Uma t-shirt branca nunca é só mais uma t-shirt branca
Haute Peinture
Tendências 8. 10. 2019
Caminhamos a passos cada vez mais largos para a estação das golas altas, caxemiras, sobretudos e camisolas de malhas bem quentes. Para que não lhe falta nada nesta nova estação, eis as sete principais tendências para o outono/inverno 2019.
O que mais ouvimos das amigas em 2019 é que ser solteira está difícil e todas as histórias e tentativas de encetar um romance têm sido frustradas. Mas o facto de se ser apanhada no romance mau - como diz Gaga - não é motivo para falhar o dress code: fluidez, folhos, florais são os “Fs” que importam no look romântico da nova estação. Mas não na sua forma mais delicada; antes com um toque de negro, tenebroso, com o seu quê de pesado, para bater com a estação. É o modo da dating scene atual. Afinal, até já assume termos como o ghosting...
Como na clássica obra de Ridley Scott, cuja história se passa no ano de 2019, numa Los Angeles destruída pela poluição e consumismo desenfreado que podem levar ao colapso da civilização humana na Terra, a obra parece quase premonitória, com previsões a decorrerem, atualmente, como se saídas de um filme de ficção científica. Para se preparar para as intempéries que aí vêm - sejam da estação das chuvas, seja do destino do planeta -, inspiração não faltou aos mais diversos designers que trouxeram essa estética para as passerelles.
Nudez para o inverno. Como assim? É isso mesmo - recorde-se Gucci em 1995 e Thierry Mügler em 90/91, só para nomear alguns exemplos de outrora de quem já associou as transparências à época fria. Talvez por razões diferentes, ainda que com a mesma sofisticação em mente: os criadores de hoje lidam com as alterações climáticas. Talvez isso valide ainda mais o recurso a materiais como o indiscreto chiffon de seda ou o revelador tule - mesmo na estação das temperaturas baixas.
E a qualquer outro espírito que recupere os anos 90 e todo o seu esplendor grunge. Dos axadrezados às sweatshirts, das botas autoritárias à decadência de looks que gritam party hard, o seu momento zen da estação fria é atingir o Nirvana - a banda, não o estado de felicidade suprema. Também não o quereríamos, se é desta forma que se faz o caminho para este estado de coolness - afinal, o que seria dos nineties sem um pouco de melancolia?
Quem disse que tamanho não importa claramente ainda não experimentou nenhum dos vestidos apresentados por nomes como Richard Quinn, Alexander Mcqueen e Marc Jacobs, esta estação. Aqui, o mais é mais - tanto quanto saber o que se fazer com ele. A volumetria atinge o seu estado mais exuberante num outono/inverno que não fala só em grande, fala em enorme: enorme no tamanho, nas texturas, nas tonalidades. Go big or go home é a expressão a ter em mente, quando as temperaturas descerem.
Ângulos retos, estruturas rígidas, pontos de fuga - mas desta tendência não vai querer fugir. Estes looks arquiteturais desafiam a gravidade para trazer à estação fria casacos, vestidos e demais visuais dignos de um Pritzker. O jogo de linhas e volumes brinca com as proporções para colocar peças monumentais no guarda-roupa de inverno, primando ainda, tal como na arquitetura, pela diversidade de texturas.
Genderless is more neste outono/inverno: as linhas masculinas confundem-se com as femininas para um guarda-roupa que não admite rótulos. Casacos, sobretudos, sapatos, coletes inspiram-se nos códigos da alfaiataria para um vestuário que não é dela, nem dele. É de quem quiser. As tonalidades fazem um caminho similar: há os versáteis cinzas, o nada boring bege, que traz consigo a família de tons mais claros e mais escuros, e o eterno preto. Há algo mais democrático que o negro, no guarda-roupa?