The Wisdom Issue
Desde os tons de base incorretos aos cortes de cabelo caseiros, cada erro de beleza tem um lugar no arquivo. Porque o caminho para a sua própria estética não é pavimentado com escolhas perfeitas — é traçado pelos erros que lhe ensinaram quem é.
Já usei base cinco tons mais claros do que o normal, convencido de que mais claro significava mais bonito — ou que bronzeador significava mais bonito. Já experimentei tendências de lábios para estruturas ósseas que não tenho. Cortei a franja em casa e segui conselhos de beleza de estranhos que não conheciam o meu rosto, a minha pele ou a minha vida. Passei horas a aperfeiçoar o eyeliner só para perceber que fazia os meus olhos parecerem mais pequenos, e não maiores — para depois me perguntar se queria mesmo que parecessem maiores. Já esfoliei demais, apliquei pó demais, delineei demais e compensei demais.
E, no entanto, nenhum destes erros foi em vão. Cada linha de base visível à luz do dia, cada fotografia que me fez estremecer depois, cada penteado que parecia perfeito na minha cabeça, mas catastrófico no espelho — todos me aproximaram de mim mesmo. A beleza, como se pode constatar, não é um caminho reto ladeado por escolhas perfeitas. É uma rota sinuosa, por vezes caótica, com desvios, voltas erradas e paragens cénicas que não planeei, mas que não faria diferente.
Houve um tempo em que olhar para fotografias antigas me fazia estremecer. Umas eram constrangedoras, outras totalmente ofensivas ao meu gosto atual. Como me atrevo a fazer isto com a minha aparência — e pior ainda, como me atrevo a publicar isto online? Mas com a distância vem a ternura. Cada foto má, cada look questionável, cada corte de cabelo horrível ou olho esfumado malfeito trouxeram-me até aqui. Permitiram-me tornar-me quem sou, conhecer-me, aprender-me — e, o mais importante, ser eu. Como explorámos na última edição impressa de The Wisdom Issue, em The Grace of Becoming, crescer em si mesmo raramente é um momento único. É uma série de chegadas, cada uma moldada pelas versões que já foi.
Não se trata de arrependimento. Trata-se de reconhecimento — o momento em que se pode olhar para trás e ver que escolhas foram experiências, quais foram distrações e quais foram sinalizadores silenciosos que apontam para a sua própria linguagem estética. A perfeição não ensina nada; os erros, no entanto, têm uma forma de mostrar exatamente onde não se quer ir, o que é geralmente o caminho mais rápido para chegar onde se quer.
Aprendi da maneira mais difícil que nem tudo o que é "para todos" é para mim. Mas também aprendi que tentar mesmo assim não é falhar — é investigação. A alegria (e, por vezes, a dor) da exploração é que não pode ser fingida; é preciso vivê-la, usá-la e, por vezes, lavá-la na pia à meia-noite. Cometi erros — e cometerei mais. Mas se continuar a aprender, nada disto foi em vão.
Dizem que a beleza é uma forma de arte e, para aprender arte, é preciso cometer erros. Nenhum artista nasce mestre; aprendem, cada pincelada uma prática, cada falha, uma lição. Na beleza, estas pinceladas são feitas de cor, textura, luz e sombra — um toque de blush muito carregado, um batom que escorre em vez de clarear, um corte de cabelo que ficou perfeito noutra pessoa, mas cai na sua. Estes momentos não são apenas desvios; são o mapa.
A tentativa e erro molda a nossa estética pessoal muito mais do que a perfeição alguma vez poderia. A perfeição não deixa pistas, impressões digitais, nenhuma história. Os erros, por outro lado, deixam provas — um catálogo do que combina e do que não combina consigo. Com o tempo, estas escolhas "erradas" começam a esboçar o contorno do que é certo e, eventualmente, deixa de perseguir todas as possibilidades e começa a reconhecer aquelas que lhe pertencem.
A sabedoria, quando chega, fala muitas vezes por subtração. Não se trata apenas de saber o que gosta — trata-se de saber o que pode deixar para trás sem explicação. Aprende que um certo batom, um certo penteado, um certo corte de roupa simplesmente não lhe pertencem, por muito bonito que fique noutra pessoa. Não tem de defender a escolha, ou a falta dela; simplesmente não recorre mais a isso.
