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Até sempre, Christo

01 Jun 2020
By Rui Matos

Christo, mestre dos impossíveis, do envolvimento e da arte no seu estado mais puro, morreu ontem, 31 de maio, na sua casa em Nova Iorque.

Christo, mestre dos impossíveis, do envolvimento e da arte no seu estado mais puro, morreu ontem, 31 de maio, na sua casa em Nova Iorque.

“Christo viveu a sua vida ao máximo, não sonhando apenas com aquilo que parecia impossível, mas concretizando-o. As obras de Christo e Jeanne-Claude reuniram pessoas em experiências partilhadas em todo o mundo, e o trabalho desta dupla vive nos nossos corações e memórias.” Foi assim que o estúdio de Christo anunciou o desaparecimento do artista plástico, nas Christo Vladimirov Javacheff, em Gabrovo, Bulgária.

Ao lado de Jeanne-Claude, esposa e parceira artística, o casal ficou mundialmente conhecido pelas suas instalações megalómanas, autênticos feitos de engenharia. Entre as obras mais conhecidas estão Running Fence (1972-76), na California, uma cerca levantada ao longo e 38 quilómetros de extensão com 200 mil metros quadrados de nylon branco; Surrounded Islands (1980-83), em Miami, onde 11 das ilhas situadas na Baía de Biscayne foram cercadas com 603 870 metros quadrados de polipropileno rosa; The Pont Neuf Wrapped (1975-85), a ponte mais antiga da cidade de Paris foi totalmente embrulhada, assim como o Palácio Reichstag (1995), em Berlim. Mas não só de embrulhos se faz a sua carreira, em 2005 inaugurou The Gates, em Central Park, Nova Iorque, com 7.503 painéis cor de açafrão suspensos pelo parque, mais recentemente, em 2016, imaginou uma instalação que deu a oportunidade a todos os interessados de andar sobre as águas do Lago Iseo, em Itália, através de 220 mil cubos de polietileno flutuante cobertos por um tecido amarelo garrido que criou uma passerelle de três quilómetros que ligou o continente a algumas ilhas e ilhéus do lago italiano.  

 

“Para mim, a estética é tudo o que está envolvido no processo - os trabalhadores, a política, as negociações, a dificuldade de construção, a coordenação de centenas de pessoas”, afirmou Christo ao The New York Times, em 1972. “Todo o processo se torna estético - é isso que me interessa, descobrir o processo. Eu diálogo com outras pessoas.” Este olhar tão único e peculiar, rendeu-lhe uma aclamação global, Christo sempre acreditou, e defendeu, que as obras em espaços públicos poderiam ser apreciadas por todos e não deveriam ser propriedade de ninguém. Este desejo em democratizar a arte dividiu opiniões, enquanto o público o adorava, alguns críticos de arte viam-no mais como um exibicionista do que um artista: “O facto do trabalho deles [Christo e Jeanne-Claude] ser tão acessível é um fator de desdém e hostilidade que evoca em certos setores. Isso faz com que alguns críticos e artistas os excluem do panteão da arte séria”, escreveu Calvin Tomkins, em 2004, no The New Yorker. 

 

Um dos desejos de Christo e Jeanne-Claude (que morreu em 2009) é que a sua arte continuasse depois do seu desaparecimento e, no comunicado partilhado pelo estúdio do artista, é possível ler que o projeto que já estava em curso para o Arco do Triunfo, em Paris, continua agendado para as datas já estabelecidas (de 18 de setembro a 3 de outubro de 2021), este projeto é um regresso aos embrulhos dos anos 80 e 90, intitulado L’Arc de Triomphe, Wrapped. Ainda este ano, vai ser possível visitar uma exposição sobre esta dupla que vai estar patente no Centre Georges Pompidou, de 01 de julho a 19 de outubro.  

 

“O trabalho da arte é um grito pela liberdade”, disse em tempos Christo, que por várias vezes afirmou que não abdicaria nem um centímetro da sua liberdade. Liberdade sempre foi a palavra-chave da vida de Christo e, mesmo com o seu desaparecimento físico, a sua arte vai permanecer na memória e vai ser, sempre, um exemplo de como a liberdade artística deve ser.

Rui Matos By Rui Matos

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