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O florescimento da New York Fashion Week

15 Sep 2022
By Pedro Vasconcelos

A semana da Moda de Nova Iorque desta estação foi o verdadeiro renascimento da primeira paragem do fashion month. Com a presença de titãs como Tom Ford e Carolina Herrera, assim como de talento em ascensão, como Peter Do, Nova Iorque volta a achar o seu lugar no mundo da Moda.

A semana da Moda de Nova Iorque desta estação foi o verdadeiro renascimento da primeira paragem do fashion month. Com a presença de titãs como Tom Ford e Carolina Herrera, assim como de talento em ascensão, como Peter Do, Nova Iorque volta a achar o seu lugar no mundo da Moda. 

© ImaxTree
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As coleções de primavera/verão 2023 foram o renascimento oficial da semana de Moda de Nova Iorque pós-pandemia, já que a última, em fevereiro, foi caracterizada por cancelamentos espontâneos, à medida que a variante Ómicron se disseminava pela cidade. Em anos recentes, a primeira paragem no fashion month tem tido alguma dificuldade em encontrar o seu lugar dentro da indústria da Moda. A ausência dos grandes nomes da indústria, e a escolha de algumas marcas para migrar, deixou o calendário da Semana da Moda americana com algumas lacunas. No entanto, esta estação as correntes mudaram, não só devido ao retorno de titãs como Tom Ford, como pela crescente popularidade de marcas relativamente desconhecidas no passado. 

Como sempre, a Moda é um excelente barómetro para a evolução cultural. Este facto, quase dogmático a este ponto, foi particularmente visível nas modelos presentes nos desfiles da New York Fashion Week. Desde a sua última “verdadeira” edição, a cultura americana evoluiu substancialmente: movimentos como #MeToo ou ##BlackLivesMatter alteraram a perceção da Moda perante a sua audiência. Como tal, a maioria do casting dos desfiles presentes nesta semana de Moda foram extremamente diversos, especialmente em termos étnicos. Ainda que a evolução seja notável, a presença de modelos plus size e de idade mais avançada continua a ser escassa. Mas não foi só a diversidade que caracteriza os modelos da passerelle, como já se tornou expectável, muitas foram as marcas que substituíram as suas modelos por celebridades. Desde Lil Nas X a Julia Fox, o que não faltaram foram aparências “surpresa”. 

© ImaxTree
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Análises sociais e culturais à parte, a Semana da Moda de Nova Iorque foi caracterizada por coleções que, através de silhuetas consideradas formais, reinventaram a nossa noção de clássico. Imbuindo a típica casualidade americana em peças consideradas tudo menos casuais, desde fatos a vestidos compridos, a formalidade é substituída por um espírito quase rebelde. Esta revolta é quase adolescente, inspirando-se fortemente numa estética preppy, adicionando rasgos ou paletas cromáticas inesperadas a blazers, camisas e malhas. Tal foi o caso de Coach, onde o designer Stuart Vevers reinterpretou o imaginário americano da marca através de casacos oversized. Semelhantemente, camisolas de malha cresceram em tamanho, e, por meio de manchas de cor colocadas de forma aleatória, receberam um makeover

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Também em Altuzarra a malha assumiu o protagonismo, ainda que de uma forma inesperada. Vestidos extremamente justos e sets com minissaias foram utilizados para demonstrar um material tão proximamente associado ao conforto e conservadorismo. Com uma paleta focada, na sua maioria, em cores quentes, a marca americana apresentou uma coleção que, especialmente nos primeiros looks do desfile, entra em território de gossip girl chic. Camisas e casacos oversized são contrapostos a minissaias e decotes reveladores.

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Se Coach e Altuzarra interpretam o formal através de uma ótica mais rebelde, Prabal Gurung perceciona a formalidade de peças como fatos apenas como forma de alcançar o sexy. Versões micro de blazers de cores extravagantes são a forma ideal de mostrar algum mid drift (ou no caso de um set cor de rosa, todo o tronco). A dualidade foi o elemento mais explorado pelo designer de origem nepalesa, combinando vestidos leves, esvoaçantes até, com luvas de ópera feitas inteiramente de látex. Mas a reinvenção de fatos atinge o seu clímax com Peter Do, a marca americana que, desde 2018, se destaca pela sua alfaiataria. O designer homónimo da marca está num claro movimento de ascensão na sua popularidade, tendo a sua coleção se destacado como das mais virais online. No sentido de introduzir menswear e moda sem género, Peter Do desconstruiu fatos, abrindo-lhes as costas e expandindo as suas silhuetas.

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Até Michael Kors participou no movimento de fatos, ainda que, obviamente, de uma forma bem mais sexy. Blazers são complementados com minissaias ou camisolas transparentes, criando uma aura de femme fatales semelhante a Sharon Stone em Instinto Fatal (1992). Em Proenza Schouler os fatos foram reinterpretados em casacos longos, extremamente justos, com colarinhos exagerados ao estilo da década de 70. Esta inspiração foi transposta em calças à boca de sino (recheadas de folhos, fabuloso) e coletes longos e justos. Se Schuler apostou nos anos 70, Tom Ford escolheu a década seguinte como ponto de referência. Blazers estruturados, uma orgia de lantejoulas, metálicos galore, todos perfeitamente complementados por cabelos tão volumosos que, se não se encontravam a tocar no teto, estavam pelo menos a tentar.

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Ao contrário da maioria das coleções apresentadas anteriormente, as propostas de primavera/verão de Carolina Herrera têm uma inspiração bastante específica. O designer Wes Gordon, que, desde 2018, assume o papel de diretor criativo, invoca o livro O Jardim Secreto de Frances Hodgson Burnett, como o ponto de começo da sua coleção mais recente. Como se poderia adivinhar, o que não faltaram foram padrões florais (ouvem-se ecos distantes de Miranda Priestley), presente em vestidos, fatos, casacos, entre tantos mais. As flores de Herrera não se contentam em permanecer em duas dimensões, brotaram floreados de vestidos, quer em forma de lantejoulas quer através de dramáticos bouquets de tecido. Opondo-se totalmente a esta abordagem surge Marni que atravessou o Oceano Atlântico para apresentar uma coleção que se demarcou pela sua estranheza. Felizmente, no mundo da Moda, não há nada melhor que o invulgar e, em peças que misturavam uma estética quase alienígena com cores e padrões, à la Dr. Seuss, a Marni alcançou o difícil: uma coleção estimulante. 

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E, por falar em marcas italianas, não podíamos terminar esta análise à New York Fashion Week sem mencionar Fendi que, ainda que fora de calendário, apresentou a sua coleção Resort 2023, inteiramente dedicada à Baguette. A carteira, cuja popularidade é indissociável da cidade americana (obrigado Carrie Bradshaw), celebrou o seu 25º aniversário com uma coleção inigualável. Baguettes em luvas, chapéus, meias, cobertas de bolsos ou até diamantes, o que não faltaram foram carteiras. Contando com a colaboração de Marc Jacobs, Tiffany & Co. e Porter, e com a presença de algumas das celebridades mais entusiasmantes (como Linda Evangelista), o desfile foi um dos momentos mais triunfantes da semana. 

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