Pascal Le Segretain/Getty Images para a Vogue
O antigo diretor criativo da Valentino vai suceder a Demna na direção da Balenciaga. Algumas horas antes deste anúncio, Piccioli falou em exclusivo à Vogue Business e à Vogue Runway sobre a sua entrada na casa de Moda detida pela Kering.
Pierpaolo Piccioli sucederá a Demna na direção criativa da Balenciaga, anunciou hoje a casa-mãe Kering.
"Este é um novo momento para a Moda e só é possível mudar as regras a partir do interior. Penso que podemos dar uma nova imagem da Moda que tem a ver com assertividade, humanidade e inteligência, o que não é concedido com muita frequência. A Balenciaga já existe numa comunidade. Quero abraçar essa comunidade e o espírito da Balenciaga, para fazer o meu próprio capítulo na mesma história", disse Piccioli à diretora global da Vogue Runway e da Vogue Business, Nicole Phelps, hoje.
A indústria da Moda tem aguardado ansiosamente o anúncio desde que Demna foi nomeado diretor criativo da Gucci em março de 2025. A contratação de Piccioli para a Balenciaga ocorre mais de um ano depois de o designer italiano ter abandonado a Valentino. A sua nomeação entra em vigor a 10 de julho, logo a seguir ao último desfile de Alta-Costura de Demna na Balenciaga, mas sabe-se que começará a trabalhar na sua primeira coleção antes. A primeira coleção da Balenciaga sob a direção criativa de Piccioli será apresentada em outubro, de acordo com o comunicado.
"É um dos designers mais talentosos e célebres da atualidade. A sua mestria na Alta-Costura, a sua voz criativa e a sua paixão pelo savoir-faire fizeram dele a escolha ideal para a casa", afirmou Francesca Bellettini, vice-CEO da Kering, num comunicado partilhado pela empresa.
A estética de Piccioli é bastante diferente da de Demna, pelo que a sua nomeação poderia ser vista como um sinal de uma potencial mudança na estratégia da casa. Piccioli, no entanto, sugere uma continuação: "Quero abraçar o passado, porque sinto que é muito importante ter respeito pelo que Nicolas [Ghesquière] e Demna fizeram antes de mim. A história da Balenciaga é uma história de designers que eu respeito. Isto é mais uma passagem da tocha do que um dança das cadeiras, e sinto-me muito sortudo por fazer parte disso", disse a Phelps.
Piccioli continuou a falar sobre o facto de sentir uma ligação a Cristóbal Balenciaga e ao seu trabalho: “Venho de um sítio muito pequeno, tal como Cristóbal, e compreendo que fazer um trabalho de que se gosta é um privilégio”. E acrescentou: "Cristóbal estava a entregar-se através do seu trabalho. Se pensarmos na sua silhueta, nas suas formas - ele fazia da criatividade uma cultura e era sempre disruptivo."
O designer italiano cresceu na cidade turística de Nettuno, estudou literatura na Universidade de Roma, estagiou na Brunello Cucinelli e, após a licenciatura, juntou-se à equipa da Fendi com Maria Grazia Chiuri. Entrou para a Valentino em 1999 como designer de acessórios ao lado de Chiuri. A dupla foi nomeada co-diretora criativa em 2008, depois de Valentino se ter reformado e Alessandra Facchinetti ter deixado o cargo após apenas um ano. A dupla criativa entrou numa maré de vitórias. “Os seus desfiles de Alta-Costura eram tão sublimes como os seus sapatos com studs eram inteligentes”, escreveu Phelps na altura em que a casa confirmou a saída de Chiuri. Em 2016, Piccioli assumiu o papel de único diretor criativo, após a partida de Chiuri para a Dior. A sua primeira coleção em outubro de 2016, após a saída de Chiuri, “revelou o romantismo desenfreado e a fantasia da visão singular de Piccioli”, escreveu Hamish Bowles na altura.
