NYFW primavera/verão 2026: um início lento de um mês revolucionário

E assim começa! A estação pela qual tanto esperámos, a estação das estreias, a estação de toda uma nova era da indústria. Com novidades entusiasmantes alinhadas para o resto do mês, o típico começo americano foi suave. Para a primavera/verão 2026, a Semana de Moda de Nova Iorque foi surpreendentemente amena. As marcas mais imponentes da cidade ausentaram-se, deixando uma nova vanguarda para assumir a posição de topo. 

Bem, comecemos pelo mais entusiasmante: Proenza Schouler. Após as notícias que os fundadores da marca seriam os próximos diretores criativos da Loewe, a marca que o duo fundou ficou órfã. Dúvidas do que aconteceria à marca começaram a ruminar e os rumores típicos da indústria já sonhavam nomes para atribuir como seu sucessor. A certeza veio com o nome de Rachel Scott, a fundadora da marca de culto Diotima. Um suspiro de alívio coletivo foi ouvido pela cidade. A designer é um dos nomes mais entusiasmantes da indústria americana. Após chegar a finalista para o prémio CFDA/Vogue Fashion Fund em 2023, a sua abordagem eclética amadureceu numa visão que decisivamente intelectual. E, ainda que primavera/verão 2026 não seja a sua primeira coleção oficial, mais uma colaboração entre Scott e o estúdio da marca, o desfile dá-nos um vislumbre para o futuro da marca.

O primeiro look marcou o ritmo da estação: um fato com um padrão texturizado, com costuras abertas. A marca, conhecida pela sua manipulação de cor de uma forma tão séria como leve, é sequestrada pela exploração material de Diotima, a marca fundada por Scott. Aqui, um fato cortado com exatidão é justaposto a uma textura despenteada. Este sentimento foi uma constante na coleção. Um top sem mangas e uma saia oversized são recortados com laser, dando a impressão de pétalas. A inspiração floral continua em padrões (quase) psicadélicos, com bouquets que derretem lentamente e que se arrastam em vestidos esculturais.

Proenza Schouler SS26

Dois dias mais tarde, Diotima, apresentou o seu primeiro desfile. A decisão foi um sinal para a indústria. Após anos de apresentações e lookbooks, Scott está pronta para jogar o jogo. Não é apenas nas decisões executivas que a marca mostra crescimento, a direção criativa desta estação é particularmente iluminada. Com o sujeito do Carnaval caribenho em mente, a designer aproveitou a euforia cultural como forma de exorcizar a sua raiva com o estado do mundo. Saias recortadas criam um efeito hipnotizante à medida que as modelos andam pela passerelle. Vestidos volumosos são tão pesados como leves, com saias de balão que flutuam imponentemente. Acessórios e calçados extraordinários não são apenas complementos da visão de Scott, são a personificação de um crescimento que é tão criativo como é comercial.

Diotima SS26

E, por falar em surpresas agradáveis, Eckhaus Latta apresentou uma das suas melhores coleções na sua história. Mike Eckhaus e Zoe Latta, alcançaram algo que parece ser difícil na indústria dos dias que correm: roupa que é tão vestível como é interessante. A coleção abriu com série de looks pretos onde a transparência e a textura se tornaram protagonistas. Um tank top manifesta-se em duas camadas translúcidas onde sua justaposição cria uma opacidade sedutora. Um vestido longo revela as pernas da modelo à medida que faixas largas de tecido transparente se movimentam. Mesmo com toda a sua complexidade, não há como enganar: a perspetiva de Eckhaus Latta é minimalista. As propostas desta estação são elementos básicos de um guarda-roupa interessante, não gritam por atenção. Mas, para toda a seriedade que o minimalismo tem a fama de ser, aqui é divertido—é sexy.

Eckhaus Latta SS26

Da nova vanguarda para as lendas. Para primavera/verão 2026, Michael Kors revela uma coleção inspirada no deserto. Num desfile com a presença de mais celebridades do que cadeiras para as sentar, o designer americano alcançou a leveza de um guarda-roupa estival com uma elegância urbana. Vestidos leves chegaram em formatos variados. Primeiro, em túnicas com colarinho, e mais tarde em vestidos coluna drapeados com precisão. Os clássicos americanos—o género de Moda com a qual Kors se tornou sinónimo—marcaram a sua presença obrigatória. Camisas impecáveis e calças largas, leves pontuaram a coleção. Eventualmente, o desfile tomou um rumo mais formal, com vestidos brilhantes em tons neutros.

Michael Kors SS26

Uma menção especial para Lii, uma das marcas mais entusiasmantes na cidade. Com apenas dois anos de experiência profissional, o designer Zane Lii, propôs uma coleção que joga com básicos como se fossem peças de um puzzle: cada componente é analisada com cuidado para formar looks tão despreocupados como chiques. E, claro, não podíamos deixar de destacar Collina Strada. A marca famosa pelos seus conceitos peculiares, não dececionou. Nesta estação, cada look apresentado na passerelle foi acompanhado com uma versão em preto para simbolizar a sombra que cada um de nós carrega. Inspirada na crise política que os Estados Unidos enfrenta, a diretora criativa da marca, Hillary Taymour, propõe estes pares como um início de uma conversa. Quem somos quando ninguém nos vê? A ideia, para além de original, foi executada com sucesso. Silhuetas volumosas e vestidos em seda foram o destaque da coleção. À medida que a cultura muda, a Moda acompanha-a passo a passo. As semanas que se avizinham são a prova deste facto. A correntes de mudança na indústria não escorrem no vácuo—são o sinal de um mundo em metamorfose. 

Collina Strada; LII SS26