"In victory, you deserve champagne. In defeat, you need it." - Napoleon Bonaparte
Champagne Problems
Na data de fecho desta edição, o mundo arde — por dentro e por fora. São tempos de sombras longas, de medos suspensos no ar como poeira que não assenta. O caos deixou de ser manchete para se tornar pano de fundo.

Brooke Candy
Carlos Duro
Vivemos tempos de incerteza e medo global, tempos que fazem com que sair de casa pareça, às vezes, um ato de coragem. A cada scroll no telemóvel, mais uma notícia que nos puxa para o fundo. E ainda assim, entre sirenes e estatísticas, há quem chore porque o vestido chegou num tom ligeiramente errado. Há quem debata durante dias a reorganização da estante por cor. Há quem não consiga dormir por causa do dilema existencial entre Amalfi e Santorini para as férias. São os chamados champagne problems — problemas de primeiro mundo, de quem tem o privilégio de se preocupar com nadas. Problemas fúteis, inúteis, quase obscenos. Mas antes de os julgarmos com severidade, talvez devêssemos perguntar: e se forem precisamente esses problemas que nos seguram à tona? Não é insensibilidade. É sobrevivência.

Amy Taylor
Jamie Nelson
Em tempos caóticos, o escape não é luxo — é necessidade. Sonhar com sapatos, séries ou sobremesas é um direito tão humano como sentir medo. O rímel que borra numa reunião pode parecer ridículo perante um planeta em chamas, mas talvez seja essa lágrima pintada que impede que se desate a chorar por tudo o resto. Precisamos de frivolidades como quem precisa de ar. Pequenos rituais de normalidade, alegrias microscópicas, desejos sem consequência. Coisas de quem vive à superfície. Mas talvez, só talvez, seja essa superfície que impede que nos afoguemos. São eles que nos lembram que ainda estamos vivos, que ainda há espaço para rir. Não se trata de ignorar o mundo, mas de encontrar intervalos de leveza dentro dele. Durante a Segunda Guerra Mundial as mulheres, mesmo em cenários de destruição e privações, desenhavam um risco na parte detrás das suas pernas para simularem a costura dos collants de nylon a que já não tinham acesso. Recentemente, o editor de um site feminino, de uma cidade em guerra e sob bombardeamentos, desabafava que apesar do esforço de continuar a publicar artigos noticiosos sobre o estado do país e temáticas mais profundas, descobrira que o tópico mais procurado no mesmo site eram os artigos de beleza, em particular, nail art.

Alana Champion
Kate Biel
Champagne problems não são um insulto à dor alheia — são um lembrete de que, mesmo nos dias mais escuros, há espaço para brilho. Que podemos enfrentar as sombras sem deixar de pintar as unhas.
E sim, há quem sofra por não ter o que comer, e há quem sofra porque o champanhe não veio suficientemente fresco. Não é justo, não é simétrico, mas é real. E todos carregamos dores, visíveis ou não. Não se trata de indiferença. É, talvez, a mais delicada forma de resistência: continuar a sonhar num mundo em ruínas. Escolher um batom. Reservar uma mesa. Dançar sozinha na cozinha enquanto o mundo lá fora se desmorona. Porque também é isso que é ser humano — procurar beleza mesmo no meio do escombro.

Kim Decker
Alina Gross
Se o mundo está a arder, que ao menos brindemos com qualquer coisa que brilhe no copo. Que, entre um suspiro e outro, nos permitamos ser frívolos. Porque às vezes, é no gesto mais inútil que mora o último fio de esperança.
Publicado originalmente na edição Summertime Daydream, de julho/agosto 2025. For the English Version, click here.
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