Na Valentino, Piccioli também impressionou o mundo da Moda com as suas capacidades como couturier, o que é um trunfo importante dado que a Balenciaga regressou à Alta-Costura em 2021, bem como com a sua capacidade de modernizar uma marca tradicional. Em conversa com Luke Leitch em 2011 sobre a forma como ele e Chiuri abordaram o legado de Valentino Garavani, Piccioli disse: “Mantemos a linguagem, mas mudamos a atitude”. Esta é uma competência preciosa para a Balenciaga, onde o designer poderá recorrer aos arquivos ricos e relativamente inexplorados do fundador Cristóbal Balenciaga. Em setembro de 2024, a exposição de Balenciaga na sede da Kering, intitulada The Subtleties of a Dialogue (As subtilezas de um Diálogo), marcou a primeira vez que as criações de arquivo de Balenciaga foram apresentadas juntamente com as de Demna.
A nomeação também tem um certo subenredo relacionado com a Kering: em 2012, a Valentino foi adquirida pelo fundo de investimento Mayhoola do Qatar por 700 milhões de euros, segundo a Reuters. Depois, em julho de 2023, a Kering anunciou a aquisição de uma participação de 30 por cento na Valentino por um valor de 1,7 mil milhões de euros. O acordo inclui a opção de a Kering adquirir o resto da marca até 2028. Na altura da aquisição, quando Piccioli ainda estava ao leme criativo, Pinault descreveu a Valentino como “uma casa italiana única que é sinónimo de beleza e elegância”. Em 2024, as receitas da Valentino ascenderam a 1,3 mil milhões de euros, apenas ligeiramente atrás da Balenciaga.

Arnold Jerocki/Getty Images para Tom Ford
A Kering não detalha as vendas da sua divisão Outras Casas, que inclui a Balenciaga ao lado de marcas como Alexander McQueen e Boucheron. De acordo com as estimativas da Morgan Stanley, no entanto, as vendas da Balenciaga atingiram 1,66 mil milhões de euros em 2024 (acima dos 360 milhões de euros em 2015, quando Demna assumiu o leme criativo). A controvérsia em torno de duas campanhas publicitárias lançadas no final de 2022, que foram vistas como sugestivas de abuso sexual infantil e pornografia, foi um golpe para as receitas da marca. Seguiu-se a recessão mundial do luxo. Mas parece estar em curso uma lenta recuperação: “A Balenciaga registou um crescimento robusto nos artigos de couro, impulsionado pelo sucesso das carteiras recentemente lançadas, mas a casa não está imune às fracas condições de circulação”, afirmou Armelle Poulou, diretora financeira do Kering, durante a chamada de resultados do primeiro trimestre do grupo. Recentemente, a Balenciaga reforçou a sua direção: promoveu Nathalie Raynaud, que foi fundamental para o sucesso das carteiras de mão da casa, como a Rodeo, a vice-CEO. O CEO Gianfranco Gianangeli assumiu as suas funções em janeiro.
Parece ser uma escolha tranquilizadora, que poderá beneficiar o grupo, especialmente após a reação inicial dos investidores a Demna na Gucci. A sua primeira coleção para a Balenciaga será apresentada durante a Semana da Moda de Paris, nos desfiles da primavera de 2026, juntando-se ao alinhamento de estreias de designers que inclui Matthieu Blazy na Chanel, Duran Lantink na Jean Paul Gaultier e, claro, Demna na Gucci.
“A sua visão criativa irá prosperar e ele interpretará na perfeição o legado de Cristóbal Balenciaga, com base na criatividade arrojada da casa, no seu rico património e na sua forte cultura”, afirmou Gianangeli num comunicado. “Com a experiência das nossas equipas e a energia criativa dinâmica que historicamente tem impulsionado a Balenciaga, estou ansioso pelo que iremos construir juntos.”
"Estou pronto. Descansei o suficiente, por isso estou pronto para começar", disse Piccioli.
Traduzido do original, disponível aqui.
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