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Histórias de e com esperança para um boost pessoal

28 Sep 2020
By Mathilde Misciagna

Ao longo da História, foram várias as figuras que nunca perderam a esperança, mesmo quando as circunstâncias à sua volta eram totalmente adversas. São esses sólidos exemplos de perseverança e sobrevivência que nos acompanham até aos dias de hoje.

Ao longo da História, foram várias as figuras que nunca perderam a esperança, mesmo quando as circunstâncias à sua volta eram totalmente adversas. São esses sólidos exemplos de perseverança e sobrevivência que nos acompanham até aos dias de hoje. A esperança não faz parte de nós naturalmente. Ter esperança é uma escolha, independentemente dos desafios que encontremos no caminho. Dizemos com frequência “espero que”, na expetativa de que algo que consideramos difícil acontecer, se torne efetivamente realidade. Faz parte do espírito humano sermos maiores que nós mesmos, de nos superarmos e alcançarmos algo que achávamos não ser capazes de alcançar. Mas a esperança é uma ideia abstrata, filosófica até, e a filosofia trata questões realmente difíceis, e por isso importantes no espetro da existência humana. Filosoficamente falando, a esperança é uma virtude que nos ajuda a enfrentar a tentação do desespero. É como uma aptidão, uma competência a ser trabalhada durante toda a vida; requer treino. A coragem é uma virtude porque o medo é uma experiência humana universal. Muitos dos desafios que temos de enfrentar funcionam como uma forma de tentação de fazer o que não está certo. O desespero funciona como uma tentação, tal como o medo. Toda a gente cede. Mas, nesses momentos, somos confrontados com um desafio psicológico contra o qual devemos lutar. É aí que entra a esperança. "Filosoficamente falando, a esperança é uma virtude que nos ajuda a enfrentar a tentação do desespero." Filosofias à parte, há de facto uma coisa que pode realmente restaurar a esperança no mundo: o cinema. A narrativa e as histórias retratadas num filme envolvem-nos como nenhuma outra arte. Abrem a nossa mente, fornecem-nos uma perspetiva totalmente nova da vida. Quer sejam baseados em histórias verídicas ou estejam a abrir terreno para algo novo, há uma coisa que todos têm em comum: a capacidade de nos fazer sentir algo. Conectarmo-nos a uma personagem de uma longa-metragem pode ajudar-nos a ver a vida através dos olhos de outra pessoa ou pode até fazer-nos refletir sobre a nossa própria vida. Durante a Grande Depressão Americana (crise de 1929), a atriz Shirley Temple pôs um sorriso na cara de toda a gente que tinha um tostão para ir à matiné. Também no filme italiano La Vita È Bella (1997), de Roberto Benigni, provavelmente o seu mais aclamado internacionalmente, a personagem Guido Orefice, mesmo perante o terror do campo de concentração nazi, onde é afastado da mulher, usa a imaginação para fazer o filho, Giosué, acreditar que estão a participar num jogo com uma recompensa final. O tom despreocupado do início desaparece à medida que a ação se desenvolve, mas Guido não perde o sorriso e não desiste nem por um momento, lutando pela sua sobrevivência, e da sua família, e evitando ao máximo o sofrimento do filho. A sua disposição para sobreviver é mais forte que qualquer incerteza quanto ao futuro. Outro dos filmes mais inspiradores de que há memória dentro do género é o drama biográfico The Blind Side (2009), com Sandra Bullock, sobre Michael Jerome Oher, a estrela de futebol americano, e o seu percurso de adolescente traumatizado e abandonado à sua sorte. Baseado numa história verídica, o protagonista é um exemplo de enorme resiliência e a prova de que o nosso passado não determina, obrigatoriamente, o nosso futuro. Mas a verdade é que a vida real supera qualquer película cinematográfica. Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón, ou somente Frida Khalo, é um exemplo da cultura popular amplamente conhecido. Além de artista excecional, uma das maiores do século XX, foi uma guerreira, uma lutadora tanto na sua vida privada quanto na sua vida profissional e social. Toda a sua obra reflete essa realidade; além da pintura, também deixou um diário onde registou as suas alegrias e frustrações nomeadamente o seu conturbado casamento, a sua saúde frágil e a impossibilidade de ter filhos. Com seis anos contraiu poliomielite que lhe deixou uma sequela no pé, e aos 18 anos sofreu um grave acidente de autocarro que a deixou um longo período no hospital. Sofreu também três abortos e teve três dedos do pé direito e depois a perna amputada, devido a gangrena. Apesar de deprimida e