A mais bela das histórias
I couldn’t help but wonder
Entrevistas 26. 9. 2018
Neste fashion month a dupla portuguesa deixa Londres e aterra em Paris, uma jogada que combina uma visão ambiciosa com um equilíbrio saudável na vida profissional e uma aproximação à cultura do see now, buy now.
Há uma frase de Nick Laird, no seu último livro, Modern Gods, que parece resumir o sentimento que hoje se vive na indústria da Moda: “Tu estavas bem, tu estavas bem, tu estavas bem e depois tudo se desfez.” O consenso geral que sustenta o antigo sistema - de ver as coleções meses antes de chegarem às lojas - está ultrapassado, os desfiles são anacrónicos. Mas qual é a solução?
Marques’Almeida não desmoronou - longe disso. Mas os criadores Marta Marques e Paulo Almeida (marido e mulher) certamente sentiram que a estrutura atual, exigindo quatro coleções por ano, estava a levar a sua equipa ao limite. Ansiosos por uma mudança, para a primavera/verão de 2019, a marca sediada em Londres mudou-se para Paris. Ao invés de desenharem uma coleção de raiz, os designers decidiram adiar o Resort 2019 (que normalmente é apresentado durante o verão) e guardaram os coordenados para a Semana de Moda de Paris.
Muitas das peças que vão ser apresentadas na passerelle vão estar disponíveis nos dias a seguir ao desfile. “Não é uma coleção see now, buy now”, conta Marques à Vogue quando nos encontramos com os criadores para um preview em Londres. “Temos estado a pensar que esta roda de hámster, de continuar a fazer, fazer mais, não está a funcionar. Demora muito tempo até aquela coleção chegar às lojas. As nossas raparigas estão a pensar no que vão vestir na próxima semana. Por isso mesmo, algumas das peças podem ser compradas - vestidos, jeans, sapatos - tudo entre outubro e novembro.” O marido interveio: “Então, podes gostar de algum coordenado na passerelle, pensar sobre a comprar e nas semanas seguintes comprar.”
Porquê a mudança para Paris? Os criadores riem novamente. “É tão adulto, é um pouco assustador”, diz Marques. “Palais de Tokyo está a muitos quilómetros de distância dos trilhos de Brick Lane.” Almeida concorda, mas acrescenta: “Adoramos o que construímos em Londres, mas queríamos levar a nossa atitude e identidade para um contexto mais… apropriado. É expandir, ser flexível, construir a nossa comunidade.”
Comunidade é a palavra que surge sempre que mencionamos as roupas deste duo. Os designers foram dos primeiros a criar as MA Girls, o grupo de raparigas que desfilava a cada temporada era o mesmo e não eram modelos de agência. Defensores da diversidade antes de isto se tornar uma coisa na indústria, os casting dos desfiles inclui mulheres de todos os tamanhos e tons de pele, que conheceram no Instagram, em festas, ou através de amigos, que representam a marca autenticamente dentro e fora da passerelle. A dupla de designers espera que isto seja tentador para novos compradores. “Conhecemos algumas raparigas francesa incríveis. Gostaríamos de ir a Los Angeles, Berlim, talvez até de volta a Portugal”, diz Marques.
Para esta coleção, Portugal esteve na mente de Marques’Almeida. Chegaram a Londres aos vinte e poucos anos para conseguirem estágios e posteriormente estudarem na Central Saint Martins, Londres foi sempre o foco. Ter um bebé no ano passado mudou tudo. “Levar a Maria para casa no verão fez-nos olhar para Portugal com uns olhos diferentes,” admite Marques. “Começamos a ouvir fado novamente, que é um tipo de musica portuguesa muito triste, que nos fez pensar que estamos longe da nossa casa. Decidimos fazer uma coleção punk portuguesa - não literalmente, mas emocionante”, afirma Almeida.
Os azulejos portugueses e riscas de pescadores, tudo fundido numa malha urbana. Azul e amarelo em formas mais curtas equilibram as peças em pele. Saias com franjas exuberantes e extravagantes dão o drama necessário para esta coleção. É um cocktail de referências, mas nada parece literal. Podemos facilmente imaginar as calças às riscas com um arco-íris num guarda-roupa repleto de denim desgastado.
“Conhecer as raparigas mudou por completo a maneira como abordamos a Moda”, conta Marques sobre as modelos. “Queremos construir um guarda-roupa para elas. Podemos pôr uma rapariga punk num vestido cor-de-rosa - vai fazer sentido qual é ela a usá-lo.” Quanto ao futuro, a dupla é otimista, ainda não rasgaram o livro das regras. “Produzimos uma coleção de primavera que vai estar à venda em fevereiro”, confidencia Marques. “É uma continuação criativa do Resort. Sabemos que não existe uma solução que encaixe em todos os designers, no que diz respeito à mudança do sistema. Mas sentimos que tínhamos que tentar alguma coisa nova. É assustador seguir o próprio caminho - mas vamos ter que fazer isso.”.
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