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Suit up: a evolução do blazer pela história da Moda

23 Sep 2025
By Rita Petrone

Fotografia: Bob Richardson/Conde Nast via Getty Images

Porque a verdadeira sabedoria está nas mãos de quem opta por peças cuja história vive na sua mestria, nesta estação, os blazers surgem como mais do que protagonistas da rentrée: são manifestos de estilo, liberdade e savoir-faire.

Feitos à medida, oversized ou assimétricos, os blazers vivem numa multiplicidade de silhuetas tão elaborada quanto a sua construção — não fossem as regras da alfaiataria ditar esta peça como uma das mais complexas da Moda. Emblemáticos de uma mestria artesanal e particularmente incontornáveis na rentréeos blazers começaram por cravar um espaço no guarda-roupa masculino. Hoje, atravessam fronteiras (diga-se, géneros e dress codese são consideradas uma das peças protagonistas do movimento de empoderamento feminino. Entre séculos de história, os blazers conquistaram o seu estatuto de intemporalidade passo a passo com os direitos das mulheres, acabando por transcender o efémero mundo das tendências que vive no centro da Moda.

Tradicionalmente, define-se por blazer um casaco estruturado de comprimento até à coxa, com botões duplos e tingido a tons de preto ou azul marinho; uma espécie de filho do meio entre os casacos formais de fato e os casacos casuais ou desportivos. Ao contrário dos casacos de fato, o blazer tende a ser usado sem calças a condizer, mantendo também uma silhueta mais folgada e solta nas zonas do peito e dos ombros. A sua forma tem evoluído ao longo das décadas — de (re)interpretações simples a iterações que reescrevem a sua fisionomia quase na totalidade — e, atualmente, são mais do que estrelas da estética office core que regressa, sem falta, outono após outono: são um must-have de guarda-roupa seja qual for a ocasião (ou a estação).

Ainda que a sua presença na Moda seja hoje assídua e incontestável, as origens do blazer mantêm uma ambiguidade que confere à peça o seu quê de mistério. Mas uma coisa é certa: os blazers foram criados para serem usados em barcos. Aliás, há relatos que apontam que a peça foi inventada no início do século XIX, especificamente para ser usada como uniforme das equipas de remo das universidades britânicas de Cambridge e Oxford. Eventualmente, os blazers chegaram ao mundo do trabalho dominado pelos homens e, já no final do século, à medida que as mulheres conquistaram um lugar mais ativo na sociedade, os espartilhos deram lugar a conjugações que uniam o conforto sem nunca sacrificar a elegância. Na Vogue, o blazer foi mencionado pela primeira vez em 1893: “Com o início da temporada náutica, as costureiras e os alfaiates estão ocupados a criar trajes elegantes e dignos de viagens de iates”, liam-se as palavras do jornalista na edição de junho. No entanto, foi apenas na década de 1910 que as mulheres começaram a adotar oficialmente o uso de silhuetas masculinas. Verdade seja dita, foi um ato que uniu o útil ao agradável: além de facilitar os movimentos durante um dia a dia cada vez mais atarefado, serviu também como uma declaração sufragista em nome da primeira onda do movimento feminista.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o vestuário masculino continuou a sua expansão para o guarda-roupa oposto. Devido à guerra, as mulheres casadas começaram a usar as roupas dos maridos, enquanto estavam fora, o que resultou em looks práticos, mas também com um twist de elegância como só o olhar feminino consegue. É na plenitude deste mindset social que, em 1947, Christian Dior reagiu à necessidade de ajustar o guarda-roupa feminino para que este refletisse melhor a realidade do pós-guerra. A estética New Look do designer introduziu o icónico casaco Bar, uma peça em formato ampulheta que une ombros estruturados a cinturas justas e linhas femininas, e que, por sua vez, serviu como munição para as mulheres afirmarem os seus direitos e conquistarem uma nova joie de vivre no pós-guerra. Este movimento desencadeou uma revolução na Moda, onde as regras do vestuário feminino assumiram um livre arbítrio nunca antes visto; ainda assim, o blazer manteve-se preso nos círculos de elite até ao final dos anos 50, quando, no Reino Unido, a subcultura mod deu um novo significado aos blazers que até então eram utilizados pelos uniformes escolares, interpretando-os como símbolos de rebeldia, ousadia, identidade e independência. Já nos anos 60, a alfaiataria voltou a evoluir — desta vez, pelas mãos de Yves Saint Laurent. Em 1966, o designer apresentou ao mundo o Le Smoking, um tuxedo pensado exclusivamente para o corpo (e estilo) das mulheres, e a peça acabou por se tornar um dos principais turning points no que à Moda feminina diz respeito. Assim, quando, na década de 1980, mais de 50% das mulheres entraram no mercado de trabalho, o blazer tornou-se parte oficial do guarda-roupa feminino do quotidiano, tornando a peça sinónimo do conceito de power suit e cimentando o seu estatuto como intemporal.

Modéstia à parte, os blazers são considerados uma das peças mais complexas de criar, tanto no ramo da alfaiataria como na Moda em geral. A sua natureza estruturada e necessidade de técnicas detalhadas requer um savoir-faire bastante específico que advém da construção em camadas e acabamentos detalhados — como o corte, as lapelas, os bolsos, as mangas ou o forro. É a definição de um effortless chic que, nos seus bastidores, esconde uma realidade de muito trabalho, dedicação e perfeição. Nas passerelles que ditaram as tendências para a próxima estação fria, os blazers apresentados pelos grandes nomes da Moda surgiram em diferentes e variadas proporções, dando asas à sabedoria e criatividade necessárias para dar vida a esta peça. Das criações em tartan da Ami Paris aos fatos coloridos propostos pela Tom Ford (sem nunca descurar as peças clássicas com um twist contemporâneo da Emporio Armani), nesta temporada, os blazers surgem como mais do que meros aliados de guarda-roupa: são um manifesto de irreverência e conforto, misturado com a ousadia de quem sabe a diferença entre um estilo intemporal e tendências finitas.

Originalmente publicado no The Wisdom Issue, a edição de setembro de 2025 da Vogue Portugal, disponível aqui.

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