incapacitada de andar, Frida passou a fazer autorretratos com a ajuda de um espelho e de um cavalete adaptado para que pudesse pintar deitada. Khalo nunca permitiu que a sua condição física atrapalhasse o seu ativismo político até ao momento da sua morte, em 1954. Quebrou vários tabus, sendo não apenas uma feminista abertamente bissexual, algo totalmente à frente do seu tempo, mas também uma comunista e nacionalista mexicana – uma mulher firme nas suas convicções e comprometida com os seus ideais. Frida foi capaz de expressar, plasticamente, uma rebeldia contra uma feminilidade tradicional imposta às mulheres – antecipando questões atuais de género. Ora se apresentou andrógena, ora pintou cenas de parto, abortos, assassinatos de mulheres, e uma série de temas que não se expunham até então. O maior legado da sua obra foi a ideia de que assuntos considerados privados na vida das mulheres deveriam ser tratados como políticos. De certa forma, foi esse o mesmo lema que guiou John Robert Lewis, falecido no passado mês de julho. Conhecido como “cavaleiro da liberdade”, foi uma figura incontornável e pioneira na luta pela justiça racial nos Estados Unidos - e um enorme exemplo de esperança e coragem. Em 1961, tornou-se um dos 13 originais Freedom Riders [ativistas que viajavam de autocarro, pelo sul do país, desafiando o status quo], e dois anos depois foi um dos organizadores da grande marcha de Washington, que ficaria conhecida como "The Great March on Washington." Como membro do Partido Democrata, foi eleito ao Congresso pela primeira vez em 1986, e aí permaneceu 30 anos. O seu percurso foi marcado pelo desafio à segregação, à discriminação e à injustiça — o combustível do movimento Black Lives Matter que hoje invade as ruas norte-americanas. Até ao fim dos seus dias, participou em inúmeras manifestações, onde foi preso e atacado fisicamente por tropas estatais. Em 2011, Lewis recebeu, de Barack Obama, a mais alta condecoração nos EUA, a Presidential Medal of Freedom. Tal como John Lewis, também Rosa Parks foi uma das mais importantes ativistas do movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. No dia um de dezembro de 1955, quando era “apenas uma costureira negra de 42 anos”, entrou para a História ao recusar ceder o seu assento a um branco num autocarro em Montgomery, capital do estado de Alabama. Foi detida e levada para a prisão por violar a lei de segregação, sofreu ameaças de morte, humilhações e teve grande dificuldade em encontrar emprego. O seu gesto simples, mas de grande significado foi o pontapé de saída para que o pastor e ativista Martin Luther King Jr. organizasse um boicote em massa de 381 dias contra as empresas de transporte locais iniciando uma grande reviravolta na História dos Estados Unidos – e do mundo.  "Foi pela esperança que (...) sofreram e foi também através dela que mudaram o mundo." Foi pela esperança que as personalidades acima sofreram e foi também através dela que mudaram o mundo. Que o diga Viktor Frankl, neuropsiquiatra austríaco e sobrevivente dos campos de concentração de Theresienstadt, Bergen-Belsen e Dachau, que se serviu da sua experiência do Holocausto como base para a sua investigação psicanalítica e para o desenvolvimento da sua obra. No livro Man’s Searching For Meaning, conclui que os “presos” que confortavam os outros e davam o seu último pedaço de pão sobreviveram mais tempo – prova de que nos podem tirar tudo exceto a capacidade de escolher a nossa atitude perante qualquer circunstância. Viktor passou três anos sob condições terríveis, inimagináveis, que acabariam por se tornar mensagens de esperança para milhões de leitores em todo o mundo. O seu trabalho oferece-nos uma maneira de transcender o sofrimento e encontrar significado na arte de viver. Neste mundo em mudança constante, em colapso eminente, precisamos de algo mais radical para ter esperança. Precisamos de cultivar um tipo de esperança que sobreviva numa (nova) realidade que ainda não compreendemos bem. Uma esperança radical, isto é, o compromisso de viver uma vida justa e com significado de acordo com padrões de significado e bondade que talvez ainda não tenhamos criado. Embora exemplos como Nelson Mandela ou Madre Teresa de Calcutá – ambos agraciados com o Prémio Nobel da Paz em 1993 e 1979, respetivamente – nos mostrem que esses padrões talvez já tenham sido criados. Mandela, líder do movimento contra o regime de segregação racial Apartheid na África do Sul, lutou durante 67 anos por uma sociedade democrática e livre onde as pessoas vivessem juntas em harmonia e com oportunidades iguais. “É um ideal que espero ver realizado. