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Palavra da Vogue 11. 10. 2022

#VogueBookClub: The bluest eye, de Toni Morrison

by Pedro Vasconcelos

 

O primeiro livro da escritora americana é uma verdadeira tour de force, indicativo do legado que ainda estava para construir.

 

“But to find out the truth about how dreams die, one should never take the word of the dreamer.”
- Toni Morrison

Toni Morrison era uma verdadeira artista, a forma como manipulava a linguagem era enfeitiçante, colando-nos às suas palavras pela sua beleza. Ler um livro da escritora americana é como suster a respiração pela ansiedade de ler a próxima palavra. A escritora foi-me recomendada quando tinha apenas 18 anos, por uma professora de escrita criativa que idolatrava Morrison; não foi preciso passar da primeira página de The Bluest Eye para entender a sua devoção. Como o primeiro livro escrito pela escritora, decidi que seria também o meu ponto de introdução a uma das vozes mais marcantes da literatura do século XX. 

The Bluest Eye conta a história de uma rapariga de 11 anos afro-americana no estado do Ohio, na cidade de Lorain, o local onde Morrison nasceu e cresceu. Pecola, a protagonista, é o produto de uma dinâmica familiar extremamente disfuncional que, ao tentar fugir da sua realidade doméstica, se torna obcecada com tornar-se bonita. Esta fixação repousa nos olhos azuis que são o derradeiro sinal de beleza para a criança e pelos quais reza diariamente. O livro é de partir o coração, à medida que a vida de Pecola se desmorona e o seu desejo torna-se percetivelmente impossível. A escritora utiliza diferentes técnicas para alcançar o efeito enfeitiçante da sua linguagem, como diferentes perspetivas, narradores e até fragmentação em diferentes momentos na história.

É através da instrumentalização da sua linguagem, floreada quase ao ponto do poético, que Morrison narra uma história com profundidade e relevância que se preservam 52 anos após a sua publicação. A escritora analisa a conexão entre o padrão de beleza e a hegemonia social branca, focando-se particularmente no efeito que esta correlação tem nas vidas e auto-estima de mulheres negras. O desejo dos olhos azuis por parte da personagem principal é apenas um reflexo das mensagens que lhe são passadas ao longo da sua vida. As bonecas que lhe são oferecidas, as mulheres que vê nos filmes, até os elogios concedidos às pessoas à sua volta: Pecola é forçada a associar o bonito ao branco. Escusado será dizer que a crítica feita por Morrison à sociedade em que cresceu, e na qual viveu o resto da sua vida, é não só pertinente como, quando foi publicada pela primeira vez em 1970, praticamente revolucionária. The Bluest Eye é uma leitura obrigatória, especialmente para aqueles que não conhecem a escrita de Morrison. 

Pontuação:

O Vogue Book Club é uma rubrica semanal. Neste espaço, um membro da equipa da Vogue Portugal propõe-se refletir, ou
apenas comentar, um livro - seja uma novidade literária ou um clássico arrebatador.
Pode participar nesta discussão através da hashtag #VogueBookClub.

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