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Pessoas 21. 10. 2019

V de Vreeland. Diana Vreeland.

by Sara Andrade

 

E também V de Vogue. Incontornável personagem da imprensa de Moda, a passagem de Diana Vreeland pelo título norte-americano, enquanto diretora, marcou de forma indelével o seu nome na história da publicação. Conhecida pela língua aguçada e honestidade quase ofensiva, deixou frases tão icónicas quanto as capas que assinou de 1963 a 1971.

Em casa, no seu Jardim de Inferno, como lhe chamava, desenhado por Billy Baldwin, 1979.

A sua fama na indústria da Moda é diretamente proporcional à sua peculiaridade. Conhecer um pouco de Diana Vreeland (1903-1989), garantimos, é amá-la por tudo – mesmo pela sua inconveniência. Uma daquelas inconveniências que são mais feitio do que defeito e que surgem uma vez num século de uma forma só admirável e pouco condenatória. É que o V é também de viperina, como a sua língua – mas uma língua viperina a raiar o fofinho.

Fotografada por Jack Robinson, 1950.  Em Nova Iorque, 1980.

Era inconveniente nos comentários, mas verdadeira a professá-los e vivia a vida sob o mesmo repto da sinceridade (e inconveniência). Por exemplo, detestava reuniões, mas adorava joias barulhentas ao pescoço das assistentes para saber sempre onde estavam. E não se coibia de dizer o que lhe passava pela mente, atingisse quem atingisse.

Com Andy Warhol, na apresentação de Folk and Funk - Andy Warhol's Folk Art World, 1977.

Nascida na Belle Époque e no berço da mesma – Paris –, foi em Nova Iorque que encontrou o seu métier, e logo no primeiro emprego, que arranjou já contava 33 anos de vida. No  documentário The Eye has to Travel, realizado por Lisa Immordino Vreeland (casada com o seu neto, Alexander Vreeland) recorrendo a gravações recuperadas do tempo em que quis escrever as suas memórias (além de outras entrevistas da época e testemunhos de pessoas próximas de si), a diretora confessou, com essa tal sinceridade que lhe era peculiar, que o dinheiro é “Vital! Vital! E qualquer pessoa que diga o contrário é insana”, acrescentando que a sua conta não era abundante, por isso, no caso dela, tinha de trabalhar. Apesar de nunca ter pensado nisso: “eu sou muito preguiçosa”, admitiu numa entrevista. Mas “amava trabalhar, naquela época. (…) Desde os 30 e tais, trabalhei todos os dias da minha vida, sábados e domingos incluídos.”

Com CZ Guest e Truman Capote, na estreia de Trilogy, 1968. Com David Bowie, 1980.

Aliás, quando Carmel Snow se impressionou com o seu look ao vê-la dançar uma vez, no St. Regis, e a convidou a escrever uma coluna para a Harper’s Bazaar, Vreeland estava longe de se imaginar nessas andanças: “mas eu nunca trabalhei antes. Eu nunca me vesti antes do almoço…”. “Porque não tentas?”, disse-lhe a diretora – e nascia assim a rubrica Why don’t you…, onde cunhou algumas das frases que se leem nestas páginas e que desencadeou, depois, o seu cargo enquanto editora de Moda da revista.

Com Yves Saint Laurent, 1983.

Mas, e apesar dos 25 anos na publicação, o universo reservava-lhe voos maiores, com uma renovada visibilidade: o de diretora da Vogue US. Revolucionou a revista, num pós-guerra que deteriorara o glamour das revistas de Moda, e apostou nos rostos emergentes da década de 60, ajudando também a que se tornassem intemporais, sublinhando o papel primordial do título Vogue no mercado – o de percursora e nunca de seguidora: de Twiggy, a Lauren Bacall e Edie Sedgwick (descobriu ambas), foi até a primeira a publicar uma foto de Mick Jagger.

No evento de beneficência pelo Hurlyburly, 1984. Na exposição American Women of Art, 1975.

Aquela foto de Veruschka com um hoodie em pelo? Foi feita durante a sua liderança na Vogue. Dona de um estilo irrepreensível, visionária – termo que parece ser consensual em quase tudo o que ler sobre Vreeland –, munida de uma cultura muito acima da média, para a qual o facto de ter colecionado moradas em Paris, Nova Iorque e Londres em muito deve ter contribuído, Diana (lê-se Di-ana e não Dai-ana) percebia a importância da literatura (“onde estaria a Moda sem a literatura?”, afirmou), da música, da emergência de novos modelos e fotógrafos, trazendo-os para as páginas da revista numa altura em que rebentavam os swinging sixties – uma revolução em todas as áreas artísticas bem ao nível da sua dimensão de influência e gostos.

Com Jerry Hall, na front row de um desfile em Nova Iorque, 1981.

Vreeland era um oráculo para tudo aquilo que valia a pena conhecer. Afinal, não foi à toa que disse “acho que parte do meu sucesso enquanto editora vinha de nunca me preocupar com um facto, uma causa, uma atmosfera. Era eu a projetar para o público. Era esse o meu trabalho. Acho que sempre tive uma ideia perfeitamente clara do que era possível para o público. Dar-lhes o que eles nunca souberam que queriam.”

Com Jerry Hall, 1977. Fotografada por Horst P. Horst, 1979. 

Se o ar blasé tivesse um rosto, Diana Vreeland seria a sua poster girl: na sua voz rouca e grave de fumadora, ler as frases seguintes da sua autoria é conseguir ouvi-la com algum humor, algum pretensiosismo, mas de uma forma despojada, agradável, a falar na sala vermelha que adorava e que chamava o seu “jardim de inferno”. Não é à toa que a chamavam Imperadora da Moda. E comportava-se como tal. Com todo o direito.

Com Carmel Snow, 1952.

Fotografia: Getty Images; Condé Nast Archive.

Artigo originalmente publicado na edição de outubro de 2019 da Vogue Portugal.

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