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”, disse no célebre julgamento em Rivonia em 1964. Madre Teresa de Calcutá, missionária católica albanesa,  dedicou toda a sua vida a ajudar populações desfavorecidas. “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”, afirmou. A pele enrugou-se, o cabelo tornou-se branco, os dias passaram a anos, mas o mais importante nunca mudou nestas duas figuras notáveis da História mundial: a força interior. Também Gabrielle Bonheur Chanel ou Oprah Winfrey, duas personalidades femininas de áreas distintas, têm histórias surpreendentes de esperança, força e não-conformismo. A primeira tornou-se numa das designers mais icónicas de sempre e Oprah na mulher mais poderosa da televisão americana. Esta última, para além de ter tido de enfrentar pobreza e preconceito, sobreviveu a uma infância marcada pela violência sexual por parte de um tio e de primos. O trauma transformou-a numa adolescente perturbada e acabou por engravidar aos 14 anos, para depois ser expulsa de casa pela mãe. Quando perdeu o bebé resolveu encarar a vida de outra maneira. Dedicou-se aos estudos, ganhou uma bolsa na área da comunicação e começou a sua carreira em televisão com o talk show matinal AM Chicago. Mais tarde, nasceu o icónico The Oprah Winfrey Show, que esteve no ar durante 25 anos e bateu todos os recordes de audiência. Quando revelou os episódios trágicos que marcaram a sua infância, numa entrevista de 1988, estava longe de imaginar que esse ato de coragem inspiraria tanta gente a quebrar o silêncio também. Quanto a Chanel, experimente digitar “Coco Chanel biografia” no motor de busca para mergulhar num universo cheio de reviravoltas onde a superação ocupa o papel principal. Uma das mulheres mais brilhantes da História da Moda, com uma trajetória igualmente impressionante: órfã de mãe, foi abandonada pelo pai e colocada num orfanato aos 12 anos. Iniciou a sua vida profissional como vendedora e mais tarde foi cantora de cabaret para oficiais da cavalaria francesa. O seu contributo para a sociedade, especialmente para o universo feminino, não pode ser medido somente em peças de roupa, mas principalmente em vanguardismo e libertação. Obstinada com a ideia de quebrar a silhueta feminina tradicional, Coco Chanel recusou a Moda dos opulentos vestidos com espartilho, preferindo uma aparência mais andrógina, feita de vestidos direitos e calças – destinadas, na altura, apenas aos homens. Em 1926, criou o famoso little black dress (LBD), cor inédita para a época, reservada ao luto. Revolucionária, chocou os conservadores e conquistou os inovadores. "A tal da esperança tem o poder de transformar o impossível em possível, dizem estes e outros tantos nomes da história." Nem só de História internacional se escrevem estes exemplos de esperança. Aristides de Sousa Mendes, nascido em Cabanas de Viriato em 1885, foi um verdadeiro herói sem capa. Quebrou todas as regras possíveis e salvou vidas num dos piores cenários que o mundo já presenciou. Enquanto Cônsul de Portugal em Bordéus no ano da invasão de França pela Alemanha Nazi, em 1940, desobedeceu a ordens expressas do Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, que acumulava a função de ministro dos Negócios Estrangeiros, e concedeu vistos de entrada em Portugal a milhares de refugiados, incluindo muitos judeus, que fugiam da Alemanha, Áustria, da própria França e dos países já ocupados pelos exércitos alemães. Não se sabe exatamente quantos vistos foram emitidos por, ou a mando, de Aristides de Sousa Mendes – os números vão de alguns milhares até três dezenas de milhar. O seu ato altruísta resultou, obviamente, em castigos severos. Perdeu o direito de exercer a profissão de advogado e passou os últimos anos da sua vida pobre e sem família. Castigado pela sua rebelião, o primeiro reconhecimento veio tardiamente, 12 anos após a sua morte. Em 2020, o mundo enfrenta uma pandemia global, os efeitos da crise climática, incêndios, inundações, uma crise humanitária sem precedentes, luta contra extremismos, violência racial e contra as mulheres, entre tantos outros obstáculos que parecem impossíveis de transpor. Sugerir que este é um ano desafiante é um eufemismo. Diz-se que em certas situações trágicas, apenas o homem louco pode manter viva a sua esperança. Mas é essa pequena faísca que, eventualmente, o tira das profundezas do desespero. A tal da esperança tem o poder de transformar o impossível em possível, dizem estes e outros tantos nomes da história.

Mathilde Misciagna By Mathilde Misciagna

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