Opinião   Editorial  

Editorial | "The forbidden issue", abril 2021

07 Apr 2021
By Sofia Lucas

“A tarefa importante da literatura é libertar o homem, não censurá-lo, e é por isso que o puritanismo foi a força mais destrutiva e maligna que já oprimiu as pessoas e a literatura: criou hipocrisia, perversão, medos, esterilidade.” - Anaïs Nin

Censura? Proibição? Liberdade?

Em junho de 1945, Anaïs Nin escrevia no seu diário: “A tarefa importante da literatura é libertar o homem, não censurá-lo, e é por isso que o puritanismo foi a força mais destrutiva e maligna que já oprimiu as pessoas e a literatura: criou hipocrisia, perversão, medos, esterilidade.” Quando qualquer governo, qualquer religião, qualquer tipo de instituição se compromete a dizer aos seus eleitores, crentes ou seguidores o que não pode ler, o que não deve ver, ou o que está proibido de saber, o resultado final é tirania e opressão. E não importa quão nobres ou sagrados sejam os motivos. Defendermos a liberdade de expressão significa, exatamente, apoiarmos o direito de alguém partilhar qualquer ideia com a qual não concordamos.

Todas as censuras existem para impedir que se desafiem as conceções atuais e as instituições existentes, mas qualquer tipo de progresso tem por princípio questionar o poder e as convicções vigentes. A primeira condição para qualquer forma de progresso é a abolição da censura. Mas toda a história vivida não parece lição suficiente para nos impedir de submergir numa nova cultura de censura e cancelamento, como aquela em que vivemos, e que nos distancia, em retrocesso, das quase cinco décadas de lutas e conquistas revolucionárias pela liberdade. A Vogue Portugal defenderá sempre a liberdade de expressão e da criatividade, na arte, na moda e no jornalismo. Qualquer ato criativo não só deve ser livre como precisa da certeza da liberdade. Se um artista ou criativo se preocupa se ainda estará livre amanhã, é porque hoje já não o é. 

Dedicamos este Forbidden Issue à liberdade de expressão. À nossa e à sua. Ao espaço que todos nós precisamos, para concordar, ou concordar em discordar, na liberdade e no respeito por todas as nossas diferenças e imperfeições. A capa desta edição, uma ironia gráfica concretizada na forma de duas cruzes que cobrem os mamilos da modelo Katarina Janickova, é uma alusão clara ao puritanismo hipócrita que gostaríamos de ver cancelado e, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre se é mesmo neste mundo que desfoca e esconde, sob o pretexto de falsas virtudes, que queremos viver.

Ao longo destas páginas pode sentir-se identificado ou chocado, mas a nossa única intenção é o convite à reflexão sobre os limites que nos são impostos, seja por outros ou por nós próprios. E se sentir que em alguma altura passámos dos limites, a boa notícia é que é livre de passar à frente, de rasgar as páginas que quiser, ou mesmo de fechar esta revista para não a voltar a abrir. Mas também é livre de guardar esta edição como o testemunho de uma época em que todos vivemos a tentar reencontrar o significado dessa palavra primordial: liberdade. 

Originalmente publicado na edição Forbidden, de abril 2021.For the english version, click here. 

Sofia Lucas By Sofia Lucas

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