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Entrevistas 31. 10. 2017
Numa altura em que somos sufocados com informação sobre apropriação cultural, falámos com a criadora que faz do respeito a regra maior do multiculturalismo na Moda.
Antes de mais: o que é, para si, apropriação cultural e qual é a sua posição no debate?
Eu própria sou o resultado de duas culturas diferentes, um ponto de encontro entre preto e branco, uma métissage cultural. Esta posição levou-me a ir para além do essencialismo cultural estabelecido pela prática de uma “vingança” que poderia significar, no seu sentido mais estrito, que: eu não poderia usar “Jeans” porque não sou de Genoa ou usar uma saia de xadrez porque não sou escocesa.
Esta salvaguarda absoluta da contaminação externa ergue paredes que são difíceis de quebrar e as fronteiras não vão só impedir outros de entrar mas também segregar as pessoas que estão dentro, impedindo-as de participar no mundo.
A Internet e uma geração mais nova e mais consciente estão a denunciar o assunto e a garantir que indústrias como a Moda sejam mais transparentes e respeitosas. Mas, às vezes, a Internet também consegue ser muito rápida a apontar o dedo. Pensa que esta pressão pode tornar-se numa ditadura no que toca à criatividade?
O meu objetivo é preservar e criar sem ser conservadora. Cada viagem que faço, faço questão de ter o mesmo ponto de partida: conhecer novas pessoas que estejam sob a mercê do incógnito humano, com o máximo respeito pelo diverso. Temos de parar com o comportamento fechado, especialmente no sul do mundo, considerando África como uma “aventura de Safari” ou uma reminiscência romântica de “África Minha”.
Um argumento frequente é que o uso de trajes culturalmente significativos reforça inadvertidamente a segregação e os estereótipos. Mas não é o contrário? Não é o papel da Moda normalizar o que antes era estranho, negligenciado ou encarado como problema social?
A minha perspetiva persistente é usar a Moda como uma ferramenta para comunicar a beleza do multicultural, libertando algumas culturas e tradições da escuridão do desconhecido. Dos Andes ao Serengeti, cada artista ou artesão com quem trabalhei abraça o propósito de combinar diferentes know-how e reinterpretar o seu conhecimento ancião sob o risco da extinção por causa da ocorrência de uma hegemonia estética. Os esforços criativos estão a ser feitos para normalizar o que antes poderia ser considerado de “visões estabelecidas”, ou tabus.
Não é uma das maiores missões da Moda servir como tradutor cultural? Então porque é que há tantas reações negativas quando os designers tentam fazer exatamente isso?
A minha perspetiva da Moda é continuar a contribuir para torná-la, precisamente, num tradutor cultural baseado no princípio da reavaliação. O objetivo é gerar auto-suficiência e promoção de comunidades locais. Quer seja Ambra, a artista úmbria que faz as pinturas e bordados à mão, ou os artesãos haitianos de Port-au-Prince com quem trabalho, o princípio não muda. Tudo começa com a visão de tornar o local global.
Como é que podemos agir para que a apropriação cultural se torne num não-assunto?
Para mim, o cruzamento, não a separação, é o caminho para o desenvolvimento. Misturar a beleza do multiculturalismo sem limites latitudinais é a minha missão, nunca excedendo em em paródia, ou comédia, mas agindo sempre com respeito. Eu não vou a países de baixos rendimentos com objetivos de marketing ou para encontrar mão-de-obra barata, mas para fazer entender e reforçar como é que eu penso na Moda como artes integradas.
Isto mostra-se quando a Moda consegue ir para além do conceito estético e tornar-se verdadeiramente num veículo ético, social e económico. Como disse Senghor, “somos todos metis culturais”.
Para mim, o elemento mais importante para ser compreendida é não nos portarmos como se estivessemos numa loja de doces, a escolher de diferentes taças de culturas e selecionar apenas as que gostamos mais. Nós temos o dever de olhar mais perto e mais profundamente para elas, estudá-las adiantadamente e finalmente trabalhar com artesãos locais que sejam capazes de nos fazer entender a profundidade e o sentido do que fazem.
Lidar com tecidos ou produtos locais significa falar da história de uma nação inteira, por isso temos de fazê-lo com extremo respeito e consideração. Quando o fazemos desta forma, apreciamos com respeito, e não é apropriação cultural.
Eu espero que a Moda decida não desistir de diferenças, diversidade, segregação ou em aspetos culturais predefinidos, nascidos de quem os quer manipular. Quando pararmos de falar ou de mostrar ao mundo estas culturas, é o dia em que elas vão desaparecer.
O meu pedido é que não se desvie a luz do Haiti, Burkina, Kenya e Umbria com a sua soberba habilidade artesanal, porque eles precisam de uma voz poderosa para a fazer acontecer.
Leia o debate sobre apropriação cultural na Vogue Portugal de novembro, já nas bancas.
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