Opinião   Palavra da Vogue  

#VogueBookClub: My Year of Rest and Relaxation, de Ottessa Moshfegh

01 Feb 2022
By Joana Rodrigues Stumpo

De relaxante não tem quase nada. Frustrante é a palavra que melhor descreve esta história - frustrante e verdadeira.

De relaxante não tem quase nada. Frustrante é a palavra que melhor descreve esta história - frustrante e verdadeira.   

 

Assim me esperava sentir no final desta leitura: descansada e relaxada. Na verdade, não sabia bem o que me esperava com My Year of Rest and Relaxation. Sabia apenas que tem feito furor nas redes sociais e o Goodreads fez questão de me recomendar mais do que uma vez, portanto não tive outra opção. 

Confesso que não estava preparada para o estado emocional da personagem principal - algo nas palavras rest e relaxation me passaram a ideia de que isto seria uma história mais serena. Essa foi provavelmente a surpresa mais agradável. Claro, não há nada de belo numa depressão severa e em abuso de drogas, mas há qualquer coisa de real nesta procura infindável por sono. Não é preciso chegar-se ao ponto em que conhecemos a narradora para, de alguma forma, nos relacionarmos e totalmente compreender a necessidade súbita de simplesmente apagar - ao estilo da Bela Adormecida (mas um bocadinho menos elegante). Mesmo que esse não seja um ponto com que nos relacionemos, Moshfegh não falha quando nos apresenta uma mulher que tem tudo para ser feliz - dinheiro, amigas, um emprego -, e ainda assim não o é. Talvez a empatia em My Year of Rest and Relaxation esteja dependente disso mesmo: de uma experiência que todos temos com uma sociedade que não nos deixa sentir mais nada além de plena felicidade e satisfação. Se temos um teto a cobrir a cabeça e nos sentimos infelizes, somos ingratos, tal como a narradora.

Há qualquer coisa de real no ódio repentino por tudo e todos, em todas as coisas desprezíveis a que chega a personagem só para salvaguardar o sono e as drogas. Acima de tudo, se há algo que seja mais real em toda esta história, é a dormência: aquele limbo que muitas vezes tomamos por tristeza. Moshfegh materializa o sentimento de não sentir em sono e nunca fez tanto sentido entendê-lo como um momento em que podemos pôr a vida em pausa. Mas, para a personagem principal, não é vivido de forma tão serena quanto isso, já que os meios para assegurar que passa horas a fio a dormir são grosseiros, miseráveis, vergonhosos até - e, por isso mesmo, assim sentimos a história mais verdadeira.

Apesar de ser um livro pequeno (nem às 300 páginas chega), foram quase duas semanas para o terminar. No fim, percebo que as palavras de Moshfegh acompanham de tal forma o pensamento da narradora que o ritmo a que lemos segue os altos e baixos da sua energia. Não somos nós a tomar sedativos, mas sentimos o mundo a abrandar ao longo de cada página. Talvez tenha sido por isso mesmo que My Year of Rest and Relaxation acabou por me ter deixado ansiosa e frustrada. Mas, apesar de tudo isso, não deixa de ser um conto que inspira empatia mesmo nas coisas menos bonitas que cada um de nós tem.

O Vogue Book Club é uma rubrica semanal, neste espaço um membro da equipa Vogue Portugal propõe-se a refletir, ou apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador. Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub. 

Joana Rodrigues Stumpo By Joana Rodrigues Stumpo

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