Há uma confiança silenciosa nesta recusa. Já não tenta provar que consegue "dar conta do recado", porque o impulso para provar o que quer que seja dissolveu-se. Algumas coisas não combinam consigo, e isso não é uma falha — é um limite. Uma estética pessoal tem tanto a ver com o que se diz não como com o que se abraça. E quando já não desperdiça energia a perseguir coisas que nunca foram suas, abre espaço para aquelas que são.
É claro que a indústria da beleza prospera com a promessa de que tudo pode servir para todos — que um determinado tom de batom é "universalmente lisonjeiro", que um gel de sobrancelhas viral a vai transformar, que um corte de cabelo pode funcionar em qualquer formato de rosto. É uma narrativa tentadora porque faz com que a beleza pareça democrática, aberta a todos. E embora o seja, em teoria, a realidade é bem menos clara. Universal raramente é universal. O que lisonjeia uma pessoa pode lisonjear outra, e o que faz um rosto brilhar pode silenciar outro.
A cultura dos influenciadores só veio amplificar isso, vendendo um fluxo constante de "itens indispensáveis" como se fossem tão essenciais como a água. E, no entanto, apesar de todos os seus defeitos, este ciclo de tentação tem um valor estranho. Puxa-nos para experiências que talvez nunca tivéssemos tentado de outra forma. Ensina-nos, por vezes da maneira mais difícil, onde estão os nossos próprios limites — e, ocasionalmente, traz-nos uma surpresa que não sabíamos que queríamos. O segredo é saber quando sair do carrossel e manter apenas o que realmente nos pertence.
Há uma certa emoção na exploração, mesmo quando termina em desilusão. A primeira passagem de um batom não testado, o momento em que se tira a toalha depois de um corte de cabelo drástico, a expectativa de ver se esta vez, este produto, esta tendência pode ser a certa. Às vezes resulta. Muitas vezes não. Mas até os tropeções dão textura à história que está a contar sobre si própria.
A dor vem depois, talvez no espelho da casa de banho sob uma luz implacável, ou quando um amigo o identifica numa fotografia que capta todos os ângulos errados. Mas a alegria está em tentar — na disposição de se ver de uma nova forma, mesmo que apenas por um dia. Cada experiência deixa para trás uma pequena pista, e com o tempo essas pistas juntam-se em algo reconhecível: o seu próprio mapa estético. É um mapa que não poderia ter desenhado sem as curvas erradas, os becos sem saída, os desvios cénicos.
E é por isso que os erros, apesar de toda a sua dor, são essenciais. Não são fracassos; são prática. Tornam-no fluente em si mesmo.
Com o tempo, estas experiências começam a parecer menos urgentes. O carrossel abranda. Começa a reconhecer as formas e as cores que lhe parecem familiares e alcança-as sem hesitação — não porque sejam mais seguras, mas porque são suas. Como escrevi em The Grace of Becoming, a verdadeira beleza da chegada é que nunca se trata de nos contentarmos com menos; trata-se de se acomodar em si mesmo. E, no final, a beleza não se constrói apenas com o que nos serve — é também moldada pelo que não serve. Cada corte de cabelo que não sobreviveu uma semana, cada tentativa malfadada de criar o look característico de outra pessoa, cada produto que prometia transformação, mas entregava algo completamente diferente, faz parte do mesmo arquivo. Contam a história de como aprendemos, como testamos, como decidimos. E esta tomada de decisão, mais do que o resultado, é o que cria uma estética pessoal que parece vivida, e não emprestada.
Cometi erros — e cometerei mais. Mas a diferença agora é que sei que me vão servir. Quando olho para trás, vejo não só o que errei, mas como esses erros me aproximaram do que parece certo. A beleza não é uma coleção de escolhas perfeitas. É uma série de experiências, cada uma moldando o próximo, até que um dia se percebe que já não se está a tentar tornar-se outra pessoa. Está simplesmente a tornar-se você mesmo — e essa é a única coisa em que não pode errar.
Most popular



Não há duas sem três: o trio português que não pode faltar numa mesa portuguesa
12 Sep 2025
Relacionados
.jpg)