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Project Union 29. 7. 2020
Não há pontos de fuga nas geometrias com que Luis Buchinho assina as suas criações. E não há pontos de fuga porque não há como fugir ao talento confirmado de um nome que é sinónimo de Moda de referência em Portugal.
A marca homónima já conta com quase 30 anos - pisou pela primeira vez a passerelle da ModaLisboa em 1991, a do Portugal Fashion em 1996 e a da semana de Moda de Paris em 2009 -, mas não é pela longevidade que ganha respeito enquanto um dos mais reverenciados criadores nacionais. Fundador de uma etiqueta que é sinónimo de qualidade e de moda de autor made in Portugal, os prémios apontam-no (foi homenageado com o prémio de Melhor Coleção Feminina pela ModaLisboa em 1999; em 2010, foi distinguido como o Melhor Criador de Moda, pelo Fashion TV; em 2011 e 2016 recebeu os Globos de Ouro para Melhor Criador de Moda; e em 2012 vence novamente o Fashion Award para Melhor Criador de Moda), os consumidores confirmam-no, o longo CV reflete-o e acumula todos os aplausos. Não é à toa que desde 2006 ensina Design de Moda no Centro de Formação Profissional (CITEX, agora Modatex, onde terminou também esse mesmo curso em 1989). Eximio nos drapeados e nas malhas (chegou a assinar uma segunda linha dedicada a estas tramas, a Buchinho Knitwear), conhecer o nome é saber que o cartão de visita inclui pormenores gráficos e jogos inusitados de cores e texturas para um resultado final que tem tanto de têxtil como de estrutural, quase arquitetónico.
O que não quer dizer que a carreira consolidade não tenha os seus momento difíceis e de luta - aliás, na verdade, uma carreira consolidada só pode sê-lo quando feita na batalha - e o momento atual, com toda a conjuntura precipitada pela Covid-19 (e que Buchinho tão bem expõe aqui) é capaz de ser o seu momento de maior dúvida sobre a permanência neste métier: "sim, agora, mais que nunca [pondera deixar de ser designer de Moda]. Para ser ilustrador. Porque é, ao contrário da Moda, uma área onde só depende de mim o trabalho ficar pronto.", justifica.
O plano B não nos parece mau - se segue as redes sociais do ilustrador, já deve ter visto o seu traço on point, com um mix de mensagem e divertimento. Nós preferimos, Luis, que seja uma função acumulada e não substituta, para que o panorama de Moda não fique mais pobre. Até porque acreditamos que há muita paixão pela criatividade que deposita em todos os projetos. E o criativo ratifica-o: "o momento mais recente [de confirmação da escolha certa de profissão] foi quando aceitei, em plenas férias de Verão, o convite para apresentar a proposta das fardas para o Continente. Foi um trabalho tremendo, feito num tempo recorde, e em paralelo com a finalização da coleção Verão 19, que foi apresentada em Paris com 2 dias de intervalo com o desfile das fardas Continente.. trabalhamos imenso, mas foi um trabalho que me deu imenso prazer executar, e muito aclamado da parte da SONAE. Estive quase para não o aceitar, pois achava que seria impossível cumprir o prazo, e ainda bem que não o fiz."
O sentimento deverá ecoar, esperamos, pelos tempos vindouros, para que continue a pautar o cenário de Moda português com a sua etiqueta - afinal, se a marca fosse um slogan, diz-nos que seria um "go with the flow", e nós encorajamos a que o faça. Eventualmente, todas as peças, tais como as dos coordenados que apresenta, irão encaixar. E encaixam de tal modo que o criador prefere nem singularizar um look que denuncie de forma ideal o seu ADN - todos denunciam o seu ADN - e conhecer a linha do criativo é vê-la, sem dúvidas, nas assimetrias que desafiam a visão, nas estruturas que desafiam a gravidade, na elegância que desafia a feminilidade, trazendo um toque de coolness e despojo a quem as veste. É vê-la no contraste harmonioso de texturas, na oposição do fluido com o rígido em casamento feliz, na sofisticação da seda ao lado da descontração das malhas. "O meu trabalho como criador de Moda sempre foi feito em busca de elementos, moldes, técnicas ou misturas de materiais que sugerissem composições surpreendentes, únicas, mas tendo sempre em conta a vestibilidade e o suscitar do desejo de as ter pela parte da consumidora", explica à Vogue. "Sempre achei este equilíbrio delicado, e sinceramente, difícil de conseguir. Não o vejo muito por aí. Ser inovador e comercial em simultâneo." É por isso que conhecer Buchinho é reconhecer Buchinho.
Basta olhar para as estações de 2020 para ver denúncias do que é enquanto designer, assimilando-as enquanto uma visão apurada ao longo de quase três décadas de experiência e experimentação: "o meu verão 2020 é uma coleção statement, que anda em torno do tão falado tema da sustentabilidade. A minha visão sobre esse tema focou-se, em primeiro lugar, na minha própria sustentabilidade (a financeira). Foi uma coleção patchwork, que fez um levantamento de stocks de materiais, e os reaproveitou em novas abordagens e técnicas, o que lhes permitiu ganharem uma nova vida.", conta. "Em segundo lugar, um olhar algo irónico à gentrificação, com peças que piscam o olho àquelas compradas pelos turistas quando visitam uma cidade - pequenos detalhes étnicos, logomania, cores do País... Por último, uma homenagem à minha mãe, que deixou uma série de crochets (que estavam guardados em gavetas, e que eu desconhecia até há 2 anos), e com os quais sempre me apeteceu fazer algo, mas fora daquele lado tradicional desta técnica admirável. Foram então trabalhados com indução de foil, para um look leather, e em seguida lavados para a obtenção de um look denim, ganhando uma abordagem contemporânea." Dúvidas sobre a elaborada arquitetura da sua criatividade? Nenhuma. Curiosidade sobre a estaçao fria? Toda.
"O inverno 2021 já foi trabalhado numa ótica mais tradicional, com um esquema de paleta de cor, tecidos, inspiração gráfica, etc. Foquei-me em motivos gráficos de 1920, completamente retraduzidos e desconstruidos segundo uma visão 1980, década que será para sempre a minha grande influência.", revela. "Toda a coleção respira o meu ADN - cores escuras, sóbrias, com incidência em falsos negros, bem como misturas de materiais na mesma peça, com looks em pele, ou leather look, numa atitude que oscila entre o masculino do feminino, sempre afirmativa.", remata Buchinho.
Um ADN que rouba os holofotes, mas que não se importa de partilhar o palco - seja a integrar, ao lado dos seus pares, este Project: Vogue Union, seja em potenciais colaborações com colegas: "Aleksandar Protic", nomeia, quando lhe perguntamos com que designer faria uma colaboração, "pois acho que temos um pouco a mesma visão sobre o imaginário feminino, bem como a mesma obsessão em moldes e construção de silhuetas".
Obsessão é também a palavra certa por querer descobrir sempre o que Luis fará a seguir. E consegui-lo é segui-lo, mas acima de tudo, consumi-lo: na loja online ou na morada física, na Rua Sá da Bandeira, 812, no Porto. Porque aplaudir Luis Buchinho é mais do que assistir aos seus desfiles aquém e além-fronteiras. É vesti-lo nas ruas, nos jantares, nos almoços, nas saídas e nas entradas com pé direito em novos anos. E ele depois até pode ilustrar essa felicidade que é isso do comprar (bom) português.
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