É cru, brutal, preciso, imediato, literário e, tendo em conta a temática, de fácil leitura. O Ano Do Pensamento Mágico é um daqueles livros aos quais não conseguimos ficar indiferentes. Joan Didion dá-nos um murro no estômago sem pedir licença.
É cru, brutal, preciso, imediato, literário e, tendo em conta a temática, de fácil leitura. O Ano Do Pensamento Mágico é um daqueles livros aos quais não conseguimos ficar indiferentes. Joan Didion dá-nos um murro no estômago sem pedir licença.
“A vida muda rapidamente. A vida muda num instante. Sentas-te para jantar e a vida, como a conheces, termina.” É assim que abre O Ano Do Pensamento Mágico que nada mais é do que uma tentativa para perceber aquilo que tinha acontecido a Didion. Para contexto e não, isto não é um spoiler, a escritora norte-americana vê o marido morrer diante dos seus olhos na sala de jantar de sua casa. O que se sucede? Uma viagem até ao luto, esse lugar misterioso que muitos descrevem mas pouco se sabe. Aliás, a própria escreve que: “a dor da perda acaba por ser um lugar que nenhum de nós conhece até o alcançarmos (…) Podemos esperar a frustração, ficar inconsoláveis (…) Não esperamos ficar literalmente loucos ou ser «a mulher calma» que acredita que o marido está prestes a regressar dos mortos (…) Nem podemos conhecer, de antemão (e aqui está o cerne da diferença entre a dor como a imaginamos e a dor como ela é) a infindável ausência que se segue, o vazio, o preciso oposto de sentido.”
A escrita de Joan Didion não me era estranha, conhecia os artigos que assinou no início da sua carreira, sabia que era precisa na escolhas das palavras e dos temas que tratava, aquilo que não sabia era que conseguia transportar a dor para palavras que nos esmagam, sem nunca ser pretensiosa ou cair na autocomiseração. O Ano Do Pensamento Mágico é um diário lúcido das suas fragilidades e dos desafios que enfrentou depois de perder o marido, que era mais do que um par romântico. Através dessa jornada procurou desconstruir aquilo que sentia e que implicações tal acontecimento teve na forma de estar na vida.
Semanas antes de completar 25 anos e com as inseguranças de um jovem adulto atirei-me de cabeça a este livro. À medida que o ia lendo o livro mergulhava na dor de Didion mas, acima de tudo, ficava perplexo com a sua força e lucidez. Joan Didon é um ser humano extraordinário. Durante muito tempo procurei por um livro que me agarrasse logo de início e encontrei isso n’O Ano Do Pensamento Mágico. Sem qualquer dúvida, ou hesitação, este é um dos livros da minha vida. Uma verdadeira catarse.
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O Vogue Book Club é uma rubrica semanal, neste espaço um membro da equipa Vogue Portugal propõe-se a refletir, ou apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador. Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub.
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