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Curiosidades 16. 8. 2018

Welcome to Hollywood

by Mónica Bozinoski

 

Quebraram convenções sem olhar às polémicas, inspiraram os mais diversos artistas com o seu trabalho e os seus nomes serão para sempre sinónimos de ícone. No dia em que se celebra o sexagésimo aniversário de Madonna, viajámos até Hollywood para traçar as influências do lendário fotógrafo Guy Bourdin naquele que é um dos videoclipes mais memoráveis da artista norte-americana.

De Material Girl a Blonde Ambition, dos coordenados em renda às malhas de ginástica em rosa elétrico, dos colares com crucifixos aos chapéus de cowboy, ninguém se divertiu tanto no carrossel que é o mundo da Moda como a própria Rainha da Pop. Vestiu todas as tendências que marcaram os anos 80, dos leggings em cores vivas ao excesso de joias nos pulsos. Imortalizou a sensualidade do icónico bustier com cones de Jean Paul Gaultier durante a Blonde Ambition Tour, a inocência impura de um vestido branco em renda conjugado com o famoso cinto Boy Toy em Like a Virgin, ou o poder altamente feminino de um fato masculino nos visuais de Express Yourself. Viveu na pele de Evita, no double denim de American Pie e na estética disco de Confessions on a Dance Floor.

Se é verdade que Madonna influenciou a indústria da Moda com o seu estilo camaleónico, é igualmente indiscutível que a indústria da Moda influenciou uma das maiores artistas da sua geração - e basta olharmos para os quatro minutos de Hollywood, uma homenagem visual à estética inconfundível de Guy Bourdin, para percebermos isso. 

Everybody comes to Hollywood é a frase que dá início ao tema lançado pela artista norte-americana em 2003, como parte do álbum American Life. Dirigido por Jean-Baptiste Mondino, e marcadamente influenciado pela cultura americana, pela ganância e pelos sonhos ilusórios, banalizados pela aura de Hollywood, o teledisco acompanha Madonna por cenários distorcidos de fantasia, sexualidade e sensualidade, uma das muitas odes ao trabalho de Guy Bourdin. 

"Para mim, Hollywood é uma metáfora", explicou Madonna ao canal de música VH1, durante o episódio de Making The Video que seguiu os bastidores das gravações de Hollywood. "É a cidade dos sonhos, a cidade das distrações, a cidade da superficialidade. É um sítio para ires e te distraíres daquilo que é realmente importante na vida. E podes perder a tua memória e a tua visão do futuro. Podes perder tudo, podes perder-te a ti mesma". 

©D.R.

 
 
 
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Uma figura solitária e praticamente isolada do olhar público, Bourdin imortalizou um mundo até então desconhecido, com uma noção estética e artística onde nada era deixado ao acaso. Uma miscelânea de fantasias, sexo e violência, com um sentido de humor decididamente mais negro, as suas imagens desafiavam as convenções impostas pela sociedade, ao mesmo tempo que marcavam uma nova forma de contar histórias e entender a fotografia de Moda como uma narrativa visual e marcadamente dramática. 

Durante as suas mais de três décadas de trabalho, e tal como o imaginário de Hollywood expresso por Madonna, o fotógrafo francês encenou um mundo marcado pela noção distorcida e manipulada da realidade - uma realidade onde o sentido de moral era deixado de parte para abrir caminho a uma abordagem brutal, bizarra e macabra do mundo, no seu estado mais cru. 

"Enquanto americanos, sinto que estamos completamente obcecados e envolvidos num sistema de valores errado", disse Madonna. "Queremos ter uma boa aparência, queremos ter muito dinheiro no banco, queremos ser vistos como pessoas ricas e famosas, ou simplesmente ser vistas como pessoas com muito sucesso. Sinto que há uma obsessão com a ideia de ser famoso que não é natural, especialmente com todos estes reality shows, toda a gente quer ser famosa só para dizer que é famosa. Para mim, este é o lado mais superficial do sonho americano", concluiu. 

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Entre a sofisticação, a provocação e o escândalo, os visuais de Guy Bourdoin eram criados através da teatralidade das luzes, do dramatismo das composições gráficas e de uma paleta de tons saturados, que exploravam tanto o sublime como o surreal. As suas imagens distorciam os ideais de Beleza impostos pela sociedade, fragmentavam o corpo feminino para encontrar o seu lado mais obscuro, e exploravam um mundo sem moral, muito semelhante aquele que Madonna pinta em Hollywood

"O conceito é simplesmente brincar com esta artificialidade que Hollywood te pode oferecer", disse Jean-Baptiste Mondino no mesmo episódio de Making The Video. "Queremos transmitir um conceito amplo desta ideia, e uma narrativa gráfica que fala sobre isso com um certo humor. Queremos mostrar a beleza, o horror, a sensualidade e a solidão que o sucesso de alguém pode representar. Independentemente de tudo, toda a gente sonha com Hollywood, e essa expectativa pode ser muito perigosa". 

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"São tão intensas e interessantes", disse Madonna sobre as imagens captadas pela lente de Guy Bourdin ao New Yorker, uma década antes do lançamento do videoclipe de Hollywood. "Estas raparigas, tens que olhar para a expressão no rosto delas - são verdadeiramente bizarras". 

Quinze anos depois, o videoclipe de Hollywood continua a ser não só uma das obras mais relevantes de Madonna, mas também uma das mais próximas do imaginário da fotografia de Moda. Os tempos podem ter mudado, o letreiro pode já não ser o filho prodígio do sucesso, do dinheiro, da fama ou da grandeza, mas a mensagem escondida nas linhas de Hollywood, tal como a própria Rainha da Pop, mantem-se verdadeira, autêntica e atual. 

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