Burberry SS26
Em Londres, a Moda tem estado em crise. Nesta estação, um retorno foi encenado.
Londres sempre ocupou um lugar especial na indústria da Moda. Nunca foi Paris ou Milão, onde a Moda corre no sangue, nem muito menos Nova Iorque onde a tenacidade americana encoraja o sucesso comercial. Não, a capital britânica é especial. O seu legado não se apoia em maisons ancestrais ou em engenho financeiro, mas sim em expansão artística. O berço de designers como Alexander McQueen ou John Galliano, Londres sempre foi o primeiro passo na carreira dos criativos de sucesso. Mas, como qualquer ninho, assim que os ovos eclodem, fica vazio. A natureza do seu ADN isolou a cidade. O Brexit finalizou essa separação: a Moda da cidade não tem como ficar. Os designers que crescem na cidade não têm alternativa senão mudar-se para outra capital no circuito da indústria. Mas, nesta estação, uma mudança começa. Com o intuito de restabelecer Londres à sua antiga glória, o British Fashion Council reformulou a sua estratégia de investimento para a Semana da Moda de Londres.
Uma cidade não é nada sem os seus pilares. Aliás, esse é parte do problema. Ao contrário de Paris ou Milão, Londres não tem gigantes onde se possa apoiar. Ou melhor, quase nenhum. Burberry é a única marca de luxo global que resta na cidade. Mas esta, tal como a cidade onde se enraizou, encontra-se em crise. Isto é, até esta estação. Após anos de precariedade, a marca reportou pela primeira vez resultados financeiros positivos. A esperança não é só financeira. Após três anos na marca, o diretor criativo Daniel Lee encontrou um bom equilíbrio. Para primavera/verão 2026, as propostas da Burberry apoiaram-se no legado musical do país. Inspirado pelo iminente filme dos The Beatles, Lee projetou um guarda-roupa tão mod como moderno. As clássicas trench coats da marca foram encurtadas, cortadas em A-line. Mesmo com padrões de xadrez e cores psicadélicas, as referências não foram literais. Lee fez do histórico moderno. O cenário do desfile, uma tenda com o teto pintado de um céu nublado e o chão de terra batida, sugeria a época festival. Glastonbury foi feito sinónimo de juventude e vestidos de crochet foram acompanhados de botas de cabedal.

Burberry SS26
Imediatamente abaixo na hierarquia da indústria, encontram-se as marcas que, ainda que relativamente recentes, foram capazes de deixar a sua marca no legado da cidade. Simone Rocha é um nome inegável nesta lista. A designer irlandesa é famosa pelas suas criações românticas. Para primavera/verão 2026, Rocha mergulhou na adolescência. Saias esculturais, laços gigantes, carteiras em formato de almofada. O tule delicado encontrou par num vinil transparente, os brilhos de prata e cristais delicados foram interrompidos por volumes quase grotescos. A designer tem um talento peculiar. A roupa que cria é tão delicada como inquietante, tão feminina como visceral.

Simone Rocha SS26
Chopova Lowena encontra-se numa classe semelhante a Simone Rocha. O duo criativo por detrás da marca fez do caos um método. Desde o primeiro kilt preso por pins que Emma Chopova e Laura Lowena transformaram o vestuário popular búlgaro em arsenal punk e, no caminho, deram todo um novo guarda-roupa a uma geração. Cada desfile é um carnaval de contradições: capas de PVC com rendas artesanais, bodysuits transparentes com amuletos de borboletas metálicas, mochilas carregadas de objetos que parecem relíquias. Esta estação, o espírito jovem encontrou-se com o desporto: casacos varsity, capuzes felpudos com orelhas, jeans bordados de símbolos esotéricos. O resultado é um uniforme de uma geração fragmentada, maximalista, mas feliz.

Chopova Lowena SS26
Há sempre uma personagem histórica por trás das coleções de Erdem Moralıoğlu. Para primavera/verão 2026, foi Hélène Smith, uma médium suíça que afirmava se comunicar com espíritos e viajar a Marte. Esse gosto pelo excêntrico erudito moldou vestidos de renda fragmentada, explosões de cores vibrantes — verde-lima, rosa-choque, azul profundo. Conhecido pelas suas criações florais, esta estação o designer fez das flores visões psicadélicas. Também Marques’Almeida continuou uma conversa há muito começada. Marta Marques e Paulo Almeida continuam a reinventar a ganga, tecido que nas suas mãos se transforma em base para criações barrocas. Se antes eram franjas desfiadas e jeans oversized, agora o repertório inclui silhuetas assimétricas e peplums esculturais. Mas o objetivo da dupla não é perfeição. Mas roupas que falam de elegância sem ter de gritar.

Erdem SS26; Marques'Almeida SS26
Mas, talvez o mais entusiasmante de todos os nomes que apresentaram as suas propostas, são aqueles que mantêm o legado punk e jovem da cidade vivo. E ninguém o faz melhor que Dilara Findikoglu. Esta estação, a designer turca reimagina a história da opressão feminina. Intitulada Cage of Innocence, a coleção concretiza pureza como uma prisão e mostra o caminho de libertação. Os primeiros looks, quase todos monocromáticos e brancos, cosem rendas desiguais em silhuetas incomuns. Eventualmente, a doçura inicial azedou: vestidos frágeis de renda foram rasgados, aprisionados debaixo de uma camada de látex. Os cintos, usados de maneira quase obsessiva, reforçaram o tema. Um vestido preto transparente tinha as pernas amarradas por três cintos. Num momento em que Londres busca reviver sua golden age, Dilara mostra que a força criativa não está no apelo comercial, mas na capacidade de traduzir Moda numa linguagem simbólica.

Dilara Findikoglu SS26
Se a Moda londrina é feita de jovens talentos que se erguem com coragem, Oscar Ouyang é um dos que mais claramente carrega essa tocha. Herdeiro de uma obsessão artesanal que parecia perdida, o designer chinês traz para o presente o trabalho manual já obsoleto. Mas não se trata de nostalgia. Para Ouyang, a malha é tecido de metamorfose: penas aplicadas sobre túnicas de crochet, motivos quase medievais traduzidos em streetwear. Para a primavera/verão 2026, a coleção intitulada Don’t Shoot the Messenger falou em presságios, de aves que anunciam mensagens a asas cortadas em t-shirts justas. São nomes como os de Ouyang que mantêm a fama da cidade viva. Com ou sem investimento, enquanto houver designers dedicados em preservar o legado criativo de Londres, a esperança é a última a morrer.

Oscar Ouyang SS26
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