Opinião   Editorial  

Editorial | Oceans of Life, junho 2025

06 Jun 2025
By Sofia Lucas

Oceans of Life | Junho 2025

"O mar, que é o fim do mundo, é também o começo do sonho.” - Miguel Torga

Sal na Alma

Dizem que os portugueses têm o mar nos ossos. Mas é no sangue que ele corre — 70% de água, 30% de saudade. Fomos feitos para partir. Não sei se por coragem, mas talvez por uma inquietação líquida, um chamamento que soa mais forte que o fado. O mar ensinou-nos a perder, mas também a sonhar com mapas maiores do que a Terra permite.

Sara Sampaio
Élio Nogueira

A nossa herança não está só na história, nem nas páginas dos manuais. Está no peito que se aperta quando olhamos o Atlântico. Na náusea doce da partida, no gosto a sal das palavras. Sim, porque até a língua nos denuncia, o português tem ritmo de maré e gosto de sal. E um leve travo a perda. Dizemos “saudade” como quem diz “tempestade” em voz baixa. Talvez por isso a nossa literatura seja tão impregnada de ausência: Camões, exilado de tudo; Pessoa, náufrago de si; Sophia, a ouvir o mar no silêncio. Falar português é como marear.


Paola Manes
Carly Dame

Temos glórias espalhadas por continentes, mas o que ficou mesmo foi este jeito de olhar o longe e imenso azul como quem olha o íntimo. O mar não nos pertence, é ele que nos possui.  E talvez a nossa maior conquista não tenha sido dobrar o Cabo da Boa Esperança, mas continuar a navegar cá dentro, mesmo quando tudo à volta é terra firme. Porque quem é feito de água, não teme o fundo. Teme é a secura. E mesmo assim, vamos à beira-mar como quem procura Deus. Não para rezar, mas para lembrar. Porque o mar não é paisagem — é espelho. Quando nos debruçamos sobre ele, não vemos a linha do horizonte, vemos a curva da nossa própria inquietação, a sombra do que fomos, e o silêncio do que ainda não sabemos ser.

Angelina Usanova
Vicoolya & Saida

Temos água nas lágrimas, nas entranhas, nos gestos. Somos água com forma humana. Carregamos no corpo o mesmo sal que o mar carrega nas veias, como se fôssemos irmãos separados ao nascer. E, mesmo assim, procuramos a água fora, como quem esqueceu que a fonte está dentro. Viajamos para vê-la cair de montanhas, correr por vales, estender-se em praias que fotografamos com a sede nos olhos.

Angelina Usanova
Vicoolya & Saida

Talvez o mar nos atraia porque nos reconhece. Ele sabe que viemos dele — e que, um dia, a ele voltamos. A água é o princípio, e, dizem, o esquecimento.

Marcelino Sambé
Kosmas Pavlos

Originalmente publicado na edição Oceans of Life, de junho 2025. For the english version, click here

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