos de 2024

26 Jul 2024

Curiosidades  

Nos Jogos Olímpicos de Paris, as mulheres portuguesas fazem história

25 Jul 2024

Moda   Compras   Tendências  

Trend Alert | Recortes

25 Jul 2024