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Coleções 22. 5. 2023

Dior | Cruise'24

by Vogue Portugal

 

A Cidade do México serviu de palco para a apresentação das propostas para o Cruise'24 da Dior.

 

"Uma constelação de lugares que espoletam emoções", descreve Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da marca, sobre o destino escolhido para o desfile da marca francesa, que aconteceu este fim de semana. Uma sintética frase, que por si só, poderia já justificar a opção sobre a venue, mas que Chiuri prefere elaborar: é "um lugar da alma", como foi para artistas nativos, sendo Frida Khalo a sua mais emblemática figura e da qual a cultura local é indissociável. O seu nome também está embrenhado nas linhas a que se cosem esta coleção resort: a sua força, protesto, afirmação, representação, a capacidade de ir além das fronteiras de género, não se fechando no papel de mulher, mas antes indo beber ao guarda-roupa masculino de igual modo que ao feminino, transgredindo a sua feminilidade para reclamar a sua independência - intelectual, acima de tudo.

É nesta demonstração de empowerment que se constrói a pré-coleção da Dior, que vai além de Khalo para fazer vale a ligação mexicana, trabalhando, por isso, com artesãos locais para enriquecer as peças com o talento do seu trabalho em bordados e adornos, feitos nos próprios ateliers. Yolcente, a marca exímia no tear, colabora com a Dior em camisas e vestidos com bordados que refletem o meio ambiente da comunidade; Sna Jolobil contribuiu com uma gaban - uma túnica quadrada longa, bem como faixas de cintura em malha de algodão com bordados feitos pelas comunidades Tzotzil de Zinacantan e San Juan Chamula; Remigio Mestas coordenou a manufatura de quatro huipils tradicionais, espelho de métodos de tintura, tear e bordar de diversos grupos indígenas, como os Zapotecas de San Blas Atempa (Isthmus Tehuantepec, Oaxca), os Chinantecas de Papluapan Basin (Valle Nacional, Oaxaca), e os Mazatecas de Chuparrosa (Jalapa de Diaz, Oaxaca); Rocinante liderou a produção de uma técnica bordadeira conhecida como "pepenado fruncido", um trabalho levado a cabo por uma comunidade só de mulheres Mixtec (em San Lucas Redención, San Pablo Tijaltepec e Tlaxíaco, Oaxaca, que ilustra elementos naturais como animais e plantas em padrões geométricos, que agora adornam silhuetas Dior como casacos, camisas e saias; Plata Villa e as suas técnicas de joalharia contribuiram para as peças em prata, como anéis, pendentes e pulseiras com motivos de borboletas; e o Alema Atelier, com o seu expertise em sombreros, desenhou um chapéus Jarocho, típico do estado de Veracruz.

Mas voltando, ainda, a Khalo, que é incontornável nestas propostas que unem a casa francesa aos ateliers mexicamnos: Frida manifesta-se um pouco por todos os looks, como no vestido rosa que lembra um que usa num dos seus autorretratos; na diversidade de cores em saias de linha A; nas borboletas que povoam o toile de Jouy com ilustrações de fauna e flora mexicanas, como papagaios e estrelícias, também eles elementos dos quadros da icónica artista. Todos em casa no Antiguo Colegio de San Ildefonso, onde Khalo estudou, onde conheceu Diego Rivera (o seu mentor e amor de uma vida) e onde agora desfilou este Cruise da Dior, com direito a performance especial da artista feminista mexicana Elina Chauvet. Na primavera de 2023 na Cidade do México, Elina Chauvet e um grupo de 16 mulheres bordadeiras elaboraram uma nova iteração deste projeto intitulado A Corazón Abierto, “coração aberto” em espanhol. Trabalhando em vinte toiles brancos, vestidos de musselina de algodão retirados dos arquivos da Dior e confeccionados nos ateliês parisienses, as suas palavras e símbolos costurados em fios de algodão vermelho compõem o próximo capítulo da obra. Esta performance é revelada no contexto da mostra e viverá em espaços futuros, fiel à natureza contínua do trabalho centrado na comunidade imaginado pelo artista.